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BAHIA

Clones tolerantes à “vassoura” e preços mais altos animam produtor

De uma produção anual entre 5,5 e 6 milhões de sacos de 60 quilos, o volume despencou para até 770 mil sacos

• 19/09/2011 às 10:02 • Atualizada em 27/08/2022 às 22:11 - há XX semanas

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Pacote tecnológico mais avançado será lançado pela Ceplac
Aos poucos, a zona cacaueira da Bahia começa a recuperar parte do que perdeu a partir dos anos 90, quando a doença vassoura-de-bruxa entrou nos cacauais do sul do estado, causando uma devastação física e social sem precedentes na região. De uma produção anual entre 5,5 e 6 milhões de sacos de 60 quilos, o volume despencou para até 770 mil sacos. Calcula-se que mais de 250 mil trabalhadores rurais ficaram desempregados, passando a viver de serviços precários nas cidades das redondezas. O quadro, entretanto, começa a se mostrar mais animador. A safra encerrada em abril passado contabilizou 2,556 milhões de sacos. Foi a melhor dos últimos 15 anos. Este ano, o “temporão” – o cacau produzido no período de maio a setembro – está chegando perto de 1,2 milhões de sacos. A safra principal, que começa em outubro e tradicionalmente é menor que a “temporã”, é estimada em cerca de 900 mil sacos. Embora isso ainda seja pouco em relação ao período áureo da cultura, há, pelo menos, dois fatores de otimismo. Em primeiro lugar, a vassoura-de-bruxa não é mais a grande preocupação do produtor. Apesar de não haver cura para a doença, o trabalho desenvolvido em todos esses anos nos laboratórios da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) colocou à disposição de quem produz, através de uma biofábrica e de viveiros desenvolvidos nas próprias fazendas, clones de cacaueiros tolerantes à “vassoura”. O diretor técnico-científico da Ceplac, Manfred Müller, diz que o órgão já lançou 39 clones tolerantes à doença, resultantes de anos de pesquisas com cacaueiros resistentes detectados no sul da Bahia, na Amazônia e em países da América Central. Preços atraentes Outro fator positivo é o preço. Desde 2008, as cotações estão muito mais altas. Na Bolsa de Mercadorias de Nova York, o cacau tem se mantido em torno de US$ 3 mil a tonelada, uma cotação considerada excelente, apesar da desvalorização do dólar frente ao real. Anos atrás já esteve em US$ 800. Em Ilhéus, o preço tem oscilado entre R$ 75 e R$ 80 por arroba (15 quilos). “Mas a recuperação ainda depende de um gargalo, que é o endividamento do produtor. Por causa disso, muitos deles não têm acesso a dinheiro novo e não podem cuidar das lavouras”, comenta Muller. Ninguém tem a conta exata, mas a estimativa é que a dívida da cacauicultura baiana chegue a R$ 1 bilhão, a maior parte resultante de tentativas frustradas de controle da "vassoura". A questão começa a ser contornada pelo chamado PAC do cacau. Atualmente, a Ceplac se prepara para lançar um pacote tecnológico mais avançado, que prevê um controle integrado incluindo a poda dos galhos atacados, a utilização de clones geneticamente melhorados, o uso de fungicidas e de controle biológico, através do Tricovab. Este é um produto desenvolvido pelos cientistas do órgão, a partir de um fungo (o trichoderma stromaticum) que é antagônico ao da vassoura. Aplicado nos galhos atacados pela doença, depois da poda, o produto impede que os esporos sejam levados pelo ar e contaminem as plantações. O consultor Thomas Hartmann acha que, aos poucos, a produção do estado está se recuperando. Segundo ele, a "vassoura-de-bruxa" não é mais uma grande preocupação para o produtor, pois está provado que é possível conviver com a doença. Ele diz que as fazendas estão sendo mais cuidadas, os tratos culturais têm melhorado, o que deve continuar, principalmente se os preços se mantiverem remunerativos. Embora haja produtores que colham até 100 arrobas por hectare, Hartmann observa que a produtividade ainda é baixa – a média é de cerca de 20 arrobas/hectare – o que, de resto, ocorre com os grandes produtores da África, inclusive Costa do Marfim, o maior do mundo. Consumo crescenteEm contrapartida, o consumo do chocolate aumenta. O Brasil é o país em que o consumo mais cresceu nos últimos cinco anos – 26% - segundo o presidente da Câmara Setorial Nacional do Cacau, Durval Libânio Netto. É hoje o quarto consumidor mundial, ultrapassado apenas pelos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. E há muito espaço para crescer, já que o brasileiro consome 2,5 kg per capita/ano, de acordo com dados de 2010. No Reino Unido, por exemplo, supera os 12 quilos per capita/ano. “O consumo no Brasil cresce a cada ano e no mundo também. A perspectiva é que, com a tendência atual, faltem amêndoas e que os estoques mundiais diminuam. A grande perspectiva é que a China e a Índia passem a consumir maiores quantidades de chocolate”, diz Libânio Netto. O Brasil tem um parque moageiro de 250 mil toneladas anuais. Com a quebra da lavoura de cacau da Bahia, a oferta de matéria-prima caiu a 170 mil toneladas. Com isso, as indústrias tiveram que passar a importar cacau, com dificuldades alfandegárias e fitossanitárias. Contudo, o especialista diz que há motivos para ter esperança. “O Brasil é o único país do mundo grande produtor de amêndoa e grande consumidor de chocolate. Este fato pode favorecer o país a se tornar referência mundial em qualidade de cacau e chocolate, pela possibilidade de inovação na cadeia produtiva", afirma. O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates (Abicab) - entidade que também responde pelo segmento de amendoim e balas - Ubiracy Fonseca, diz que o Brasil é um mercado de grande potencial e por isso “vem atraindo grandes fabricantes. Segundo ele, o consumo de chocolates no primeiro semestre cresceu acima de 5%. “Todos os indicadores apontam para um contínuo crescimento. Chocolate é uma categoria aspiracional e cada vez que há uma melhoria na renda, novos consumidores são agregados” afirma.

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