Há quem o ame. E quem o odeie. O fato é que Chico Buarque é um dos baluartes da MPB. Com seus 70 e poucos anos (e uns 50 de carreira, fácil), o cantor passou por movimentos importantíssimos do país, conviveu com vários nomes da música, literatura e afins (Tom Jobin, Rubem Braga, Vinícius e Fernando Sabino já é até o bastante); e fora isso é um ótimo contador de histórias. Por isso que Chico: Artista Brasileiro é tão bem-vindo, mas sabe quando o conteúdo chama mais atenção pela forma? É o caso.
O documentário perscruta a vida de Chico desde a infância e a vida com seus pais, mas sobre um viés do “profissional Chico”, e como um artista é alimentado pela vida, não dá para descolar do seu lado pessoal, ora narrados pelo próprio, ora por amigos como Edu Lôbo, Maria Bethânia, Miúcha (sua irmã), gravações de Tom Jobim, entre outros. E entre causos sobre os processos de composição, solidão, sucesso, histórias de ditadura e política, artistas do calibre de Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Mart’nália, Adriana Calcanhoto, Péricles entre outros reinterpretam obras do cantor, escritor, músico, poeta, letrista e, segundo o mesmo, “ator nas horas vagas”.O problema do docudrama é que segue o procedimento operacional padrão: nada o difere de um doc comum; a fotografia é correta, o figurino usa azul em Chico afim de ressaltar os seus olhos e tudo o mais; assim como nas apresentações musicais, as cores de peças dos artistas pareiam com as telas coloridas do cenário. Tudo muito certinho, esquemático.
De certa forma, o filme não atende ao desafio de trabalhar com um artista que foi tão explorado (os 12 episódios da série produzida pela DirecTV em 2005 abrange-o abismalmente), por isso, muito provavelmente, a produção tenha ineditismo apenas para olhares naïves. Artista Brasileiro ensaia até um road movie sobre à procura de Chico pelo seu irmão alemão e que foi tema do seu do último livro – o qual trechos são narrados em of pela atriz Marília Pêra. Em vão: em poucos minutos espaçados, o que poderia ser o coração do documentário é apresentado em 10 minutos. Durante o documentário, Chico desmistifica o seu método de criação como letrista da mesma forma que o seu amigo Wagner Homem apresenta no livro “Chico Buarque: Histórias de Canções” (2009). E mais uma vez o método padrão de documentário atrapalha: em certo momento, onde o artista aproxima-se muito mais do processo Bretchiniano do que o de Stanilavski (em uma comparação com o método de atuação) a câmera começa a avançar, criando um ruído de dúbia e desnecessária interpretação; estaria o diretor imaginando que aquela “confissão” seria adentrar na intimidade de Chico? E assim é Chico: Artista Brasileiro: um documentário que dificilmente seria ruim pela figura abordada, mas que navega em uma imensa margem de segurança.
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