Longas filas, espera de horas e estrutura precária. Quem ainda insiste em fazer a travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica pelo ferry-boat já conhece os problemas do sistema, mas ontem pela manhã até os mais pacientes usuários se surpreenderam. Durante uma hora e meia, segundo a Agerba, das 9h30 às 11h, nenhum dos sete barcos que fazem parte do sistema estava operando. “Nunca chegamos a nada parecido com a situação atual. Nunca ficamos sem ferry”, afirmou Antônio Carlos Pereira, 59 anos, morador de Mar Grande há 32 anos. Segundo a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações do Estado (Agerba), os ferries Rio Paraguaçu e Anna Nery funcionaram juntos até as 5h30, quando o primeiro teve que parar para regular o motor após apresentar uma falha mecânica. Quatro horas depois, foi a vez do Anna Nery sair de operação por conta de um superaquecimento no motor. O barco só voltou a fazer a travessia às 11h. O sistema ficou até o fim da tarde com apenas uma embarcação. O Rio Paraguaçu só voltou a transportar passageiros às 18h, depois de passar por vistoria da Capitania dos Portos.
Na quarta-feira, com apenas uma embarcação funcionando, a espera foi de pelo menos duas horas. Ontem, sem nenhum ferry no serviço, a Agerba garante que novamente a espera foi de no máximo duas horas. RevoltaA precariedade do sistema colocou Lenise Ferreira, 48, em apuros. Dona de uma loja em Vera Cruz, Lenise é cardiopata e passou por uma cirurgia há dois meses. Ela mora em Salvador e faz a travessia diariamente. Ontem pela manhã, a lojista se sentiu mal e se dirigiu ao terminal de Bom Despacho às 7h, mas teve que ir para a capital pela BR-101. “Ainda tinha uma embarcação funcionando, mas eles (os funcionários da Agerba) estavam mandando as pessoas irem pela estrada. Nem deixavam entrar no terminal”, afirmou Lenise. É a terceira vez que ela sente dores depois da cirurgia e tem que voltar para Salvador em busca de atendimento médico. Das duas outras vezes, ela enfrentou a fila preferencial do ferry e esperou três horas e 40 minutos, na primeira ocasião, e 5 horas, na segunda. A viagem pela estrada demora em média três horas, enquanto o ferry faz a travessia em 30 minutos. Lenise é presidente da Associação Comercial de Vera Cruz e reclama da baixa taxa de ocupação das pousadas e hotéis da Ilha durante o Verão por conta da dificuldade de acesso ao local. O argentino Carlos Miguel, 56, já pensa em vender a pousada que abriu há 15 anos em Barra do Pote. “Tivemos muitos cancelamentos. Só hoje foram dois”, afirmou Carlos. A esposa dele, Suzane Dora, 54, também trabalha na pousada e iria fazer a travessia para Salvador, ontem pela manhã. “Ela tinha uma consulta marcada há meses porque precisa fazer uma cirurgia e ainda ia resolver problemas no banco, mas não conseguiu cruzar”, disse Carlos. Para os moradores e comerciantes do local, desde que a Agerba assumiu a administração do ferry-boat, em setembro, o sistema piorou. Na ocasião, o órgão passou a controlar a travessia após intervenção na concessionária TWB, que era responsável pelo ferry-boat desde 2006. Dois meses antes de a Agerba assumir o sistema, o governo já havia pedido a caducidade do contrato de concessão. Ontem, durante todo o dia, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e a Secretaria de Comunicação Social (Secom) afirmaram que todas as informações relativas ao contrato da TWB seriam transmitidas pelo vice-governador e secretário da Infraestrutura do estado, Otto Alencar (PSD). Apesar de insistente tentativas, a reportagem não conseguiu contato com o secretário durante a tarde. Na quarta-feira, Otto garantiu que, no Carnaval, cinco ferries estarão operando. “Eu assumo a responsabilidade pelo sistema”, afirmou. No mesmo dia, o governador afirmou que o estado está disposto a pagar R$ 34 milhões na compra de dois ferries e informou que a PGE analisa dois editais antes da abertura do processo de licitação. Matéria original do Correio Com problemas no Ferry, hotéis da Ilha têm baixa taxa de ocupação, diz associação
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