Colocar as contas no azul. Essa é uma das principais dificuldades dos microempreendedores individuais baianos. E a preocupação com o equilíbrio financeiro faz sentido. Segundo a Receita Federal, 55,07% dos microempreendedores do estado estão inadimplentes com relação ao pagamento de impostos. A proporção é maior que a média nacional: 52,34%. Segundo a analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Mariana Cruz, o microempreendedor é o empresário que fatura até R$ 60 mil por ano e trabalha sozinho ou com apenas um funcionário. Ele tem duas obrigações. “A primeira delas é ficar atento ao pagamento mensal do boleto do Simples Nacional, independente de ter faturamento ou não. A segunda é fazer a declaração anual de faturamento, entre janeiro e maio de cada ano”, informa. Os microempreendedores devedores, segundo a Receita, estão com o pagamento do Simples Nacional atrasado. O Simples é somatório dos três impostos: INSS, ISS e ICMS. Segundo Mariana, por mês, são descontados 5% de um salário mínimo para o INSS, R$ 1 para o ICMS, quando for o caso de atividades relacionadas com a indústria e comércio, e R$ 5 de ISS, no caso de prestadores de serviço. A conta gira em torno de R$ 39 por mês para o microempreendedor. Segundo a Receita Federal, para quem deixou de pagar o imposto basta acessar o site (www.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional) para gerar o boleto com o valor devido. O órgão lembra que, caso o pagamento não seja realizado na data de vencimento (dia 20 de cada mês), haverá cobrança de juros e multa. A multa é de 0,33% ao dia, limitada a 20%, e os juros são calculados com base na taxa Selic. OrçamentoQuanto às dívidas que não forem referentes a impostos, o consultor Reinaldo Domingos diz que a falta de educação financeira é a grande responsável pela estatística que indica o percentual alto de microempreendedores com débitos. “A situação financeira pessoal do empreendedor reflete diretamente nas finanças da empresa. Então, se a pessoa não tem estabilidade na própria vida, de que jeito espera conseguir fazer com que sua empresa seja autossuficiente? Está na hora de repensar os hábitos e costumes com relação ao uso do dinheiro”, ensina o especialista. Segundo ele, há muitas maneiras de se resolver paliativamente o problema, no entanto, é preciso focar na causa. “A solução é educar financeiramente a população. A primeira coisa a se fazer é realizar um diagnóstico da condição financeira, ou seja, descobrir exatamente quanto se ganha e para onde vai cada centavo do seu dinheiro. Somente assim você saberá a real situação das suas finanças”. Depois disso, com a vida em ordem, é hora de usar o conhecimento em prol da empresa. “Planejamento leva às melhores decisões, quando se trata de investimentos”, completa Domingos. Nas empresas maiores, as questões relacionadas à carga tributária podem comprometer boa parte das finanças. “Sendo assim, é de extrema importância que haja uma conversa com o departamento de contabilidade, a fim de diminuir esses valores”, diz o especialista. Além disso, deve-se levar em consideração a administração do capital de uma empresa, como gestão de compras e vendas e o setor de créditos e cobranças. Afinal, as finanças de uma empresa não estão relacionadas, apenas, a contas a pagar e a receber. ExemploPara evitar a inadimplência, o microempreendedor Fábio Pinheiro seguiu um ritual burocrático desde a abertura do cadastro no site (www.portaldoempreendedor.gov.br) para gerar o CNPJ e paga regularmente os impostos. Campeão estadual e nacional de competições de body board, há seis anos ele pediu demissão do antigo emprego e começou a transformar seu hobby em profissão. “Eu viajava muito para competir e os amigos sempre encomendavam uma prancha, uma nadadeira, um strep (cordinha que prende a prancha no braço do surfista). Percebi que aqui em Salvador faltavam empresas especializadas nisso”, conta Pinheiro. Em 2010, assim que saiu a lei do microempreendedor, ele correu para se formalizar. “Sem CNPJ, eu não podia ter uma máquina de cartão de crédito e perdia venda por não poder parcelar valores altos. Além disso, eu não tinha uma aposentadoria garantida”, justifica Fábio, que viu seu faturamento triplicar e chegar a uma média de R$ 3,8 mil por mês de trabalho. Para obter o resultado, ele fez um outro investimento, além do cadastro como microempreendedor no Simples: uma máquina de cartão de crédito. “Pago R$ 49 por mês, mais uma taxa de 2,9% das vendas no débito e 3,9% no crédito. Ainda está alta, preciso negociar”. Precisa mesmo. Geralmente, as empresas de cartão de crédito possuem condições especiais para pequenos empreendedores. A Cielo, por exemplo, tem o Cielo Mobile, que é voltado aos profissionais liberais e funciona no celular. É só baixar o aplicativo e pagar uma taxa única de R$ 60 de filiação. Custa R$ 11,90 nos 12 primeiros meses e R$ 21,90 após esse período, além de um percentual por transação, que não é divulgado por motivos estratégicos. Na prática, o celular do lojista vira uma máquina da Cielo e o consumidor apenas digita os dados do cartão, de forma totalmente criptografada e protegida. Quase 60% das falências são de micro e pequenas Dos 885 pedidos de falência realizados no primeiro semestre de 2013, 528, ou 59,66% deles, foram feitos por micro e pequenas empresas, 226 por médias e 131 por grandes, conforme revela o Indicador Serasa Experian de Falências e Recuperações. São consideradas microempresas as que têm faturamento anual de até R$ 360 mil (R$ 30 mil por mês). As pequenas são as que faturam até R$ 3,6 milhões por ano. O número de falências requeridas entre janeiro e junho de 2013 é 9,2% menor que os 975 requerimentos realizados no mesmo período do ano passado. Quanto às falências decretadas, um total de 336 no primeiro semestre deste ano, houve queda de 1,5% em relação ao mesmo período de 2012. Vale ressaltar que as falências decretadas não refletem a conjuntura, uma vez que muitas decisões judiciais demoram até dois anos. Segundo os economistas da Serasa, as médias e grandes empresas foram mais conservadoras em sua gestão financeira, e por isso seus pedidos de falências recuaram ante igual período de 2012. Os motivos para o conservadorismo são: a inflação impactando custos; a forte correção do salário mínimo como custo; o calendário de elevação gradual do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), reduzindo os estímulos ao consumo; a tímida recuperação da atividade econômica, que também impacta as decisões de investimentos e, o aumento dos juros, que encarece o capital de giro. No caso das micro e pequenas empresas, que têm aumento das falências requeridas, além dos fatos alinhados, o crédito mais seletivo também não foi favorável. Sebrae ensina a administrar microempreendimentos As dificuldades dos microempreendedores individuais não se esgotam no pagamento dos impostos. Para orientar essas pessoas, o Sebrae oferece uma série de oficinas gratuitas. Uma delas é a ‘Sei controlar meu dinheiro’, onde o microempreendedor aprende a controlar as entradas e saídas do caixa e a separar o dinheiro do negócio do dinheiro pessoal. Já na palestra ‘Sei planejar’, o Sebrae orienta sobre estabelecer objetivos e metas, ouvir opiniões de clientes e traçar estratégias a partir delas. Também há a oficina ‘Sei comprar e sei vender’, onde a pessoa aprende a negociar com os fornecedores, obtendo melhores condições de preço e prazo, aumentando assim sua margem de lucro. Todas as oficinas têm três horas de duração. Através do site www.ba.sebrae.com.br é possível ver a programação e se inscrever em cursos a distância e até por SMS. Para se inscrever nas palestras presenciais é preciso ligar para o 0800 570 0800 ou comparecer a uma das unidades do Sebrae, onde também é possível obter uma cartilha. O Sebrae tem 32 pontos de atendimento na Bahia, sendo cinco deles em Salvador: nas Mercês, Uruguai, Boca do Rio, Liberdade e Pelourinho. Matéria original: Jornal Correio* Cerca de 55% dos empreendedores na Bahia devem à Receita Federal
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