Mesmo depois de muita luta por igualdade e representatividade, a população LGBTI ainda enfrenta preconceitos na vida em geral e no mercado de trabalho em particular. Uma pesquisa feita pelo site de recrutamento Elancers, com cerca de dez mil empresas clientes, em junho deste ano, revelou que 18% das companhias não contratariam o público LGBTI para cargos de chefia. Em 2015, esse número era de 38%. Dos consultores, que realizam os processos seletivos nessas firmas, 7% não contratariam de forma alguma.
O Norte é a região com mais forte preconceito: 20% de profissionais de RH afirmaram que não selecionariam alguém declarado homossexual em sua empresa, e outros 15% disseram que não admitiriam para determinados cargos.
Ainda quando era estagiário, o jornalista Icaro Jatobá, de 24 anos, viveu a intolerância no ambiente corporativo. Após elogiar uma campanha publicitária que o Carrefour fez, mostrando uma funcionária transsexual na função de caixa, percebeu o comportamento hostil de sua gestora imediata:
— Ela começou a me tratar diferente dos outros. No início, dava chocolate para os estagiários, menos para mim, e me obrigava a ser o único a cumprir horas extras. Depois, as atitudes pioraram. Ela começou a fazer reuniões para me colocar em situação vexatória, expondo apenas os meus erros diante de toda a equipe.
Em cinco meses, Jatobá deixou o estágio e preferiu não denunciar a empresa, mas teve que fazer acompanhamento psicológico para superar a discriminação. Segundo o advogado Caio Espíndola, do escritório André Perecmanis Advogados, apesar de não haver legislação trabalhista específica para LGBTIs, em caso de demissão motivada pela orientação sexual, é possível entrar com uma ação na Justiça pedindo reintegração, além de indenização por danos morais.
— Dependendo do teor da discriminação, o agente pode ser enquadrado no crime previsto pelo artigo 140, popularmente conhecido como injúria racial, mas que é bem mais amplo, abrangendo todo tipo de ataque preconceituoso. A pena é de um a três anos de reclusão e multa — explicou.
Ainda de acordo com o advogado, a função de estagiário não configura vínculo empregatício. Dessa forma, não é possível entrar com processo na Vara Trabalhista, mas o lesado pode abrir uma ação de danos morais comum.
Diversidade garante produtividade
Nos dias 6 e 7 de novembro, aconteceu, no Rio de Janeiro, o 2º Fórum de Cultura + Diversidade, que teve enfoque na participação de LGBTIs, pessoas com deficiência, mulheres e pessoas na terceira idade na sociedade e no mercado de trabalho brasileiros.<
De acordo com Murilo Cavellucci, diretor de Gente e Gestão da Catho — empresa que participou do evento com palestra —, as pessoas se sentem muito mais engajadas com um ambiente onde têm aprendizado contínuo. Por outro lado, as empresas ganham, porque percebem o retorno de diversidade por meio de uma maior produtividade e do envolvimento dos trabalhadores.
— A imposição de modelos pré-concebidos pode acabar excluindo pessoas brilhantes de organizações que têm um viés mais conservador. Acredito que a área de Recursos Humanos é uma peça fundamental na remoção dessas barreiras, de forma a viabilizar a criação de um time de funcionários plural, que reúne inúmeras opiniões e experiências diversas — opinou Cavellucci.
Empresas: falta programa de inclusão
O mercado de trabalho não está preparado para lidar com a diversidade, concluiu levantamento das empresas Vagas.com e Talento Incluir. Dos profissionais de RH entrevistados, 60% afirmaram que a empresa onde trabalham não tem programa de gênero. O restante afirmou que a maioria das ações é voltada para pessoas com deficiência (88%) e aprendizes (84%).
— É preciso que o assunto faça parte da agenda das empresas — disse Leonardo Vicente, coordenador da pesquisa.
Preconceito ou falta de informação são apontados como as principais dificuldades por 48%. Em seguida, aceitação e respeito dos gestores (25%) e dos colegas (14%), despreparo do RH (9%) e discriminação (4%).
Para o presidente da Elancers, Cezar Tegon, ao estimular a diversidade, há aumento de criatividade na equipe.
Depoimento - Toni Reis - Diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+
— Na Idade Média, éramos colocados na fogueira. Até 1984, era crime ser homossexual. Até 17 de maio de 1990, era uma doença. É claro que ainda há quem nos considere pecadores, criminosos, mas, hoje, 75% da população acreditam que a homossexualidade deve ser aceita com naturalidade. As empresas que não nos contratam são, muitas vezes, chefiadas por pessoas ligadas a religiões fundamentalistas ou são ultraconservadoras.
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Redação iBahia
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