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Mulher perde visão de um olho após tomar golpe de cassetete de policial

Cozinheira foi agredida durante show do Olodum, no Pelourinho

• 27/01/2012 às 9:15 • Atualizada em 31/08/2022 às 22:50 - há XX semanas

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Ao sair do Hospital do Subúrbio, na manhã de ontem, depois de cinco dias sem olhar a rua, a sensação da cozinheira Almerinda Santos das Neves, 34, foi de um incômodo estranho. E, a partir de agora, por um bom tempo, ver pessoas e objetos e será assim: estranho. Almerinda perdeu a visão do olho esquerdo ao ser agredida por um policial, na noite do último dia 22, durante a 31ª edição do Festival de Música e Artes do Olodum (Femadum), no Largo do Pelourinho. Na recepção do hospital, com algumas gotas de sangue escorrendo pelo rosto, ela ainda está perplexa. Enquanto dançava na festa de domingo, foi surpreendida, por volta das 19h30, pelo golpe de cassetete de um dos três policiais que, segundo ela, começaram a bater em pessoas que estavam próximas, sem nenhum motivo aparente. “Eles já tinham dado choque em um vizinho nosso, dizendo que ele estava bagunçando. Mas ele não tava fazendo nada! Levaram e 15 minutos depois trouxeram de volta. Aí uns 40 minutos depois, começaram a bater nas pessoas. Vi o policial vindo com o cassetete, senti o golpe, mas nem entendi o que estava acontecendo”, diz, garantindo que não havia nenhuma confusão no momento da ação policial. Achando que só machucou a testa, perdeu os sentidos. Só acordou no hospital. Os amigos e parentes que assistiram ao ato, no entanto, sabem o que aconteceu após Almerinda ir ao chão. “Abriu uma roda na multidão e ela caiu no meio. Viram o policial, quando percebeu o estado dela, botar a mão na cabeça, como quem diz: ‘Meu Deus, o que eu fiz?’”, conta a sua irmã, Rosilda das Neves, que estava a poucos metros da cena.
Cozinheira foi agredida durante show do Olodum, no Pelourinho
Ela ainda viu a equipe ser rapidamente trocada por outra, que teria reagido mal às queixas dos familiares. “Nos empurraram, enquanto a gente dava o socorro, porque começamos a reclamar da agressão”, acrescenta. Mesmo com diversas testemunhas, Rosilda lembra de uma câmera, instalada próximo ao Colégio Estadual Azevedo Fernandes, que por sua localização, deve ter captado imagens do ocorrido. “Quem tiver acesso a essas imagens verá o que aconteceu”. O coordenador do seTor de Comunicação da Polícia Militar, capitão Marcelo Pita, explica que não houve qualquer registro ou manifestação sobre o caso. “Precisamos que ela, através da Ouvidoria ou presencialmente, entre em contato conosco para que possamos obter informações e fazer a averiguação para identificar a patrulha, já que todos estavam com identificação. As imagens gravadas em vídeo são inclusive uma peça de informação que pode colaborar com as investigações”. PesadeloChegando ao Hospital Geral do Estado (HGE), o pesadelo de Almerinda prosseguiu. “Ela ficou lá jogada no corredor. Toda hora alguém vinha e olhava, mas só quando uma conhecida nossa que trabalha lá interferiu, conseguimos atendimento”, reclama Rosilda. Segundo ela, no HGE foi feito um exame de sangue, uma tomografia e uma sutura superficial. “Nem o rosto dela limparam direito. No dia seguinte, ela ainda estava com o rosto sujo de sangue”. Na terça-feira, ela já iria receber alta, sem a confimação da cirurgia. Novamente, com a ajuda da amiga, conseguiu a transferência para o Hospital do Subúrbio, onde enfim se alimentou e foi encaminhada para a cirurgia. Almerinda rompeu a parte inferior e superior das pálpebras e do globo ocular e ainda partiu um osso da face. “Antes da notícia, ainda tinha esperança de voltar a enxergar”, afima ela. Mas ao se confirmar a perda da visão, Rosilda diz que a irmã “ficou calada, não esboçou nenhuma reação”. Já em casa, Almerinda resume sua impressão ao se ver no espelho: “Horrível!”. Ainda sem palavras, ela se revolta: “Perdi minha visão de uma forma brutal. Eles estavam ali para proteger, não para agredir”. Na próxima quarta, ela voltará ao hospital para uma revisão, podendo tentar a colocação de uma prótese no prazo de 45 a 60 dias. Família pensa em processar o EstadoAlmerinda trabalha para um buffet, fazendo doces e bolos por encomenda, e lamenta o tempo que vai ficar parada. “Agora não vou poder usar forno industrial por um bom tempo”, diz ela, que conta com o apoio das três irmãs, com quem mora no bairro de Santa Cruz, e do irmão, Raimundo Araújo das Neves, que está correndo atrás das providências. “Ainda estamos nos informando sobre o procedimento a ser tomado e depois provavelmente entraremos com um processo contra o Estado. Não tenho medo nenhum, essa situação precisa ser denunciada”, diz. Até o momento, a família não fez o registro da ocorrência, mas está inconformada. “É preciso fazer justiça”, diz a sobrinha Sandrine das Neves Silva, 18 anos. Ladrões agem em show no PelôA pancadaria não foi a única situação que marcou o show do Olodum no Largo do Pelourinho. Pior, mas dolorido como um soco, foram os roubos. Mesmo desarmados, os bandidos foram os donos da festa. Eles aproveitaram a confusão para fazer saques, algumas das ações percebidas pelas vítimas, que, impotentes, só assistiam apavoradas. Um grupo de seis pessoas, das quais cinco eram músicos de Alagoas, conheceu o pior lado da festa. Durante o empurra-empurra e a troca de tapas, promovidos por cerca de 15 homens, um deles teve a carteira e uma corrente de prata roubadas. Outras duas pessoas do grupo também foram lesadas pelos ladrões. Além de policiais militares, o local é monitorado por olhos eletrônicos (câmeras) da PM, mas nem a tecnologia com o possibilidade de delação foi capaz de intimidar os bandidos. A confusão e assaltos em dias de festa no largo são situações constantes, pontuam os comerciantes. “A maioria dos ladrões é formada por jovens que moram nos arredores do Centro Histórico. São usuários de crack, que roubam só para manter o vício”, declara Fernando Pires Mota, proprietário de um bar no Pelourinho. Segundo o capitão Pita, 17 pessoas foram presas ou conduzidas à delegacia durante a festa, por motivos que vão desde envolvimento em brigas até suspeita de furto ou roubo. Neste sentido, Pita observa que é importante investigar o caso para saber até que ponto houve ou não contribuição para que a suposta agressão acontecesse. “Se a ação se caracterizar como equivocada, cabem aos envolvidos medidas administrativas e até penais cabíveis ao caso”.

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