Condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo assassinato da modelo Eliza Samudio, sua ex-amante, o goleiro Bruno Fernandes das Dores de Souza conquistou nesta sexta-feira o direito de recorrer da sentença em liberdade. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello acolheu um pedido do advogado do jogador e determinou, por meio de uma liminar, que ele deixasse a cadeia. Cumprindo pena na Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac), em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Bruno, que ficou seis anos e sete meses atrás das grades, recebeu no início da noite seu alvará de soltura. Ele saiu pela porta principal da Apac e não quis dar entrevista. Ao lado da mulher, Ingrid Calheiros, Bruno disse apenas uma frase: “Glória a Deus por tudo”.
Bruno foi julgado em 2013 pelo Tribunal do Júri de Contagem, em Minas Gerais, e sua condenação ainda não foi confirmada em segunda instância. Por isso, Marco Aurélio decidiu colocá-lo em liberdade.
“A esta altura, sem culpa formada, o paciente está preso há seis anos e sete meses. Nada, absolutamente nada, justifica tal fato. A complexidade do processo pode conduzir ao atraso na apreciação da apelação, mas jamais à projeção, no tempo, de custódia que se tem com a natureza de provisória”, afirmou o ministro do STF em sua decisão.
Jogador ficou "chocado"
Ao ser condenado em primeira instância, Bruno permaneceu encarcerado “em razão da gravidade dos delitos, do temor causado na sociedade e da necessidade de resguardar a paz social”, de acordo com a sentença. A defesa do atleta vinha recorrendo desde então, alegando que a manutenção da prisão sem julgamento em segunda instância era uma antecipação da pena. Marco Aurélio concordou.
“O Juízo, ao negar o direito de recorrer em liberdade, considerou a gravidade concreta da imputação. Reiterados são os pronunciamentos do Supremo sobre a impossibilidade de potencializar-se a infração versada no processo. O clamor social surge como elemento neutro, insuficiente a respaldar a preventiva. Por fim, colocou-se em segundo plano o fato de o paciente ser primário e possuir bons antecedentes”, escreveu o ministro.
Marco Aurélio fez algumas ressalvas: Bruno deve permanecer na residência indicada por ele à Justiça, atender aos chamamentos judiciais, informar eventuais mudanças de endereço e “adotar a postura que se aguarda do cidadão integrado à sociedade”.
Ao saber da decisão do STF, Bruno ficou “chocado”, segundo seu advogado, Lúcio Adolfo. Ele disse que, no breve encontro que teve com seu cliente para lhe dar a notícia, na Apac, o goleiro revelou que não esperava ser solto:
"Ele ficou chocado quando soube que iria ser solto. Tremeu e se emocionou, ficou com os olhos cheios d’água. Não esperava que isso acontecesse agora."
Mãe da vítima lamenta soltura
A mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura, disse que a decisão do STF reacendeu sua dor pela morte da filha.
"O momento é de muita indignação. Infelizmente, não podemos confiar na justiça dos homens, só na de Deus. É uma dor que reacende — disse Sônia, que mora em Anhanduí, a cerca de 40 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul."
Sônia destacou que o goleiro não cumpriu sequer um terço da pena e afirmou não se importar se Bruno está arrependido do assassinato, como ele declarou em algumas entrevistas.
"Infelizmente, ele ficou menos de sete anos preso. Se está arrependido, não sei e não quero saber. Não me interessa", frisou Sônia, que vive da venda de bolos e doces e tem a guarda do neto Bruno, de 7 anos, filho do goleiro e de Eliza. "A gente evita falar no assunto com o menino. É para o seu bem. Melhor esquecer e tentar viver a vida. Não penso na possibilidade de o pai tentar uma aproximação com o filho. Não queremos nada dele, nem isso."
O deputado federal Edson Moreira (PR/MG), que ficou à frente das investigações do caso em 2010, quando era delegado da Polícia Civil de Minas Gerais, disse que a decisão do ministro do STF é um “incentivo à criminalidade”. Ele afirmou ainda que, com o goleiro em liberdade, os restos mortais de Eliza jamais serão encontrados:
"O sujeito sequestra, tortura e mata a moça. Com ele solto, esse cadáver nunca vai aparecer. Ele não vai deixar", afirmou Edson, acrescentando que o ministro Marco “gosta de ser polêmico”.
Bruno deve voltar a morar no Rio, onde vive sua mulher, a dentista Ingrid Calheiros, no Recreio dos Bandeirantes. O casal está junto desde 2008, antes da prisão do jogador, mas só se casaram ano passado.
Corpo nunca foi achado
Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010, quando deixou um hotel no Rio e foi com o filho a Minas Gerais, para se encontrar com o atleta em um sítio na cidade de Esmeraldas. Mulher de Bruno na época, Dayanne Rodrigues negou a presença da criança no local. No entanto, um funcionário confessou que recebeu o bebê de Dayanne e o entregou a uma mulher.
Policiais encontraram pertences de Eliza e manchas de sangue no carro de Bruno. Dias depois, um homem admitiu que assassinou Eliza com um adolescente de 17 anos e com Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, braço direito do jogador. Eles teriam levado a jovem para o sítio do goleiro. O menor de idade revelou que Bruno mandara matar a amante e que o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, teria ficado encarregado da tarefa. Bola teria estrangulado a jovem e, em seguida, esquartejado o corpo. Os restos mortais de Eliza nunca foram encontrados.
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Redação iBahia
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