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Apesar de existir há mais de 30 anos na Europa, a equoterapia (terapia feita com cavalos), ainda é pouco conhecida em Salvador, mas graças a um trabalho voluntário de uma mãe e da parceria com a Polícia Militar, o método vem auxiliando no tratamento de crianças com paralisia cerebral, síndromes genéticas, esclerose múltipla, autismo, distúrbio do déficit de atenção e outras doenças. Na capital baiana, o surgimento de um centro que atendesse crianças e adolescentes com essa necessidade nasceu com o problema de Yuri, filho de Maria Cristina Guimarães Brito, presidente da Associação Baiana de Equoterapia (Abae), que hoje atende, em média 130 pacientes por mês. O garoto foi diagnosticado com paralisia cerebral e, conhecendo a atividade, Maria Cristina resolveu implantar o atendimento, em parceria com o Esquadrão de Polícia Montada. Desde 1993, a atividade é desenvolvida na sede do esquadrão, que fica no Parque de Exposições de Salvador, em Itapoã. Os animais usados no tratamento têm mais de sete anos, pois, segundo Maria Cristina, a partir desta idade eles ficam mais dóceis e tranquilos, passando assim maior segurança, tanto para a criança quanto para a equipe de trabalho. O animal, aliás, é quem contribui para os estímulos sentidos pelos pacientes através da neuroplasticidade. A associação, que atende prioritariamente crianças carentes e filhos de militares, oferece suporte às famílias e um trabalho de inserção dos meninos e meninas na rede regular de ensino, além é claro do trabalho de passo e trote feito com os cavalos e as crianças. Cada procedimento é específico para determinado tipo de problema. O acompanhamento infantil é totalmente lúdico, com cunho fisioterapêutico, garantindo benefícios físico e emocional. De acordo com a idealizadora do centro, o retorno que se tem, em primeiro lugar, é a possibilidade de poder contar com a Polícia Militar nesse trabalho. Sobre os maiores ganhos, o médico fisiatra francês René Garrigue diz: "não se sabe o que vem primeiro; se é o benefício físico ou o psicológico". Só o o fato de tirar essas crianças de um tratamento em uma sala, entre quatro paredes, já é ótimo. O programa tem ainda uma parceria com o 19º BC (Batalhão de Caçadores) do Exército, e uma vez por semana Maria Cristina leva um cavalo até o batalhão do Cabula para atender crianças e adolescentes daquela região e adjacências. As sessões duram de 15 a 20 minutos, uma vez por semana, e não existe alta para o paciente. O que há, na verdade, é um controle de frequência. "A partir da terceira falta, a família do paciente é contactada para saber o porque da ausência e se a causa não for justificada, a gente tem que dar lugar a um novo paciente", explica Maria Cristina.
ATENDIMENTO - O projeto teve o apoio inicial do Major Cristóvão, em 1993, quando estava no comando da Polícia Montada. Desde 2009, porém, a Equoterapia desenvolvida no esquadrão conta com a supervisão do Major Fonseca. Para ele, a Polícia Militar atua de modo a atender a efetiva realização do trabalho, mas por algumas limitações estruturais ainda não pode aumentar o número de pessoas atendidas. Segundo o major, há uma boa interação tanto disciplinar quanto interdisciplinar e a atividade tem se consagrado e se consolidado, atendendo crianças da capital e do interior. Para as crianças que fazem parte do projeto, o momento do tratamento passa a ser de inteiro prazer. Muitos até choram quando é hora de encerrar a sessão ou se não podem executar os exercícios nos dias de avaliação. Maria Cristina ressalta que a atividade torna-se tão agradável para os pacientes, que alguns chegam a ter insônia e ansiedade, na noite anterior à ida ao Parque de Exposições . Tudo isso pela vontade de andar a cavalo. O filho de Maria, Yuri, que dá nome ao Centro Hípico do 19º BC, é a prova bem-sucedida de que o tratamento dá certo. "Com o passar dos dias eu fui melhorando minha coordenação motora, meu equilíbrio e minha fala. Eu quase não cruzava mais as pernas e as quedas deixaram de existir. Eu via o cavalo como meu amigo, o animal dos ajustes", diz ele, que é formado e hoje trabalha na Petrobras. Um outro paciente, Yuri Cunha, de 17 anos, conta que quando chegou à equoterapia, mal levantava da cadeira de rodas. Hoje, ele anda e não precisa mais do equipamento. A mãe dela afirma: "Ele é fã da Polícia Militar e do Exército e adora vir para cá. Melhorou bastante."
LIVROS PUBLICADOS - Além de ajudar filhos de outras famílias, a coordenadora do centro Maria Cristina Guimarães decidiu contar sua história no livro Minha Caminhada, que já está na segunda edição. Nele, ela revela o processo de desenvolvimento do filho durante os anos de tratamento e também explica o aspecto cinético da equoterapia. A primeira edição de Minha Caminhada segue a linha familiar. A publicação mostra a aceitação do filho especial, explica como lidar como a criança, além de ressaltar a importância do envolvimento da família, adaptações necessárias e mostra também as dificuldades de inserção na rede regular de ensino. No caso de Maria, ela nunca aceitou que Yuri frequentasse uma escola especial. O Minha Caminhada II traz esclarecimentos sobre a técnica da equoterapia, além de expôr a visão de um neurologista e abordar estudos científicos da área e conceitos básicos da psicologia.
LOCALIZAÇÃO - As instalações contam com uma pista de equitação, uma sede administrativa, uma selaria e uma casa de reunião. Além de Maria Cristina, atuam na Abae uma médica pediatra supervisora, uma psicóloga, dois auxiliares de serviços gerais, dois técnicos, um coordenador administrativo, três terapeutas ocupacionais, dois fisioterapeutas e uma fonoaudióloga, além dos próprios soldados da Polícia Montada que cuidam dos cavalos durante os exercícios.
Confira os endereços: * Associação Bahiana de Equoterapia - Av. Dorival Caymmi, Pq de Exposições - Esquadrão de Polícia Montada s/nº - Itapuã * Centro de Equoterapia Yuri Guimarães Brito / 19º BC Rua Villagran Cabrita s/nº/ 19º BC - Cabula Telefones: (71) 3285-0770 / 3249-0599