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Para incluir na lista de séries para assistir: conheça 'Vinyl'

Vinyl é uma série de televisão drama de época americana criada por Mick Jagger, Martin Scorsese, Rich Cohen e Terence Winter

• 22/04/2016 às 10:43 • Atualizada em 28/08/2022 às 19:32 - há XX semanas

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[ATENÇÃO: HÁ SPOILERS] A década de 70 nos EUA foi um período fervilhante: nos cinemas, os diretores da Nova Hollywood esbanjavam poder perante os estúdios, resultando em clássicos como O Poderoso Chefão, Apocalyse Now! e Taxi Driver, filmes que casavam com uma juventude desiludida, altos índices de criminalidade, recessão, drogas e uma crueza que rondavam as ruas sujas e cheias de mendigos das metrópoles americanas.

Essa sujeira e intensidade respingavam no lado musical, onde a contracultura explodia suas angústias e, por outro lado, as minorias sociais rebolavam em porões de onde uma batidas eletrônicas premeditavam uma outra onda que tomaria grande parte da década de assalto.

É nesse contexto em que está Vinyl, série produzida por Martin Scorsese e Mick Jagger, ambos connoisseurs da agitada época regada a música, cultura e drogas; e também com a presença de Rich Cohen e do showrunner Terrence Winter, que desligou-se nas última semanas de exibição do programa da HBO.

Na trama, Richie Finestra (Bobby Cannavale), um ítalo-americano (Martin?) é o presidente da American Century, gravadora que carrega com os sócios Zak (Ray Romano) e Skip (J. C. MacKenzie). A empresa está em derrocada, assim como o dom do seu principal acionista, que é o de descobrir bandas de talento. Aliado a isso, Finestra tem problemas com álcool e drogas, que complicam sua situação familiar com Devon (Olivia Wilde), sua esposa.

Finestra corresponde a mais um membro da era dos ”homens difíceis”, grupo cujos baluartes são Walter White (Breaking Bad), Tony Soprano (Sopranos) e Don Drapper (Mad Men). Ouso dizer que Vinyl funciona tranquilamente como uma continuação da última série citada, com um personagem brilhante porém errático e que procura o seu lugar no mundo, além de boa parte da produção passar-se em um escritório e/ou em torno da música como negócio.

Parte do elenco.Parte do elenco.

A estrutura de Vinyl, embora seja mais dinâmica, carrega a mesma densidade proposta na produção de Matthew Weiner, o que potencializa o suposto erro de no primeiro episódio apostar em praticamente duas horas, afastando possíveis espectadores. Mas com momentos cujo absurdo torna-o delicioso – há uma cena que lembra a famosa aparição de Alfred Molina em Boogie Nights (1997), e o assassinato proveniente desta é o motivador psíquico da trama no seu primeiro ano.

Finestra carrega a temporada com grande intensidade, transmitindo charme e garbo que um empresário da música tem que transmitir; os momentos de orgia em drogas são o ponto alto, em que combinado com uma direção competente dos diversos profissionais que atuaram nos 10 episódios deixaram o protagonista extremamente ameaçador. Um adendo para a fotografia e a direção: ao tratar-se de uma série de época, há uma esperteza na fuga de uma solução preguiçosa em emular os cacoetes cinematográficos da época – o zoom forçado é utilizado com parcimônia em momentos específicos – e que funcionam, como nos minutos iniciais de Cyclone (ep 6). A fotografia também se permite ao uso razoável de filtros que ajudam a transmitir o ar carcomido da cidade e da época, enquanto o figurino é responsável por criar cada personagem único, o que realmente acontecia devido à liberdade fashionista da época: por isso podemos facilmente identificar quem é punk, quem usa “early sixties”, glam entre demais definições.

O roteiro sustenta-se muito no personagem de Cannavale e na espiral de destruição que sua vida traz: passamos pela decepção dos seus sócios e amigos na recusa de venda para a Polygram; a vida com Devon – que já inicia a série com um espaço negativo de desilusão devido aos vícios; a relação destruída com um talento descoberto de outrora, Lester (Ato Esandoh); envolvimento com mafiosos – Scorsese deixando sua marca no roteiro – e durante os episódios só acumulam desafetos, tornando a relação com o protagonista dicotômica: como um personagem tão carismático consegue ser tão cretino? E como a gente ainda torce por ele? Não à toa, esse karma destrutivo é simbolizado nos últimos minutos do primeiro episódio com o colapso do edifício – o Mercer realmente caiu em 1973 – e que rima com a simbólica destruição da antiga American Century – e da amizade com Zak.

Rich e Lester em uma cena do passado.Rich e Lester em uma cena do passado.

Embora baseie-se livremente no início dos ’70s e tenha alguns lugares míticos como o Max’s Kansas City, Vinyl não ancora tantos elementos históricos em seu roteiro, mas utiliza os artistas como millestones: é um delicioso fan service nos batermos com Alice Cooper, Led Zeppelin, Lou Reed e o Velvet Underground, John Lennon, Bob Marley e Peter Tosh, Elvis, Bowie (em um lindo episódio que homenageia o artista), Ramones, entre outras figuras notórias.

Os plots de Jamie (Juno Temple) e de Clark (Jack Quaid) representam as vertentes musicais indicadas anteriormente: a personagem de Jamie, a distribuidora de drogas na empresa e inicialmente secretária apresenta uma trama pessoal fraca e pouco explorada com a sua mãe, que apresenta um preconceito ao universo musical, sofrido até hoje por quem escolhe viver em prol do ofício. Sua personagem ganha estofo ao emendar com a trama de Kip (o estreante James Jagger, filho do cantor dos Rolling Stones), líder da banda Nasty Bits em que Jamie vê potencial e aventura-se como A&R – Artistas e Repertório, divisão responsável por procurar e assessorar talentos. A performance de Juno Temple é tímida para uma mulher que quer se provar em um meio machista, mas é interessante perceber seu modo de resolver sua carência familiar adentrando em uma relação profissional/amorosa que tem um imenso potencial destrutivo.

Jamie (Juno Temple) e Cece (Susan Heyward).Jamie (Juno Temple) e Cece (Susan Heyward).

Além de Jamie, temos as mulheres interpretadas por Olivia Wilde e Annie Parise: a Devon, personagem que pertenceu na trama à The Factory (seleto grupo de pessoas próximas a Andy Warhol nos quais Grace Jones e Lou Reed eram membros), poucos momentos são reservados, mas é possível perceber sua angústia e tensão enquanto residia com Finestra e como esse anseio pela vida e independência de outrora existe mesmo após a separação, como numa espécie de reaprendizado da sua antiga vida voltada ao glamour e a contracultura. Já Andrea é mais uma prova da falta de generosidade que a série tem com seus personagens orbitais, uma vez que ela promete um frescor na American Century que é subaproveitado. Espero ver mais das duas na próxima temporada.

Devon e Finestra no primeiro episódio.Devon e Finestra no primeiro episódio.

Clark é melhor desenvolvido na segunda metade da temporada, quando a crise na American acentua-se e a sua posição meio que inverte com a de Jamie, trabalhando no setor de encomendas e tornando-se o único branco da divisão. Seu ponto de virada aparece no último episódio, onde já conquista respeito perante os colegas e já frequenta as boates, opção muito mais baratas para uma população excluída e paupérrima, que não tinha grana para ver concertos; e é testemunha do nascimento da onda Disco, evangelizada pelos DJs e representada na trilha pela música “Soul Makossa”, do africano Manu Dibango (lançada em 1972), considerada o primeiro hit do gênero. A trilha é de uma curadoria extremamente cuidadosa, aproveitando sons de eras anteriores e contemporâneas que permite passearmos por Jackson 5, Dee Dee Warnick, rock, blues, funk e afins. Uma área tranquila ao pensarmos nos dois principais produtores da série, onde Martin carrega diversos trabalhos na área como The Last Waltz (1978), Shine a Light (2008), George Harrison: Living in the Material World (2011) entre outros; e Mick… bem, é o front man dos Rolling Stones!

Scorsese no set de um dos episódios.Scorsese no set de um dos episódios.

O discurso final de Finestra fecha a simbologia por trás das passagens musicais envoltas em personificações dos artistas: aqui compreendemos que os personagens ainda seguem o espírito dos “jovens perdidos que precisam ouvir que eles não estão sozinhos”. É Karen Carpenter, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Janis Joplin entre outros que acompanham Richie e Devon.

E as passagens musicais, envoltas em personificações dos artistas é fechada no discurso de final de temporada de Richie onde apresenta um amor à música e o porquê do nome Álibi Records: “em que toda geração esta cheia de jovens perdidos, ferrados que precisam ouvir que não estão sozinhos” e a premissa é coroada na estética que segue a abertura do Nasty Bits ao show do New York Dolls, direção de arte e flares semelhantes às passagens citadas anteriormente – reparem que a apresentação de Hannibal, como artista pronto e influente, também segue essa linha visual.

Não menos expressiva é a penúltima onde rola uma inusitada conversa de bar entre Finestra e Hilly Kristal, futuro dono do CBGB; ou seja, será que teremos Iggy Pop, Blondie, Patti Smith e Television na próxima temporada? E de dentro dos inferninhos sairão Donna Summer, Village People, Sylvester, Chic e demais personas? Só a segunda temporada de Vinyl apresentará. E estou extremamente ansioso.

Cinemáticos Redação Cinemáticos

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