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Cafu e a Copa: eterno capitão abre o jogo em entrevista ao iBahia

Ex-lateral rechaça comparações entre times de 2002 e 2014, critica organização brasileira para o Mundial e bota fé no hexacampeonato

• 19/05/2014 às 21:08 • Atualizada em 02/09/2022 às 3:24 - há XX semanas

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Marcos Evangelista de Morais, 43 anos, tem quatro Copas do Mundo no currículo. Jogou três finais do torneio de futebol mais importante do planeta e foi campeão duas vezes. Difícil não olhar para a camisa 2 que hoje é do baiano Daniel Alves e não lembrar dele: Cafu, o jogador que mais vestiu a camisa da Seleção Brasileira (149 aparições). Em Salvador para divulgar o Restaurant Week e a Fundação Cafu, o ex-lateral-direito visitou a redação do iBahia e falou sobre o Mundial de 2014 que será realizado no Brasil. Confira todas as notícias da Copa do Mundo
Entre os assuntos abordados no bate-papo, as lembranças da sua passagem marcante pela seleção, os pitacos sobre a Copa do Mundo e as críticas ao país que ainda faz os últimos ajustes antes da bola rolar. Cafu lamenta o atraso do desenvolvimento social no Brasil, mas faz a sua parte e espera que um dia as coisas mudem. Malandro, foge de polêmica na hora de comentar a divergência de opiniões entre ex-companheiros de seleção. Campeão em 1994 e responsável por levantar a taça do penta em 2002, ele bota fé no hexa e revela ter "medo" dos rivais sul-americanos. Abaixo, leia a entrevista na íntegra:
Dá para fazer alguma comparação do time de 2002 com esse de 2014?
Não, não dá para comparar. O time de 2002 foi um time campeão. Objetivo cumprido, meta cumprida. Você não pode comparar um time com outro que vai começar a disputar agora uma Copa do Mundo, não fez nenhum jogo oficial em Copa ainda. Como não podemos comparar a de 1998 com a de 1994, a de 1994 com a de 2002. São duas seleções completamente diferentes. Em 2002 tínhamos um time que já vinha jogando junto há quase oito anos. Todo mundo se conhecia, todo mundo sabia o que queria. Essa seleção é uma seleção em formação, que vai terminar sua formação agora em plena Copa do Mundo. Então, não dá para comparar uma seleção com a outra. Você pode comparar o trabalho do Felipão. O trabalho vai fazer praticamente o mesmo. Agora, se a qualidade vai ser a mesma, isso eu garanto para vocês que é difícil de explicar.
A maioria dos jogadores desse elenco atual se assemelha mais com o Cafu de 94, que estreava em Copas. Qual era a sensação?
A sensação de estar em uma Copa do Mundo é fantástica. Para um atleta profissional, ir para a Copa do Mundo, independentemente de jogar ou não, já é brilhante. Jogar ainda? Nossa, é mais fantástico ainda. Então, eu sabia que o titular absoluto era o Jorginho, sabia que eu tinha que treinar para quando a oportunidade chegasse, eu tinha que estar bem. E trabalhei para isso, para que na hora que o Parreira precisasse, na hora que ele olhasse para trás e falasse 'Cafu, você está pronto?' eu respondesse: 'estou prontíssimo'. Acabou acontecendo em plena final de Copa. Se fosse qualquer outro jogador, não estaria pronto para jogar como eu estava.
Por falar em experiência, Felipão disse que convidaria campeões do mundo para dar palestras ao elenco atual. Chamou você?
Ele não falou quem ele vai levar, mas é óbvio que nós estamos sempre prontos para ajudar a Seleção Brasileira e ajudar essa garotada que está aí. A gente sabe que, realmente, quando se fala de Copa do Mundo, precisasse de jogadores experientes, que já jogaram Copa do Mundo, até para que possa dar um pouco de tranquilidade a essa garotada.
Você jogou as Copas dos Estados Unidos, da França, da Coreia e do Japão e da Alemanha. O que você vê no Brasil que é melhor e o que pior em relação a esses países?
Em relação a estrutura não dá para comparar. Nós estamos muito atrasados em relação aos outros países. Nos outros países, nesse período antes da Copa do Mundo, já estava tudo perfeito, já testado mais de dez vezes. Infelizmente, nós estamos um pouco atrasados em relação a isso, mas o que eu vejo de bom é que com todas as dificuldades, o povo brasileiro não muda, vai ser sempre aquele povo festivo, um povo acolhedor, que vai acolher todo mundo de uma maneira muito boa. Está todo mundo querendo vir para o Brasil, isso vai ser bastante importante. Acho que o lado positivo vai ser esse. Vamos mostrar para todo mundo, que independente das nossas estruturas estarem 100% ou não, o povo brasileiro vai acabar dando espetáculo.
A Fundação Cafu existe há dez anos e você tem um brilho nos olhos quando fala dela. Como você vê o Brasil gastando muito com estádios enquanto educação e saúde, por exemplo, não evoluem?
Pelo que parece, vai continuar não evoluindo. O que é um erro. É óbvio que nós queríamos uma saúde pública fantástica, de primeiro mundo, um transporte público fantástico, de primeiro mundo, educação de primeiro mundo. Hoje nós perdemos a referência da escola. Antigamente, quando eu ia para escola, que falava para minha mãe que estava indo para escola, ela dizia 'graças a Deus, meu filho'. Hoje, as crianças vão para escola, as mães falam: 'pelo amor de Deus, meu filho, cuidado'. Os valores inverteram. É óbvio que as necessidades do nosso país, saúde, transporte, educação, comunicação, a gente sabe que precisa disso, mas estamos a menos de um mês da Copa do Mundo. Vamos, em um mês, priorizar a Copa do Mundo, depois desse um mês, vamos priorizar aquilo que a gente mais precisa. Independente da Copa ou não, vai continuar. Se nós não batermos firme depois da Copa, vamos ficar discutindo esses problemas daqui a 15 anos. Terminou a Copa, vamos para rua, vamos manifestar, mas vamos para que? Saúde, educação, transporte, segurança, para que a gente possa tentar melhorar um pouco esse quadro, que é muito ruim no nosso país.
Ex-companheiros seus hoje protagonizam papéis distintos. Ronaldo e Bebeto são do Comitê Organizador Local da Copa (COL) e Romário é deputado federal. Como você enxerga os embates entre eles?
O papel do Bebeto e do Ronaldo é mostrar tudo aquilo que tem de bom no nosso país, e tudo aquilo que o COL pode fazer. O papel do Romário é mostrar o que tem de errado no nosso país e tudo aquilo de errado que o Ronaldo e o Bebeto estão vendo. São dois extremos completamente diferentes. O que eu acho legal é que são ex-jogadores que estão brilhando, independente de estarem dentro do campo do futebol ou não. É o prestígio que tem o Bebeto, o prestígio que tem o Ronaldo, é o poder que tem o Romário hoje na política, que pode melhorar algumas coisas que estão erradas. Precisamos de pessoas desse tipo também. Eu não critico o trabalho do Ronaldo, nem do Bebeto, nem do Romário. São trabalhos distintos. O Romário tenta fazer o dele da melhor maneira possível e o Ronaldo e o Bebeto o deles.
O que você tem a dizer sobre Daniel Alves e Maicon, laterais que brigam pela camisa 2 que você vestiu?
O Brasil está bem servido na lateral-direita, tanto com o Maicon como com o Daniel Alves. O Daniel Alves já vem demonstrando há muito tempo que é um jogador de qualidade, jogador técnico, jogador responsável, e tem a confiança do Felipão, que é o mais importante. Tanto ele fez isso no Barcelona, como vem fazendo na Seleção Brasileira. O Maicon teve um período difícil, machucou, mas voltou a forma física, está bem na Roma. É outro atleta que tem condições de ser titular da Seleção Brasileira.
Já teve uma conversa de capitão para capitão com o Thiago Silva?
Não, ainda não. Não tivemos a oportunidade. Se houver, não tem nada demais.
É diferente o trabalho do capitão?
Não, absolutamente não. Ele virou capitão pelo que vinha fazendo no clube. Na seleção não tem que mudar, só tem que fazer força no braço para erguer a taça, que é pesada (risos).
Em 2002 você usou a braçadeira, mas dividiu as funções de capitão com outros jogadores. Como isso ajudou?
Nossa! Ajudou muito. A gente dividia responsabilidade. Cada um sabia da sua responsabilidade. Nunca sobrava para uma única pessoa. Claro que todas as responsabilidades depois têm um filtro. Vai passar pelo capitão, que depois vai levar esse problema ou solução às pessoas que podem resolver. Mas quando você divide responsabilidade, é muito mais fácil.
Com esse time, é possível ser campeão?
É óbvio que sim. É possível, como é possível qualquer seleção. Mas o Brasil está no caminho certo, é uma seleção que vem de grandes jogos, vem em uma ascensão muito grande depois que ganhou a Copa das Confederações. Até a Copa das Confederações a Seleção Brasileira estava desacreditada, por todo mundo, talvez até por eles mesmo. A vitória fez com que o povo brasileiro acreditasse, fez com que o Felipão acreditasse, fez com que os atletas acreditassem. Então, é uma seleção ótima que tem plenas condições de ganhar a Copa.
Em 1994 e 2002, a seleção chegou na Copa sob desconfiança e venceu. Por outro lado, chegou badalada em outras épocas e perdeu. Há alguma receita para a geração de 2014 não cair nessa?
É acreditar que não vai ser fácil. Já ganhou não existe mais no futebol. É trabalhar seriamente, dedicando, não menosprezando o adversário, sabendo que todo adversário vai querer ganhar da Seleção Brasileira. Tem muita seleção que vem para uma Copa do Mundo não para ganhar, vem para ganhar do Brasil. Se você ganhar do Brasil, já é festa no país. As responsabilidades são diferentes. A responsabilidade da Seleção Brasileira é ganhar a Copa do Mundo e a responsabilidade de alguns outros times é só ganhar da Seleção Brasileira. É não cair na tentação, é saber que vai enfrentar adversários que vão querer só ganhar do Brasil, aí de repente fica mais difícil.
As seleções sul-americanas são as maiores adversárias do Brasil na Copa?
Sem dúvida. Tenho mais medo das seleções sul-americanas do que europeias, africanas, asiáticas... Sem dúvida nenhuma. Colômbia, Uruguai, Chile, Argentina, vão dar muito mais trabalho do que Alemanha, Holanda, Itália, Espanha, França... Você não tenha dúvida disso. Eles estão acostumados a jogar com a Seleção Brasileira. Eles estão acostumados com o clima do Brasil, com o ambiente do Brasil. As eliminatórias sul-americanas é uma das mais difíceis do mundo. O Brasil mesmo por duas vezes classificou no último jogo. O Uruguai foi fazer o jogo de repescagem. É muito difícil. Eles estão acostumados. É mais difícil. Para uma seleção europeia, se perder no Brasil, perdeu no Brasil. É normal. A sul-americana não. Tem a rivalidade, que deixa o jogo mais difícil ainda.
O que o Cafu vai fazer na Copa?
Vou trabalhar pra caramba, em todos os jogos. Vou fazer quase todas as 12 sedes. Vou trabalhar entre a Fifa, a televisão e os patrocinadores. Vou ver quase todos os jogos.

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