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Saída do Ilê Ayiê no Curuzu e um universo de beleza

Com o tema “Diáspora Africana – Jamaica – Os afrodescentes”, o Ilê iniciou seu ritual de saída com o famoso “banho de pipoca”

• 15/02/2015 às 11:58 • Atualizada em 01/09/2022 às 23:26 - há XX semanas

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A ladeira do Curuzu é íngreme. Íngreme e estreita. Nas suas casas, simples e modestas, anúncios de “conserta-se fogão” e até mesmo de “coloca-se mega hair”. Nos bares, além das bebidas em geral, encontra-se também geladinho, caldo de feijão e outras iguarias feitas pelos próprios moradores do bairro. Quem sobe essa ladeira diariamente são as pessoas de formosura, pele escura e carne dura, enfim, as negras e os negros “beleza pura” que habitam na Liberdade. Contudo, na noite de ontem a ladeira do Curuzu foi tomada por gringos, mestiços de todas as ordens, representantes políticos e culturais que se fizeram presentes para reverenciar a saída do Ilê Ayiê.
Com o tema “Diáspora Africana – Jamaica – Os afrodescentes”, o Ilê iniciou seu ritual de saída com o famoso “banho de pipoca” para abrir caminhos. Em seguida, soltaram pombas brancas, simbolizando a paz que sempre pregam como ideologia dentro do bloco e, por fim, subiram pelas ruas da Liberdade com muita batucada, mostrando mais uma vez a força e a importância daquele momento para o povo negro.
Foto: Reprodução Flickr Secult
Vovô, um dos fundadores do Ilê, afirma que o bloco é um grito de resistência em Salvador, e que é de extrema responsabilidade colocá-lo para desfilar por mais de quatro décadas. “Nós temos um trabalho muito intenso, pedagógico, que vai além do carnaval. A gente também investe muito na juventude, porque a renovação do bloco passa por ela. E essa renovação vem ocorrendo não através de uma filosofia separatista, mas buscando uma cidade mais igual, menos perversa com o nosso povo negro. Essa juventude que está chegando vai dar continuidade do projeto até o momento em que contemplar os ideais do Ilê Ayiê”.
O bloco do Ilê nasce na década de 70, no bairro da Liberdade, em Salvador, em um contexto de soul music, black power e uma visão até então norte americana do “ser negro”. Dentro dessa conjuntura ele rompe com todas as barreiras, passando a criar uma proposta de carnaval afro-brasileiro, onde o intuito é mostrar um movimento estético cultural calcado na realidade social e antropológica do negro na Bahia.
Foto: Reprodução Flickr Secult
Filho direto do Ilê, o secretário de cultura do estado, Jorge Portugal, esteve presente na noite de ontem, participando de maneira alegre da saída do bloco no Curuzu. De acordo com ele, esses blocos afros, “principalmente o Ilê, que é o primeiro de todos, formaram uma consciência ao longo de décadas. Eles deram uma virada na cabeça do jovem negro da Bahia e do Brasil e trouxeram muitas consequências práticas e visíveis. Eu sou uma delas, sou fruto dessa cadeia. E hoje em dia, a auto estima, o auto respeito do negro consigo mesmo é um tesouro impagável que o Ilê Ayiê plantou e vem plantando em todos nós”.
O ritual de saída do bloco ainda contou com outras representações politicas e culturais como o governador da Bahia, Rui Costa, o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto e a apresentadora Regina Casé que, preparando-se para desfilar na avenida, advertiu: “O papel do Ilê Ayiê é também colocar o Brasil em contato com a sua própria realidade. É como se, sem o Ilê, sem a força dos blocos afros e o empoderamento dos negros, a gente se olhasse no espelho e visse só uma parte do rosto. isso é uma doença social muito séria. O Brasil tem que se olhar no espelho e se enxergar por inteiro. Dentro dessa perspectiva, o Ilê tem uma importância enorme”.
O Ilê Ayiê ainda se apresenta na segunda e terça-feira de carnaval, no circuito Osmar.
*Mariana Kaoos é repórter e colaboradora do iBahia no Carnaval 2015

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