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Como lidar com as acusações e julgamentos virtuais

Bruna Marquezine e Mariana Goldfarb já lidaram com a situação

Redação iBahia • 19/09/2018 às 19:58 • Atualizada em 01/09/2022 às 0:44 - há XX semanas

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A internet, o mesmo tribunal que julgou a magreza de Bruna Marquezine, “quebrou” ao ouvir o depoimento sincero da atriz sobre beleza, saúde e, acima de tudo, autoaceitação. Criticada em relação ao corpo, ela rompeu o silêncio e disse em vídeo que já teve depressão e distúrbios alimentares, num discurso empoderador que repercutiu por todo lado. Com mais de 31 milhões de seguidores no Instagram, Bruna não é exceção. Recentemente, durante férias com a família na Costa Rica, o jogador de futebol americano Tom Brady foi parar no “banco dos réus” por não exibir um tanquinho na praia. “Espera. Esse é o corpo de Brady, que se parece com o meu. Não esperava que meu super-herói fosse como eu”, bradou um detrator no Twitter. A apresentadora e modelo Mariana Goldfarb também mobiliza a web sempre que posta uma foto em que suas sobrancelhas estão em evidência.

— Cheguei a ficar doente com as críticas sobre minha aparência — conta Mariana. — Sentia fome e não conseguia comer uma folha de alface sequer por não me achar magra o suficiente. O julgamento nas redes sociais me gerou uma ansiedade enorme, acabei me sabotando e isso foi triste. Um dia, parei diante do espelho e me dei três tapas na cara para acordar para a vida. Depois desse episódio, passei a usar os meios digitais para ajudar outras pessoas. A perfeição é um saco e não existe. O importante é o caráter e a generosidade, não se sua sobrancelha direita tem cinco fios a mais.

Foto: Reprodução

Os juízes da internet não estão dispostos a bater o martelo apenas para famosos; qualquer um que esteja na rede está sujeito a receber uma sentença. Dono do blog de viagens “Esse mundo é nosso”, o jornalista Adolfo Nomelini evitou durante muito tempo colocar o rosto na frente da câmera por medo de comentários negativos. A insegurança, segundo ele, vinha dos óculos de lentes grossas que usa desde os 3 anos (hoje, ele tem 30) por causa da hipermetropia.

— Aos poucos, comecei a interagir com meus seguidores na ferramenta Stories do Instagram, e ninguém falava nada de anormal. Até que, numa segunda-feira, recebi a seguinte mensagem: “Mano, por favor, não apareça nos vídeos, susto da p***”. Eu, que estava me sentindo forte, desabei. Fiquei com vontade de chorar, me esconder. Minha autoestima estava no chão — relembra Adolfo.

Mais calmo, o jornalista resolveu responder publicamente a colocação do detrator, informando que continuaria a compartilhar seus vídeos:

— O que me deixa aborrecido é pensar que esse cara gastou dez segundos para fazer isso, sem cogitar as consequências. Esses dez segundos poderiam ter mudado minha vida para sempre. E, de certa forma, mudou, porque nunca irei esquecer. Mas a internet é justamente isso: um lugar para democratizar a aparência e as opiniões.

Para o psicanalista Mario Louzã, as críticas caminham ao lado da exposição excessiva da era digital:

— Falta uma conscientização, muita gente se acha anônima na rede, acreditando que o mundo virtual é uma grande brincadeira. Mas não dá para enxergar o cenário dessa maneira, quando já tivemos casos com finais terríveis.

Sentimentos extremos
O anonimato na internet, segundo Carlos Affonso Souza, professor de Direito da UERJ, é uma “raridade”:

— Os usuários acham que perfis falsos ou nomes fantasias as protegem de serem descobertas. Isso é um equívoco. As redes sociais são um espaço de liberdade, mas também de controle, podemos ser identificados pelo endereço de IP utilizado. Os tribunais nacionais estão repletos de decisões em que a pessoa disse algo ofensivo acreditando que não daria em nada. Além de ações de natureza criminal (calúnia, injúria e difamação), o mais comum são as indenizatórias (de natureza civil) por danos materiais e morais. Vale conhecer os termos de uso e utilizar essas regras a seu favor. Denunciar o que for conteúdo proibido. Para as redes sociais se tornarem um espaço cada vez melhor para se comunicar, é preciso lutar e não apenas desistir.

No âmbito comportamental, Fabro Steibel, diretor executivo do ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade), considera uma tendência do ser humano analisar a própria conduta observando a do outro.

— Na rede social, estamos protegidos para fazer esse tipo de julgamento moral, que talvez não fosse feito presencialmente. O distanciamento da tela favorece o juízo — opina Steibel, destacando que esses comentários geralmente parte de quem nutre sentimentos extremos. — Ou amam ou odeiam demais, podem reparar.

Para o diretor, o tribunal da internet beira o linchamento, já que a resolução do caso é precipitada:

— É também um local de monitoramento de boas práticas, o que é considerado por muitos como “mimimi”. É importante deixar claro que a politização é saudável, pois só problematizamos algo se queremos mudança. Então, quando falamos da “magreza” de Bruna Marquezine, estamos debatendo diversas questões, como a anorexia e outros distúrbios alimentares.

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Ajuda médica
Doutor em Ciência da Informação, Carlos Nepomuceno avisa que estamos no meio de uma revolução civilizatória e que este tribunal tido como cruel é um sintoma dessa transformação, relativamente nova.

— Em uma década, deixamos de ser apenas consumidores de informação e viramos mídia. No entanto, nem todos tiveram formação para ocupar a posição. É como se tivessem entregado um carro na mão de quem não tirou carteira. Aí é gente avançando sinal, batendo no colega, subindo na calçada. Estamos nos autoeducando e, lentamente, evoluindo. Milhões de pessoas não tinham voz e agora podem falar, é possível imaginar no que isso daria. Mas garanto que é um caminho sem volta — comenta Nepomuceno.

O psicólogo Alexandre Trzan Ávila concluiu que o maior problema é a falta de abertura para o diálogo:

— A intolerância é um prato cheio para a pancadaria. Algumas pessoas mais sensíveis não conseguem lidar com essa agressividade. Há 20 anos, as mídias sociais não seriam dessa maneira. Hoje, existe uma defesa da moral exacerbada e menos senso crítico. Um post, por mais absurdo que seja, é tomado como verdade absoluta.

Ávila diz que é necessário procurar ajuda médica ao perceber a ausência de capacidade para suportar a carga:

— Para quem é alvo de críticas e não consegue parar de sofrer com isso. Um psicólogo pode ser interessante. Um conselho amigo ou um abraço provavelmente não irão reverter o quadro, um profissional pode auxiliar de um jeito mais eficaz, já que está ali para ultrapassar a barreira de “certo ou errado”.

Após ataques virtuais, a empresária e influenciadora digital Shantal Verdelho, grávida de 23 semanas, tomou uma decisão radical:

— Fui criticada por mulheres ao relatar as dificuldades do começo da gestação. Não precisei de um analista, mas parei de ler as mensagens. É aquela máxima: o que os olhos não veem, o coração não sente.

Carlos Affonso Souza ressalta que as redes sociais são mais uma etapa na constantes modificações que experimentamos na maneira de nos comunicar:

— O que muitas vezes não percebemos é que o meio molda a forma pela qual nos expressamos.



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