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Vai assistir 007 Contra Spectre? Confira crítica do filme

Uma enigmática mensagem do passado de James Bond o coloca numa investigação sobre uma misteriosa organização criminosa

• 12/11/2015 às 9:50 • Atualizada em 30/08/2022 às 18:45 - há XX semanas

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Cinemáticos Redação Cinemáticos
Há mais de cinquenta anos que pode se considerar praticamente impossível assistir a um filme de espionagem que não beba direta ou indiretamente da fonte da maior franquia cinematográfica do subgênero. A franquia 007, focada nas missões do agente James Bond (este que dispensa apresentações), evoluiu a um momento de autofagia por parte de seus produtores, que, conscientes da mitologia que tem nas mãos e de seu público ávido por pistas que referenciam ao momento clássico de sua história, apresentam um longa-metragem estufado daquilo que chamamos de “fan service”. Em 007 Contra SPECTRE, lançado 53 anos após o debut de seu primogênito, vemos um filme, que mistura (com um certo exagero) referências de seus 23 irmãos mais velhos com a dinâmica do mundo atual. Aliás, é importante pontuar, que desde a entrada de Daniel Craig na franquia, onde pode se notar uma espécie de reboot, as absurdas peripécias da Era de Pierce Brosnan são deixadas de lado para dar lugar a um universo mais maduro e reflexivo. Um contraste maior na fotografia, sem medo de granular suas cenas sombrias e uma câmera na mão corajosa, refletem a personalidade iniciada em “Cassino Royale” (2005), subutilizada no pobre “Quantum of Solance” (2008) e consagrada no memorável “Skyfall” (2012).
A escolha de usar a SPECTRE, agência terrorista apresentada em 1962 em “O Satânico Dr. No” cujo arco foi encerrado prematuramente em 1971 em “Os Diamantes são Eternos” foi extremamente acertada e amarra certas pontas deixadas em aberto na Era Daniel Craig.Importante enfatizar a contextualização da organização no mundo atual, que deixa seus artifícios fantasiosos como tanques de tubarão e mísseis da morte para dar lugar a reuniões discretas e silenciosas mergulhadas nas sombras e ações visceralmente mais violentas para se harmonizar com o tom estabelecido por esta nova fase. O mundo das grandes empresas, os grandes cartéis que controlam a vida nesta sociedade globalizada é exposta de forma sutil e busca envolver o espectador ao tratar de temas palpáveis em seu próprio universo. A dimensão internacional do projeto, a escala de suas cenas e a montagem pautada no suspense inclui em sua dinâmica narrativa uma certa tendência apresentada por Alfred Hitchcock em algumas de suas produções dos anos 50 (“Intriga Internacional”, “O Homem que Sabia demais”) assim como já se fazia na decupagem dos primeiros filmes do espião. O plano sequência que abre “007 Contra SPECTRE” demonstra uma capacidade de síntese ao apresentar o ambiente, o problema e seu protagonista em sua busca por solução sem a necessidade de um único corte, deslizando sua câmera de forma calma pela Cidade do México em uma velocidade que emula a própria tranquilidade certeira e objetiva de seu protagonista. A própria sequência lógica de pistas e recompensas, que impulsionam a investigação do agente é traçada de forma exemplar, do micro para o macro, iniciando seu ponto de interrogação em um anel até finalizar sua jornada naquilo que chamamos no universo de video-games como o “Chefão de Todos”.
Infelizmente, essa tentativa pretensiosa de abarcar tantos elementos marcantes ao longo da franquia parece enfraquecer as relações interpessoais de seus personagens. Para um personagem reconhecidamente frio como James Bond, o enlaçamento afetivo é ainda mais difícil, requer um arco poderoso para uma “Bond Girl” modificar sua vida, o que, de forma mambembe, se concretiza em “SPECTRE”.A personagem de Léa Seydoux entra na trama como mais uma protégé de Bond, e mesmo com rascunhos interessantes de uma possível motivação amorosa, as escadas para atingir esse degrau superior parecem furadas, transformando a relação dos dois em um emaranhado de cenas desconexas de paixão instantânea. No mínimo, pode se considerar decepcionante esse vazio imposto no roteiro, já que neste mesmo universo testemunhamos a gradação inteligente e calculada entre a fragilidade escondida de Vesper Lynd com o imaturo James Bond de “Cassino Royale”. E não é apenas no campo amoroso que se apresenta fragilidades nessas interrelações. O grande vilão da história, interpretado por Christoph Waltz no papel que parece ter sido construído especialmente para seu estilo de atuação verborrágica, indica uma relação pessoal anterior com Bond, protagonista de suas motivações “maléficas”. Em um filme onde a lógica parece prevalecer sobre o passional, fica desarmônica a escolha de uma razão emocional para explicar o conflito inteiro do longa, transpirando uma certa falta de criatividade em um filme que, assim como diversos outros das Eras anteriores, prefere colar seus fios com durex ao invés de amarrar tudo em um nó firme e convincente. O diretor Sam Mendes (Também responsável por “Skyfall”), se despede da franquia com a consciência de ter colocado sua marca artística e autoral, sendo sem dúvidas o melhor diretor que colocou as mãos em um roteiro da série. Dito isso, acho importante comentar que o filme funciona mais como peça concluinte da quadrilogia, e por si só apresenta uma série de fragilidades no que tange o desenvolvimento emocional de seus personagens e as relações instantaneamente absurdas que ele constitui. “007 contra SPECTRE” é como um irmão caçula que vive a imitar os membros da família de forma caricata e exagerada para chamar atenção para si, e mesmo constantemente escorregando em bobagens, consegue enganar os pais com seu sorriso apelão.

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