Um dos episódios mais polêmicos envolvendo a mídia norte-americana nas últimas décadas é o mote para ‘O Escândalo’, filme que conta a história de Megyn Kelly e Gretchen Carlson, duas âncoras da Fox News responsáveis por expor a nociva, velha e já tradicional cultura do assédio nas redações de TV. Em cena, Charlize Theron e Nicole Kidman interpretam as protagonistas que ajudaram a denunciar o CEO Roger Ailes, acusado de cobrar favores sexuais a algumas funcionárias em troca de cargos de destaque na emissora.
O caso eclodiu em 2016, durante a corrida presidencial que culminou com a eleição de Donald Trump. Aliada do então candidato, a Fox é apresentada como uma empresa conservadora, onde as âncoras precisam, antes de mostrar capacidade intelectual, exibir as pernas para prender a atenção do público. A objetificação da mulher é mostrada incansavelmente nas cenas em que as jornalistas são obrigadas a desfilar suas curvas nas salas dos chefes e pelos diálogos asquerosos dos diretores da empresa.
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Além de mostrar como esta cultura repugnante faz parte do meio jornalístico, o roteiro é lúcido ao apontar que o comportamento, de tão repetido, é visto por algumas mulheres como uma espécie de pedágio a ser pago em troca da ascensão profissional. Mesmo desconfortáveis com as insinuações, chantagens e propostas esdrúxulas dos seus superiores, muitas se submetem a este assédio por entender que qualquer tentativa de subverter a ordem estabelecida pode decretar o fim de uma promissora carreira.
Na história, a personagem vivida por Margot Robbie, indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel, deixa claro como são as regras do jogo e o ônus assumido por quem não aceita os termos pré-definidos. Por sinal, ela, Nicole e Charlize entregam um show de atuação. A história já serviu de inspiração para livros, séries de TV e até mesmo movimentos como o Time’s Up, fundado por celebridades de Hollywood, contra o assédio sexual na indústria do cinema. Com três indicações ao Oscar, ‘O Escândalo’ não só mostra quão nociva e repugnante é a cultura que trata a mulher como objeto, mas convida para uma reação feminina e cobra uma reflexão profunda de toda a sociedade.
Heyder Mustafá é jornalista e produtor cultural formado pela UFBA, editor de conteúdo da GFM e Bahia FM, apresentador do Fala Bahia e apaixonado por cinema, literatura e viagens.
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Redação iBahia
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