Na noite de Natal, o professor de Português Júnior Santos, de 24 anos, e seu namorado, o servidor federal Maycon Aguiar, de 23, se mudaram para um condomínio com apenas dez casas em Vicente de Carvalho, Zona Norte do Rio, em busca de uma nova fase para o relacionamento dos dois, que já dura cinco anos. No entanto, um mês depois, o sonho parece ter virado pesadelo.
Na manhã da última sexta-feira, o casal foi surpreendido com uma triste surpresa: uma carta de duas páginas com dizeres homofóbicos e racistas havia sido colocada na janela da residência dos rapazes. Ao EXTRA, Júnior contou detalhes sobre o lamentável episódio.
— Estava fora da cidade, visitando minha mãe. Daí o Maycon me ligou contando o que tinha acontecido, tirou foto da carta e me enviou. Ficamos muito abalados, choramos muito. Estamos em 2017, pago minhas contas e é inadmissível passar por isso dentro da minha casa — desabafa o professor.
O texto, iniciado pela citação ao Levítico, um livro da Bíblia, afirma que Deus não criou o homem para se relacionar com homem, nem mulher com mulher. Em outro trecho, afirma que a homossexualidade é uma conduta “errônea e aberrativa”. Na segunda página da “circular”, o texto afirma que “nenhum morador do condomínio aprova comportamento que envergonha Deus”.
“Gente de cor e ainda por cima afeminada não está no nível dos que moram aqui, por favor, se retirem”, diz uma das frases da carta. “Toda abominação está condenada em nome do Senhor Jesus”, finaliza a “circular”.
Júnior afirma não ter ideia de quem pode ter sido autor da carta. De acordo com o professor, ele e o namorado foram à 27ª Delegacia de Polícia (Vicente de Carvalho), onde foram informados de que não seria possível fazer o registro de ocorrência, uma vez que não há nomes citados nem a assinatura do autor da carta.
— Estávamos acompanhados de uma vizinha e outros amigos. Fomos aconselhados a buscar alguma prova que permita a abertura de uma investigação. Já buscamos acompanhamento jurídico e vamos até o fim. Racismo é crime e, por mais que homofobia não seja configurado juridicamente como crime, quero identificar o autor e incriminá-lo por injúria. Não posso temer pela minha integridade. Respeito todas as religiões e sempre espero que me respeitem também — alega Júnior, ressaltando que há duas famílias negras que moram no condomínio e também se sentiram ofendidas com a carta.
De acordo com o professor, já foi solicitado mediante a administração do condomínio (feita por uma mediadora de conflitos e uma tesoureira) o acesso às câmeras de segurança do loca. Como resposta, Júnior obteve uma troca de emails em que foi informado ao casal que as imagens seriam encaminhadas apenas à polícia conforme solicitação da mesma.
— Solicitamos uma reunião em caráter de urgência pra debatermos uma série de pendências que existem em relação ao condomínio, e também essa questão do acesso às imagens das câmeras — finaliza Júnior.
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Redação iBahia
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