Não há como saber se a corrupção aumentou no Brasil nos últimos anos. A avaliação é do cientista político Ricardo Caldas e do antropólogo Marcos Otávio Bezerra, que participaram nesta segunda-feira (11) de uma mesa redonda sobre o custo da corrupção para o Estado brasileiro, programada para a primeira tarde de discussões da 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre em Goiânia. Ricardo Caldas ressaltou que a corrupção é um fenômeno global e que instituições multilaterais como o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) não registram nenhuma variação da incidência da corrupção no Brasil. Caldas disse que esse tipo de informação não é precisa, mas, segundo ele, baseada na percepção da população e na cobertura da imprensa. A cobertura da imprensa pode eventualmente “aumentar a sensação de que estamos diante de uma situação catastrófica”, ponderou Marcos Bezerra, que é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). O efeito disso é o tratamento moralista da política, “como se o único problema fosse a corrupção” e aí questões como a execução do programa de governo não entra em discussão pública. “Faz-se um uso social e político da corrupção”, alertou o antropólogo. Bezerra defende que em vez do apelo moral, a questão seja vista sob o aspecto institucional. O exemplo que usou foi das relações dos parlamentares do Congresso Nacional. Segundo ele, o desempenho do político é avaliado pela capacidade de trazer benefícios para a localidade de sua base eleitoral, por meio da apresentação de emendas no Legislativo e, posteriormente, da liberação do Orçamento pelo Executivo. O antropólogo lembra que as empresas privadas calcificam essas relações ao incluir projetos de seus interesses na formulação das demandas, apresentação de projetos e liberação de recursos. Ele assinala, no entanto, que o Estado brasileiro tem instituições que atuam para evitar e combater a corrupção como a Controladoria-Geral da União, a Polícia Federal e o Ministério Público. Para Ricardo Caldas, “as instituições de combate à corrupção ainda não funcionam perfeitamente” e o país sofre com uma herança cultural dos tempos de colonização. “Temos um Estado patrimonial. Não conseguimos separa o público do privado”, disse referindo-se aos textos clássicos sobre a formação do país como Raízes do Brasil (Sérgio Buarque), Os Donos do Poder (Raymundo Faoro) e Carnavais, Malandros e Heróis (Roberto DaMatta). As informações são da Agência Brasil.
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