O relógio marca 21h. O comerciante, que costumava baixar as portas de madrugada, decide fechar mais cedo. A ideia é aproveitar a carona de uma baiana de acarajé até em casa, no Loteamento Fonte das Águas, e evitar perigos desnecessários na mística e agora perigosa localidade de Arembepe, em Camaçari, no Litoral Norte. “Mas antes, ela liga para o filho escoltar a gente no loteamento até chegar em casa”, contou o comerciante.
Comércio também amarga prejuízos: loja vazia e restaurante fechado |
Segundo ele, a situação está cada vez mais complicada. “A maioria dos bares e restaurantes fecha às 21h porque ninguém quer arriscar”, explicou o proprietário de um bar na área central da localidade. O impacto é sentido no turismo e no comércio. “Se não bastasse a crise econômica, agora estamos perdendo os poucos turistas que ainda chegam aqui por falta de segurança”, comentou.
“Antigamente, ônibus lotados da CVC traziam turistas para cá. Hoje, não mais”, comentou Amós Lopes, 17, filho de artesão. Em nota, a operadora de viagens confirmou que “por falta de infraestrutura de apoio a turistas e por questão de segurança, a CVC não oferece mais passeios organizados por Arembepe há cerca de três anos”, e que não há previsão para o local voltar aos roteiros.
O superintendente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Salvador e Litoral Norte, Gilberto Marquezini, lamentou a situação, e reconheceu a necessidade de se reforçar o policiamento na localidade. Ele ainda se colocou à disposição para discutir a situação. “Nos colocamos contra o cancelamento e a favor de uma conversa entre comandante da Polícia Militar e a direção do CVC, na tentativa de reestabelecer a segurança”, declarou Marquezini.
Os assaltos a turistas são comuns, segundo uma comerciante. “Puxam correntes, tomam celulares. Chega a dar pena”, disse. Mas os ataques vão além da área turística. Quem quiser atravessar a passarela para o Loteamento Fonte das Águas, e não deseja ser abordado por motoqueiros, tem que passar até as 17h. “Se for depois, corre o risco de ser roubado. Eu mesma fui vítima. Há cinco dias, dois homens tomaram meu celular”, contou uma jovem, que não prestou queixa, segundo ela, por conta da distância da 26ª Delegacia, que fica em Vila de Abrantes, a 12 quilômetros.
Na famosa Aldeia Hippie de Arembepe, separada do centro por uma pequena estrada, a situação não é diferente. “Os turistas vêm de longe e acham que aqui tudo é harmonioso, mas acabam se arrependendo depois. A turma que rouba é da invasão chamada Sangradouro, que cresce ao redor da aldeia”, apontou uma moradora.
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Alguns artesãos, que também moram no local, disseram que a situação já foi pior. “Realmente, tinha um pessoal que levava pânico não só à aldeia, mas em toda Arembepe, mas a polícia agiu e hoje a situação está bem melhor. Antes, chegou ao ponto de gente andar armada”, disse o artesão Fernando Leite, 29.
Em nota, a prefeitura de Camaçari informou que não há registro de queda no turismo local por conta da violência, mas sim devido à crise econômica e à baixa estação.
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