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Baiana em Paris dá detalhes sobre dias de terror na cidade

Estudante de jornalismo da Ufba, Vilma Carla Martins está morando na capital francesa desde o Natal último por causa de um intercâmbio

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10/01/2015 às 15:44 • Atualizada em 01/09/2022 às 23:33 - há XX semanas
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Os terroristas que promoveram um rastro de sangue e pânico na capital francesa estão mortos, mas os últimos dias na França e especialmente em Paris jamais serão esquecidos. Entre sequestros, morte de policiais e chacina na redação do jornal Charlie Hebdo, 20 pessoas perderam a vida. A imprensa mundial acompanha de perto o desenrolar dos fatos: são muitas notícias, imagens e pontos de vista.Morando em Paris com a família desde o último Natal por conta de um intercâmbio, a baiana Vilma Carla Martins, estudante de jornalismo da Ufba, também dá o seu. Ela conversou, por email, com o iBahia e pôde relatar um pouco das sensações que permearam e permeiam aquele país e como os franceses e imigrantes estão lidando com os últimos episódios.Vilma conta, por exemplo, que ela e sua irmã tiveram as mochilas revistadas ao entrar em uma loja em Paris minutos depois do massacre ao Charlie Hebdo - "achei estanho, mas me convenci de que podia ser padrão" -, as manifestações de solidariedade na universidade e o 'sumiço' dos muçulmanos nas ruas da capital francesa, possivelmente temendo represálias. Abaixo, as respostas de Vilma na íntegra. Vilma Carla MartinsSou estudante de jornalismo da UFBA, estou em Paris para um intercâmbio universitário com a Université Nanterre (Paris X). Meu pai veio fazer pós-doutorado aqui, e eu e minha irmã viemos junto. Ela está fazendo curso de francês na mesma universidade que eu. Cheguei no dia 25 de dezembro de 2014. Inicialmente está previsto para que eu fique até o final de julho de 2015.Vilma mora perto do Charlie Hebdo Estou morando em um apartamento no bairro 14 com minha família. Fica perto da estação Porte d´Orleans, que é uma antes da Montrouge (linha 4), onde aconteceu o atentado. Ou seja, é perto.
Como ela soube do massacreEu estava na faculdade na hora e depois fui fazer compras no centrão de Paris (Châtelet). Vi um movimento estranho na rua, muitos policiais, as pessoas apressadas, muita sirenes, e quando fui entrar numa loja o segurança pediu para revistar as mochilas que eu e minha irmã estávamos levando. Achei estranho, mas me convenci que podia ser padrão. No metrô para casa que ficamos sabendo do que tinha acontecido, pois havia muitas pessoas falando sobre isso. Minha primeira reação foi de choque, foi muito assustador ver o que o que aconteceu e tão perto de mim. Não conhecia o jornal, mas é impossível não ficar triste e chocada, ainda mais como estudante de jornalismo. As charges podiam ser pesadas, de um humor carregado, que não é do meu gosto, particularmente, mas o radicalismo é absurdo. Como a França está lidando com os últimos episódiosBom, depois dessas notícias de hoje (sexta), dos dois acusados mortos, não sei muito bem o que falar. É difícil discutir esse assunto, pois não sou uma cidadã francesa. Fico com medo, pois em crises como essas os imigrantes são "alvos" de preconceito. Aqui em Paris tem muitos diversidade cultural e étnica. Eu sinceramente espero que esse atentado não aumente o preconceito e crie um clima de desconfiança nas pessoas. Pelo que vi por enquanto a situação está tranquila em relação a isso, mas é possível ouvir em discussões as opiniões, e como sempre há divergências. Um americano na minha classe acha que Paris não está preparada para esses ataques, uma mulher no metrô falava que não gostava de jornal Charlie e que por isso jamais colocaria "Je suis Charlie" em seu peito. Medo e insegurança em ParisPor incrível que pareça ontem (quinta) havia muita gente na rua, o metrô estava lotado e nenhum aluno faltou a aula. Mas logo que saímos para pegar o metrô de manhã vimos um tanque de guerra passando e antes de dar a pausa para o almoço a professora pediu um minuto de silêncio pelos mortos no atentado, ainda sinalizou que cresceu vendo as charges de alguns dos cartunistas do jornal. Na hora do almoço no RU, todos os funcionários se posicionaram em fila com a mão no peito em silêncio, depois um deles gritou " Nós somos todos Charlie". As pessoas pareciam tristes, silenciosas. Os amigos franceses de meu pai aconselharam a evitar sair de casa e correr na rua. Hoje, as estações estavam mais desertas, ainda havia muito barulho de sirene, e muitos policiais nas estações e nas ruas. Agora a noite o RU da cité não abriu em consideração aos acontecimentos. Houveram protestos e muitos cartazes de mobilização. No domingo haverá mais um, com alguns representantes dos Estados Europeus, e na próxima quinta também. Eu pretendo ir no domingo.O conselho geral era de ficar em casa, mas eu precisei ir a aula ontem (quinta) e hoje sai com meu pai para comprar colchão. As ruas hoje estavam mais desertas, e soubemos que foi também porque estava acontecendo um protesto na praça da Republique. Quando estamos na rua, resolvemos passar por lá. Havia muita gente, principalmente jovens, com cartazes, alguns gritavam. Mas não fiquei muito, fui só dar uma olhada. Não tem como não ficar com medo, mas não cheguei a pensar em sair de Paris. Acho que a violência está em todos os lugares. Mas alguns parentes no Brasil queriam que eu voltasse imediatamente, a imprensa fazia parecer que aqui estava acontecendo uma guerra civil aqui. Preocupação de família e amigosQuando cheguei em casa haviam muitas mensagens de amigos e familiares perguntando se eu estava bem, outros mais curiosos, perguntavam como havia sido atentado, como estava a vida na cidade. É normal, não tinha wifi fora de casa, estou longe, e um ataque como esse, tão grave e noticiado, eles ficaram de coração apertado.Imprensa local Há um sentimento de revolta e solidariedade com os jornalistas do Charlie. Não estou sentindo muito sensacionalismo, mas acho que está havendo uma grande disputa por noticias. A maioria da imprensa e das pessoas em geral está falando em liberdade de impressa e expressão.França em perigoO sentimento de insegurança permanece, mesmo com segurança reforçada, mesmo agora que os acusados foram mortos. O medo de um próximo ataque é grande. Não há como não se preocupar. Esse sentimento será amenizado aos poucos, mas como no 11 de setembro, esse caso mostra como a Europa está vulnerável a qualquer tipo de ataque terrorista.Franceses e muçulmanos Eu não vi nem ouvi nenhuma notícia sobre isso. Também não percebi nada nas ruas. O que achei estranho é que existem muitos muçulmanos em Paris, era visível nos metrôs, e na universidade ( as mulheres com véu, etc.) e nesses dois últimos dias, não vi ninguém, e olhe que passei por lugares movimentados, com muitos turistas.

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