Neste mês de julho completam-se sete anos que o Ministério do Turismo colocou à disposição da Secretaria do Turismo da Bahia (Setur) R$ 5,85 milhões para a climatização do Centro de Convenções (CCB). Os recursos continuam disponíveis, diz o ministério, dependendo apenas da regularização de documentos, o que incluiu durante muito tempo a escritura do local, que desapareceu por um tempo, de acordo com informações de bastidores.
O tempo passou e nem o sistema de ar-condicionado foi implantado, nem se investiu adequadamente na manutenção do local – o que causou a perda de dez eventos que juntos movimentariam em torno de R$ 100 milhões entre 2015 e 2017. Agora, após os problemas se agravarem, a Setur, responsável pela manutenção do Centro de Convenções, informa que reapresentou o projeto de climatização, com valor atualizado de R$ 9,3 milhões, no último dia 13. Outros R$ 5 milhões estão previstos para obras emergenciais de recuperação da estrutura do local. E por que demorou tanto para tocar o projeto? A Setur foge da resposta, afirma apenas que a atual gestão assumiu, viu que tinha os recursos assegurados e apresentou um novo projeto. O problema é que o que devia ter sido feito lá atrás, e não foi, traz prejuízos no presente e compromete o futuro próximo. Enquanto o mercado brasileiro de eventos cresce a uma média de 14% ao ano, na Bahia a atividade está comprometida, muito por conta dos problemas no CCB, que está interditado por questões de segurança. Detalhe é que há apenas dez anos, o espaço hoje defasado era vencedor do Prêmio Caio 2005, considerado um Oscar do setor de eventos. Nos últimos anos, o mercado de congressos, feiras e convenções tornou-se uma atividade importante no âmbito mundial por seu impacto econômico, comercial, técnico, científico e sociocultural, como destaca a pesquisa Impacto Econômico dos Eventos Internacionais Realizados no Brasil, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Dados da Organização Mundial do Turismo indicam que a atividade pode movimentar mais de 50 segmentos, como transporte, hospedagem, lazer, alimentação, comércio e outros serviços especializados que os eventos demandam. No curto prazo, há um impacto econômico com a arrecadação de impostos e a geração de empregos diretos. Dada a sua importância para a economia, a indústria de feiras e eventos foi reconhecida oficialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) e incluída como uma categoria econômica diferenciada. Pesquisas realizadas pela Embratur indicam que o turista de negócios e eventos costuma gastar mais que o turista de lazer. O Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos do Brasil – 2013, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), aponta um gasto médio do turista de lazer de US$ 304 por dia, aproximadamente R$ 972, enquanto o que viaja a passeio costuma gastar, em média , US$ 73,77, o equivalente a R$ 236. O mercado de eventos movimenta aproximadamente por ano R$ 210 bilhões no Brasil e responde por 4,32% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Na contramão O problema é que, nos últimos anos, a Bahia caminha na contramão do movimento mundial. Enquanto capitais nordestinas, como Fortaleza (CE) e Recife (PE), receberam investimentos nas estruturas para eventos, o principal espaço disponível na capital baiana está se degradando. Segundo dados da Associação Internacional de Congressos e Convenções, cuja sigla em inglês é ICCA, a Bahia vem perdendo posições na captação de eventos internacionais desde 2011, quando tinha uma média anual de 17 eventos. Em 2014, ano em que se realizou a Copa do Mundo, foram 14 eventos, mas, antes, em 2013, o estado recebeu apenas sete eventos internacionais. Inaugurado em 1979 como uma obra de vanguarda, o CCB ocupa uma área de 153 mil metros quadrados, sendo 57 mil metros quadrados de área construída, mas vem sendo tomado pela ferrugem e o desgaste do tempo. Nos últimos anos, tornaram-se comuns notícias de goteiras, equipamentos, como elevadores e escadas, quebrados, entre outras coisas, até o ápice do problema, quando um defeito em uma bomba d'água que abastecia os banheiros jogou na lama a imagem positiva que as principais entidades médicas brasileiras faziam do local, em novembro de 2013.
Ex-secretário de Turismo da Bahia e atual presidente da Salvador Destination, Paulo Gaudenzi não se conforma com o cenário atual em que o mercado de eventos da cidade está inserido. Para ele, atuar para modificar a “péssima imagem” que se passou do CCB é tão importante quanto a requalificação do espaço. “Esses eventos que deixaram de vir para Salvador e foram para outros locais representam uma perda palpável. Mas o grande prejuízo que estamos enfrentando é que muitas entidades passaram a desconsiderar Salvador como destino. Nós estamos enfrentando uma perda brutal desde novembro de 2013”, afirma. Segundo ele, diversas entidades médicas deixaram de considerar o Centro de Convenções como um possível local para os seus congressos. “E é o maior espaço que nós dispomos na cidade para grandes eventos”, lamenta. Ele explica que há um esforço dos empresários do turismo para atrair eventos de pequeno e médio porte, com limite máximo de 2,5 mil pessoas, para espaços de convenções nos hotéis de Salvador e na Arena Fonte Nova. “Conseguimos captar nove eventos, dois para este ano e sete para o próximo, mas todos pequenos”, diz. O secretário de Turismo, Nelson Pelegrino, que assumiu o cargo no início deste ano, diz que vai trabalhar pela reabertura do CCB, mas deixa clara a insatisfação pelas condições atuais do espaço. “Eu acho que, de fato, não se poderia deixar o Centro chegar à condição que chegou, mas temos que pensar em termos de futuro”, diz. Segundo ele, o foco do governo é recuperar o espaço e mantê-lo funcionando até a construção de um novo espaço. O secretário diz que o CCB só será reaberto quando estiver em plenas condições. Salvador tem mercado para dois grandes centros de convenções O investimento do governo do estado na construção de um novo centro de convenções, ou em uma grande reforma do Centro de Convenções da Bahia (CCB), poderia ser pago em cinco anos, a partir da receita tributária gerada pela movimentação de turistas, acredita o diretor da consultoria Hotel Invest, Diogo Canteras. Segundo ele, a empresa costuma fazer modelagem de negócios para arenas multiuso e espaços para convenções e a proporção de receita mensal gerada pelos equipamentos costuma ser equivalente a três ou quatro vezes a prestação do financiamento. “Como normalmente se contratam financiamentos de 15 anos, numa conta bastante conservadora, poderia se pagar o financiamento tranquilamente em cinco anos. Numa cidade com o potencial turístico de Salvador, é possível que se pagasse em menos tempo”, estima Canteras. Para o consultor, o mercado turístico da capital, com uma ampla rede hoteleira e desejado pelo público nacional e internacional, teria potencial para ter até dois centros de convenções. “O mercado do turismo brasileiro tem visto as notícias do Centro de Convenções da Bahia estupefato. Uma cidade com o potencial turístico de Salvador não pode ser tratada dessa maneira”, diz. Hotelaria tem piora na ocupação na baixa estação sem os eventos Os turistas de eventos, feiras e convenções é que garantiam um mínimo de ocupação nos hotéis de Salvador entre os meses de julho e novembro. Sem essa “salvaguarda”, preocupa-se o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FeBHA), Silvio Pessoa, as perspectivas para a hotelaria nos próximos meses são “muito ruins”. Desde o fim do Carnaval, os hotéis de Salvador vêm registrando taxas de ocupação média inferiores a 60%, taxa que indica retorno financeiro. Porém, no último mês de junho, o setor registrou o pior desempenho para o mês desde o ano de 2002, de acordo com uma pesquisa mensal feita pela FeBHA entre os maiores hotéis da cidade “Eram os congressos de julho a novembro que movimentavam a cidade no período. Agora, sem o Centro de Convenções, estamos mais perdidos que cegos em tiroteio”, diz Silvio Pessoa. Segundo ele, o pleito do setor é que o Centro de Convenções seja mantido, climatizado e em boas condições, pelo menos até que um novo espaço seja inaugurado. Segundo o presidente do Salvador da Bahia Convention Bureau, José Alves, com as incertezas em relação ao futuro do Centro de Convenções, a captação de grandes eventos para os próximos anos está “praticamente parada” para os próximos anos. “Precisamos de uma definição para buscar grandes congressos, feiras e convenções. O que está sendo trazido para a Bahia está sendo direcionado para o Litoral Norte”, afirma.
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