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CINEMA

Ponte dos Espiões: confira crítica do filme com Tom Hanks

Filme com Tom Hanks conta a história de um advogado americano é recrutado pela CIA durante a Guerra Fria

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22/10/2015 às 17:31 • Atualizada em 28/08/2022 às 16:26 - há XX semanas
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Cinemáticos Redação Cinemáticos
Poucos realizadores em toda a história do cinema conseguiram, simultaneamente, a unanimidade de crítica e público na proporção de Steven Spielberg. Idolatrado por platéias ao redor do planeta e reconhecido por quem entende de cinema como alguém capaz de entregar obras impecáveis nos seus aspectos técnicos aliados a histórias contadas com vigor, o diretor tem em seu currículo alguns dos filmes mais marcantes do séc. XX, além de sucessos que pautaram os rumos do cinema norte-americano – para o bem e para o mal. Por mais que Spielberg tenha seu nome no panteão dos grandes realizadores, há algo em comum entre qualquer outro artista e ele: vícios quase sempre incontornáveis que podem derrubar uma obra promissora. Ponte dos Espiões é o exemplo perfeito disso, um filme que demonstra o melhor e o mais simplório/apelativo do diretor lado a lado. A premissa é simples:James B. Donovan (Tom Hanks), o advogado bonzinho com o maior senso de justiça do planeta, é obrigado a defender um suspeito de espionagem (Mark Rylance) e, logo em seguida, negociar a sua troca por um soldado americano capturado na União Soviética. Entre reviravoltas contando com agentes da CIA e a Berlim Leste congelante o filme poderia ser mais um exemplo de cinema austero e acertado do diretor, mas logo toma outro rumo.
A “tensão calma” que abre o filme é a demonstração de que, quando se esforça, Spielberg ainda impressiona pelo domínio narrativo e consegue fazer muito com pouco. A fotografia do parceiro habitual Janusz Kaminski faz seu trabalho com honras e o design de produção, imediatamente, transporta o espectador para o fim dos anos 50. Tudo no lugar certo, a exemplo dos 40 minutos seguintes, quando o diretor parece estar na sua melhor forma, apostando na sobriedade e evitando até mesmo a utilização de música, decisão abandonada a partir do segundo plot point quando o filme começa a desandar.Brilhante também em capturar o zeitgeist paranóico da Guerra Fria, o diretor consegue um dinamismo esperto nos cortes lúdicos entre cenas, relacionando a infância figurativamente bombardeada por propaganda anti-comunista a jovens militares em treinamento com seus U2s, passando por agentes da CIA com seus sobretudos e o bom-mocismo do advogado Donovan entre pessoas não tão louváveis. Entre as poucas cenas de destaque temos a do avião de guerra dando pane e um ataque à casa de um dos personagens, capazes de, realmente, causar alguma impressão.
Se a técnica é muito bem realizada e o filme consegue agradar por seu universo bem estabelecido, o mesmo não pode ser dito sobre o roteiro. Escrito originalmente por Matt Charman e contando com uma revisão dos irmãos Coen, o longa parece várias vezes perdido em suas intenções. O desenvolvimento atrapalhado e sem graça em nenhum momento consegue tornar minimamente interessante a subtrama do piloto Francis Gary Powers (Austin Stowell), e a previsibilidade de como tornará-se parte da história principal chega a ser constrangedora.Como se não fosse o suficiente, o filme espera mais de uma hora até apresentar uma peça importante para as negociações de Donovan; o americano capturado em Berlim, Frederic Pryor, surge do nada e de forma tão artificial para a trama principal que é quase impossível dar a mínima para o fato do governo americano não estar preocupado em trazê-lo de volta, pois, apesar de apresentá-lo como alguém preso injustamente, o filme não faz nada além de mencionar seu nome constantemente em negociações. Até mesmo sua sequência de apresentação ao lado do muro de Berlim semi-concluído é preguiçosa.O mais lamentável é constatar que boa parte das virtudes são também falhas. O humor típico dos irmãos Coen é o suficiente para garantir cenas divertidas e diálogos que destacam-se facilmente se comparados a outros filmes do gênero. O problema é apostar demais nisso a ponto do filme tornar-se aguado e irreverente demais para causar qualquer impacto significativo. E aí começa a festa de burocratas patetas, de tortura (bem light) da KGB para tirar informações de Francis Powers enquanto o governo americano trata Rudolf Abel de forma digna e uma paranóia que poderia ser Kafkiana, mas não vai para lugar algum além da previsibilidade.
Diferente do recente Perdido em Marte – um filme que soube equilibrar-se perfeitamente na mistura de drama, tensão e comédia – aqui temos cenas isoladas que juntam-se sem causar lá muita graça ou qualquer profundidade dramática. Triste também é subestimar o espectador com letreiros enormes indicando o óbvio, a exemplo da palavra “Berlim” em letras garrafais seguida de um personagem praticamente falando “Bem-vindo a Berlim”. Até mesmo na ponte do título, Spielberg não se controla em sobrepor o lugar em questão com o seu nome escrito na tela. Em meio a tudo isso resta aos atores principais elevar o filme com seu carisma. Tom Hanks interpreta, obviamente, o bom moço, mas em nenhum momento um panaca. Não leva desaforo para casa e bate de frente com todos os burocratas e agentes duplos cheios de segundas intenções que aparecem. Sem uma interpretação competente de Hanks tudo estaria perdido, mas o veterano ator domina esse papel com facilidade. O outro destaque do filme digno de ser mencionado é Mark Rylance como Rudolf Abel, numa interpretação que pode facilmente garantir-lhe indicações e prêmios em 2016. Seu espião cansado, envelhecido, de fala baixa e calma desperta simpatia pela sua fragilidade sem deixar o bom humor de lado, e Rylance (que já havia mostrado talento fazendo justamente o oposto em O Franco-Atirador) aproveita cada segundo em tela, numa interpretação discreta, mas marcante nos seus detalhes. Apesar de alguns acertos em suas duas horas, a conclusão do filme também erra a mão de forma grosseira, num final que poderia apostar perfeitamente em algo sentimental ou terno, mas descamba para o piegas sem-vergonha. O que faz juz à própria obra, já que Ponte dos Espiões, apesar de bem intencionado, dilui tanto suas possíveis tensões ao ponto de tornar-se completamente descartável segundos após os créditos finais surgirem na tela. Resta torcer para que, em seu próximo projeto, Spielberg consiga segurar um pouco seus impulsos de querer emocionar a qualquer custo, especialmente quando não é necessário.

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