Dentro do Brasil há muitos Brasis. Alguns que têm dado certo, outros que têm dado errado. A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, feita ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou os pontos fracos e fortes da economia nacional.
Economia do país inicia mal o ano, cresce apenas 0,6%, frustra previsão, mas Guido Mantega vê ‘qualidade no crescimento’ |
Na balança, o país tem ficado praticamente no zero. Enquanto o PIB cresceu apenas 0,6% no trimestre, na comparação com o último trimestre do ano passado, abaixo do esperado pelo governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou os resultados negativos (leia mais na página 15).
Mas, afinal, quais têm sido os pontos fracos e os pontos fortes do país? O professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, considerou que o destaque negativo da economia continuou sendo a indústria no primeiro trimestre.
“O setor industrial teve uma queda de desempenho acumulado muito ruim. A falta de competitividade na nossa indústria reflete sobretudo na balança comercial (a diferença entre o que é exportado e importado num país)”, afirmou. “O que acaba ocorrendo é um aumento menor das exportações do que das importações”, completou.
“O resultado negativo foi puxado pela indústria extrativa mineral, que retraiu 2,1% no período”, considerou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca de La Rocque. “Nesse primeiro trimestre, houve várias paradas de plataformas de petróleo, que tiveram que fazer manutenção”, analisou.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, classificou como “um sinal desalentador” o resultado do PIB. Segundo ele, as medidas do governo não têm surtido o efeito desejado.
Por sua vez, o setor de serviços teve desempenho positivo, mas também tendendo a zero. Como esse setor, que inclui o comércio e serviços de saúde e educação particulares, por exemplo, responde pela maior parte do produto brasileiro, o crescimento de apenas 0,5% não permitiu que o PIB brasileiro decolasse.
“A tendência é mesmo que os serviços cresçam a ritmos muito pequenos. Isso porque o endividamento das famílias se esgotou e a renda real não tende mais a subir. A inflação tende a estagnar o consumo familiar”, explicou o professor da Trevisan. Com isso, a tendência é que as famílias contratem menos serviços.
Segundo a coordenadora do IBGE, o item Outros Serviços - que inclui serviços de saúde e educação privados, além daqueles prestados às famílias e às empresas - foi o responsável por não deixar que o PIB do setor decolasse. O segmento, que responde por 22% de todos os serviços do país, caiu 0,5%.
Ainda dentro dos serviços, também foram destaque negativo o item Transportes, Armazenamento e Correio: caiu 0,9%. O item inclui a atividade do transporte de cargas, transporte de passageiros e armazenamento de produtos agrícolas, por exemplo.
Os Brasis que deram certo no primeiro trimestre dentro dos serviços foram as atividades de administração, saúde e educação pública (0,8%), atividades imobiliárias e aluguel (0,7%), comércio (0,6%) e serviços de informação (0,3%).
Agricultura
Já as principais novidades positivas foram a agropecuária e o crescimento dos investimentos. Enquanto a agropecuária registrou expansão de 9,7% do quarto para o primeiro trimestre, o investimento cresceu 4,6%, após um tombo de 4% no ano passado.
“O setor agropecuário teve uma safra muito boa no país e, inclusive, ajudou no desempenho da indústria, já que a pesquisa mede a atividade agroindustrial”, disse o professor Alcides Leite.
A coordenadora de Contas Nacionais do IBGE explicou por que, nesse primeiro trimestre, a agropecuária despontou no rol das atividades que participam do Brasil que tem dado certo. Segundo ela, a agropecuária teve seu desempenho favorecido no primeiro trimestre do ano pela combinação de dois fatores: uma colheita farta e maior produtividade em colheitas como soja, milho, fumo e arroz. “Além de um crescimento na produção dessas culturas, a área plantada não cresceu no mesmo ritmo. Isso significa maior produtividade”, explicou de La Rocque.
O professor da Trevisan considerou que o PIB brasileiro ainda está “muito baixo”, principalmente comparado a outros países em desenvolvimento. “Melhorou um pouco nos últimos trimestres, mas ainda está muito baixo”, analisou. “Vamos ter um PIB inferior a 3% este ano, mas o mais importante é que, se o investimento crescer, a gente pode apostar para melhoria nos anos seguintes”.
Segundo ele, o investimento é tudo aquilo que fará o país ter um crescimento melhor no futuro. De acordo com a analista do IBGE, o aumento do investimento no trimestre é resultado do crescimento da produção interna aliado à importação de bens de capital, como máquinas, ônibus e caminhões, por exemplo.
Para o economista Silvio Sales, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a tendência é que o crescimento no segundo trimestre seja ainda menor. “Sondagens (da FGV) mostram que o PIB não deve se manter nesse ritmo”, afirmou. Isso porque, segundo ele, os consumidores estão mais preocupados com a situação financeira, o que deve levar a um ritmo de atividade econômica mais moderado.
Outras bases
Já na comparação entre o primeiro trimestre deste ano com o primeiro trimestre do ano passado, o PIB cresceu 1,9%. Nessa base de comparação, a indústria também foi o único setor que apresentou retração, enquanto os outros dois (agropecuária e serviços) cresceram. O resultado reflete a queda de 1,4% da indústria, a expansão de 1,9% dos serviços e da alta de 17% da agropecuária.
O acumulado dos quatro trimestres apresentou evolução de 1,2% do PIB. Esse compara os quatro últimos trimestres com os quatro imediatamente anteriores. O resultado do valor adicionado neste tipo de comparação decorreu dos seguintes desempenhos: agropecuária (3,9%), indústria (-1,2%) e serviços (1,7%).
Apesar da melhora no primeiro trimestre, a previsão é de baixo crescimento em 2013. O segundo e o terceiro trimestres devem apresentar desaceleração, o que poderá ser amenizado nos últimos três meses do ano. A expectativa do mercado é de um crescimento inferior a 3% este ano. Ao fim do ano passado, as previsões eram mais otimistas e apontavam uma expansão da ordem de 3,5%. Já a equipe de Dilma Rousseff e do ministro Guido Mantega acredita em um crescimento entre 3% e 3,5%.
Nesta quarta-feira (29), o governo da Bahia também divulgou o PIB do estado. Confira os dados divulgados ao lado. Matéria original: Correio 24h Agropecuária teve destaque positivo no 1º trimestre; indústria caiu
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