Agentes da Defesa Civil entraram no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, no fim da manhã desta segunda-feira, para fazer uma avaliação sobre as condições da estrutura do prédio. O incêndio foi controlado durante a madrugada, após os bombeiros iniciarem trabalho de rescaldo às 3h. Ao todo, 80 militares de 12 quartéis do Rio e 21 viaturas participaram do combate às chamas.
— O trabalho de rescaldo é muito braçal. Questiona-se sobre a estrutura do prédio, o quanto ela resistiu a esse incêndio. Mas só depois de conseguir resfriar todo o interior é que poderemos saber. Por enquanto, não há como saber muita coisa. Esse trabalho dos bombeiros deve se estender por algumas horas — explica o major Leonardo Souza, um dos homens que trabalharam no combate às chamas.
No início da manhã, quando os primeiros raios de sol iluminaram o museu, foi possível ter uma noção maior do incêndio. Parte da fachada chamuscada pelo fogo, o teto desabado e todo o interior praticamente destruído representam a tragédia de grande repercussão. A cerca de 100 metros do museu, ainda é possível sentir o cheiro de queimado. Por volta das 6h, bombeiros usavam a escada magirus para verificar possíveis focos de incêndio e ter uma visão mais ampla do espaço.
— É muito triste chegar aqui e ver. Quando soube, fiquei desolada. Nem consegui dormir direito. A gente mora no bairro e esse museu representa muito pra gente — lamentou a bancária Luciana Aquino, de 34 anos, que caminha todo dia pela Quinta da Boa Vista, na Zona Norte.
O fogo teve início por volta das 19h deste domingo. As partes laterais e a de trás do museu foram as que mais demoraram a ter as chamas contidas. Houve alguns desabamentos internos. A assessoria do museu disse que ainda não está claro o que deu início ao incêndio. O Corpo de Bombeiros também não trabalha ainda com nenhuma hipótese sobre as causas. Somente após os primeiros resultados da perícia é que isso poderá ser respondido.
Problemas atrapalharam combate às chamas
O início do trabalho dos bombeiros foi dificultado no início. O comandante-geral da corporação, Roberto Robadey, afirmou que os dois hidrantes localizados na área do museu não tinham pressão suficiente. A corporação chegou a pedir a ajuda da Cedae para desviar água até a região, o que não foi alcançado, segundo Robadey. Caminhões-pipa foram então enviados pela companhia para combater o fogo.
— As primeiras equipes chegaram aqui com carros suficientes para o primeiro combate. Mas, infelizmente, perdemos de 30 a 40 minutos de trabalho por causa desse problema com os dois hidrantes — disse Robadey.
Ainda de acordo com o comandante, o prédio não tinha um sistema adequado de prevenção a incêndios, já que ele foi concebido há 200 anos, muito antes da lei que trata sobre a segurança contra incêndios no Estado do Rio, de 1976. O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, também comentou sobre o assunto. Segundo ele, melhorias de infraestrutura precisariam ser feitas e viriam após ajuda financeira do BNDES. Leher conta que a primeira parcela seria de R$ 21 milhões.
— Grande parte desse investimento estava destinado justamente a um sistema de prevenção de incêndios, que seria uma mudança muito robusta - conta Leher.
Essa intenção da UFRJ foi confirmada pelos bombeiros após o incêndio.
— Tenho informes de que, há cerca de um mês, a organização do museu esteve em contato com a nossa equipe que cuida dessa área dizendo ter os recursos e também o interesse em se regularizar junto aos Bombeiros — assinala Robadey.
Clima de mobilização e tristeza
Durante toda a noite, equipes do Centro de Operações Rio (COR), da Defesa Civil, da Guarda Municipal, da CetRio, Comlurb e Rio Luz, além do Corpo de Bombeiros, atuaram no local. Funcionários do museu, professores e admiradores da instituição se reuniram na frente do museu. Eles tentaram salvar o acervo, retirando parte do material lá de dentro, e lamentaram a perda histórica irreparável.
— É muito triste. Moro aqui perto e quando soube do incêndio resolvi vir para cá, não tava acreditando em tudo isso. Olhando daqui, vendo o fogo devastando o prédio, me sinto dentro de um filme de terror — disse a professora Clara Alves, de 52 anos, que esteve no local na noite deste domingo.
A reitoria da UFRJ e a direção do Museu Nacional vão, após o incêndio deste domingo, reavaliar o que realmente foi perdido e tentar recuperar o que pode ser salvo. De acordo com o diretor do museu, Alexander Kellner, as instituições já estão conversando para definir quais iniciativas de trabalho serão utilizadas. Uma reunião com o ministro da Educação, Rossiele Soares, está marcada para esta segunda.
— Não temos ainda como avaliar com exatidão quanto do material foi perdido. É preciso que entendam que o Brasil hoje está de luto e a gravidade do episódio, o sentimento dentro da gente. O incêndio afeta todo mundo, não só a instituição — pontuou Kellner.
Em nota, o ministro já havia afirmado que não serão medidos esforços para auxiliar a UFRJ a recuperar o patrimônio atingido. “O Ministério da Educação lamenta o trágico incêndio ocorrido neste domingo no Museu Nacional, que completa 200 anos neste ano. O MEC não medirá esforços para auxiliar a UFRJ no que for necessário para a recuperação desse nosso patrimônio histórico", diz o texto.
No momento em que as chamas começaram a se alastrar, havia quatro vigilantes no prédio, que, segundo os militares, não ficaram feridos. O prédio foi residência da família real entre os anos de 1816 e 1821. Os três andares do palácio abrigam um acervo de 20 milhões de itens, incluindo documentos da época do Império; fósseis; coleções de minerais; e a maior coleção egípcia da América Latina. É a instituição científica e o museu mais antigo do Brasil, tendo em maio último completado 200 anos.
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Redação iBahia
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