O bombeiro hidráulico Jefferson Ferreira, de 33 anos, pegava carona no caminhão da Vale quando ouviu, pelo rádio comunicador, que a Barragem 01 do complexo minerário do Córrego do Feijão havia se rompido. Na hora, ele pensou na irmã, que estava trabalhando na pousada Nova Estância, bem perto da mina. Deixou o veículo e correu até a hospedagem, onde encontrou duas vítimas e teve sua imagem imortalizada ao ser filmado, ao vivo, resgatando uma mulher de dentro da lama.
— Na hora eu não pensei em nada. Eu saí correndo para lá querendo encontrar alguém, que fosse um cachorro ou um passarinho, só queria encontrar alguém vivo — conta ele.
Ao avistar Alessandra pedindo socorro em cima de uma árvore, já coberta pela lama, ele correu em direção à mulher e a retirou dos rejeitos. Fez o mesmo com Talita, de 15 anos, irmã de Alessandra, cujo resgate de helicóptero foi capturado por uma equipe de TV.
No alto de 1,87 metro de altura, Ferreira viu a lama atingir os seus joelhos e conta que não foi nada fácil se locomover pelos rejeitos para alcançar as vítimas. Com ferimentos leves, ele ainda não recebeu atendimento médico nem suporte da empresa, mas diz que já se sente bem. Agora, o bombeiro analisa que correu grande risco, mas não se arrepende do feito.
Com o auxílio de um helicóptero, o Corpo de Bombeiros realizou um resgate dramático de algumas vítimas da barragem de Brumadinho (MG). Assista ao vídeo completo: https://t.co/JbpovOVBFG pic.twitter.com/xUsJu9nvFJ
— Portal R7.com (@portalR7) 25 de janeiro de 2019
— Eu poderia ter ido embora junto com elas, fiz de impulso, cabeça quente. Mas tenho orgulho de ter ajudado de alguma forma.
Pela cidade, Ferreira tem sido chamado de herói, mas rejeita o título.
— Eu não quero esse mérito, só fiz o que eu tinha que fazer.
Sem dormir desde a última sexta-feira, quando a barragem se rompeu, auxiliou no resgate de dezenas de pessoas e continua trabalhando como voluntário na distribuição de água e alimentos aos outros atingidos.
— Fazer esse trabalho me ajudar a me sentir útil e a me distrair — conta ele, que ainda não teve notícias da irmã que foi procurar na pousada, a camareira Jussara Ferreira, de 35 anos.
Entre o orgulho e a angústia
A sensação de perda se espalha por quase toda Brumadinho, uma cidade pequena conhecida pela sua tranquilidade e belezas naturais. Muitas vezes, como é o caso de Jefferson, o sentimento se divide.
Nos últimos dias, esse foi a realidade que encontramos em diversos dos entrevistados. José Antônio, 46, teve a esposa salva (por Jefferson Ferreira), mas ainda procura a filha Laís, de 14 anos. Maicon Vitor, 22, escapou da lama ao sair do refeitório, mas deixou para trás a mãe e diversos amigos. Gabriel Vilaça, 28, celebra que o sogro, Marcelino, estava fora do horário de trabalho, mas ainda procura notícias do primo desaparecido.
Em um município de aproximadamente 39 mil pessoas (IBGE), ao conversar com os moradores é quase impossível não encontrar alguém que não conheça um dos, pelo menos, 516 atingidos (192 resgatados pelos bombeiros, 287 desaparecidos e 37 mortos).
Veja também:
Leia também:
AUTOR
Redação iBahia
AUTOR
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade