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Como seria o mundo sem tomates? A situação ainda não é para tanto, mas os donos de restaurantes de Salvador já estão treinando para quando esse dia chegar. Ao saber o assunto da reportagem do CORREIO, ontem, o dono do Juarez Restaurante, Felisberto Formigli, deu risada. “Ô Clarisse, venha cá! O que foi que eu acabei de falar pra você?”, perguntou à cozinheira. É que minutos antes ele tinha solicitado à funcionária que diminuísse os tomates da salada que acompanha todos os pratos do restaurante, localizado no Comércio. O ingrediente é o principal vilão da inflação dos alimentos no último trimestre. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas, somente entre janeiro e março deste ano, o tomate subiu 70,33%. A variação é quase 35 vezes maior do que a média do IPC para todos os itens (2,07%) no mesmo período. Azar de seu Felisberto, que precisa comprar 20 quilos por dia. Ou pelo menos precisava. “Vamos diminuir aí, porque não tá dando. Todo dia aumenta. Hoje fui comprar e já estava de R$ 8 o quilo”, reclamou ele, que também percebeu aumento significativo na batata, no feijão e na farinha. Agora ele se prepara para reajustar os preços do cardápio. “É isso ou diminuir a quantidade dos pratos”, justifica. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Luiz Henrique do Amaral, aumentar os preços já está sendo uma estratégia dos restaurantes para diminuir o prejuízo. “Os preços já aumentaram entre 10% e 12%. Não há perspectiva de melhora, não está chovendo”, explica. Isso porque a seca no Nordeste é um dos motivos para a alta nos preços de muitos alimentos, tanto os de origem vegetal quanto os de origem animal. O outro motivo, segundo o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), foi a quebra de safra provocada pelo Inverno rigoroso no Sul e no Sudeste e que emendou com o Verão, tradicionalmente uma época ruim para o cultivo do fruto. Braz alerta ainda que o choque de preço do tomate irá contribuir para pressionar ainda mais a inflação nos próximos meses. Nos últimos 12 meses até março, o Índice Geral de Preços (IGP) subiu 8,06%. Para os donos de restaurantes, isso significa uma queda no movimento de até 30%, segundo a Abrasel. Os que conseguem manter a clientela fazem isso à custa de muita ginástica. “Estamos substituindo o tomate e outros ingredientes que estão caros”, diz o dono do Café e Restaurante Carne e Cuscuz, Claudio Lima. O tradicional cozido, que era servido lá todos os dias, agora não é tão fácil de ser encontrado, já que o preço das batatas está pela hora da morte. Claudio conta que também está investindo mais em comida baiana, que geralmente não leva tomate. “Vinagrete, que tinha à vontade, agora é só para os clientes VIPs”, completa.
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AcarajéÉ bom se preparar para o dia em que vai ser mais barato comer acarajé sem salada. É que as baianas de acarajé também andam sofrendo com a inflação do tomate, e da cebola. Para abastecer seu tabuleiro na Avenida Sete, a baiana Neinha precisa de 40 quilos de tomate por semana, e está vendo seu lucro cair vertiginosamente. “Antes, a caixa com 20 quilos custava R$ 25, agora está de R$ 60 na Feira de São Joaquim”, reclama. Segundo ela, a cebola teve um aumento ainda maior. “Era R$ 25 e agora está por R$ 65”. Apesar disso, a presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Rita Santos, garante que, pelo menos por enquanto, não houve aumento nos preços. “O acarajé com camarão varia de R$ 3 – nos bairros populares – até R$ 7, nos tabuleiros mais tradicionais, como Dinha e Cira”, informou.