Dois meses após a morte do filho do técnico Abel Braga, João Pedro, o Fluminense se vê diante de uma situação delicada. Há grande preocupação no clube com seu estado emocional. Nos bastidores, o receio é de que o abatimento esteja interferindo em sua rotina de trabalho. Um dilema que só joga mais drama no momento do time.
Quem trabalha com o treinador comenta que seu abalo emocional é nítido. O fato não chega a surpreender, já que a tragédia ainda é recente. Mais que a comoção pelo semblante triste, os tricolores — dirigentes e jogadores — estão preocupados com a possibilidade de o drama pessoal ter afetado sua capacidade de cobrar os atletas e, inclusive, tomar as melhores decisões.
O consenso é que só há uma solução: aproximar-se ainda mais do técnico para que ele se sinta ainda mais abraçado. A questão, no entanto, é que o próprio treinador nega que o drama esteja afetando o trabalho.
— Outro dia vieram falar comigo: “Abel, estamos preocupados com você”. Mas não tem isso. É como já falei: isso aqui me faz bem. Eu vim treinar dois dias depois do que aconteceu. Uma coisa não se mistura com a outra. Aqui é trabalho — afirmou Abel.
O treinador, contudo, não nega que a dor pela perda do filho ainda é forte. Em sua casa, ele construiu uma espécie de altar em homenagem a João Pedro:
— Isso vai me acompanhar para sempre, mesmo que eu seja campeão do mundo de novo ou não. Perdi um filho, cara. Penso nele todo dia. Eu o vejo lá em casa, na churrasqueira, na parede. Tem um altarzinho que fiz pra ele.
‘Se um dia sentir que está influenciando, vou embora’
Apesar de ter retornado aos treinos dois dias depois da tragédia, Abel ainda trava uma luta diária. Ele só voltou a viajar com o elenco para os jogos fora do Rio, por exemplo, contra o Vitória, há pouco menos de três semanas. Antes, pegava o avião apenas no dia da partida — para deixar sua mulher menos tempo sozinha. Além disso, a cada partida, ele recebe as condolências de jogadores ou treinadores, o que mantém a memória do fato viva:
— Se um dia sentir que o que passei está influenciando, vou embora para casa. Depois da derrota para o Palmeiras, assumi que não segui minha consciência. Mas não tem nada a ver com a situação que passei. Porque, quando ganho, dedico a ele. Converso com ele todos os dias. E isso me conforta.
Hoje, uma nova homenagem. Agora na Assembleia Legislativa. Além de comover o país, a luta de Abel o fez ser escolhido personalidade carioca do ano:
— Tem que trabalhar em cima da superação. Superar a perda, a saudade, saber que não vou vê-lo mais até o resto da vida. Já perdi pai e mãe. É duro. Mas um filho... Não queira passar por isso.
O técnico também procura uma volta por cima para o Fluminense, que está próximo à zona de rebaixamento. Ontem, ele admitiu que fará mudanças para o jogo contra o Grêmio, no domingo. Em entrevista ao “Globoesporte.com”, ele confirmou Cavalieri no lugar de Júlio César. Na vida ou nos campos, é preciso levantar a poeira e dar a volta por cima.
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Redação iBahia
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