Dias das mães chegando e a coluna Gestão e Carreira traz uma entrevista com a Dra. Cristiane Pinto, mãe de 02 filhos, um de 09 e outro 12 anos. Ao longo dos últimos 12 anos, entendeu a importância em gerenciar o seu tempo para equilibrar, com qualidade, o cuidado tanto das crianças quanto do atendimento na sua clínica de dermatologia, onde se dedica exclusivamente ao cuidado de seus pacientes, atuando na parte cirúrgica, estética e clínica.
Dra. Cris, como é carinhosamente chamada pelos seus pacientes, é formada em medicina pela UFBA, fez residência em clínica médica e depois em dermatologia. É membro titular da Sociedade Brasileira de dermatologia e cirurgia dermatológica e, também, sócia da clinica de dermatologia CLID. Nessa entrevista ela fala sobre “maternidade tardia” e os desafios e prazer no equilíbrio das atividades.
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CS: Como escolheu a carreira de medicina? Teve alguma influência da família?
CP: Desce pequena sempre quis ser médica. Não podia ver ninguém precisando de cuidados que já ia colocar o Mertiolate. Ao meu redor não havia ninguém que tinha como referência naquela época. Não tinha médico na minha família. Eu fui a primeira. Gostar de biologia facilitou essa escolha.
CS: Mas quando escolheu medicina como profissão, você tinha ideia de como seria os “sacrifícios” que teria que fazer?
CP: Quando a gente chega no curso de medicina, o estudante sente logo os sacrifícios que vai ter que fazer. Uma prova é não é apenas o capítulo de um livro, é um livro inteiro de anatomia, por exemplo. Não é difícil, mas essa carreira é pra quem quer. Até porque toma tempo. Abre-se mão de atividades físicas e convívio com a família. Tem que ter dedicação. Eu comecei essa jornada aos 17 anos e percebi que as coisas não seriam daquele jeito que imaginava, mas estudar me encantava. E como estava certa na minha escolha, foi satisfatório.
CS: Então foi quando você começou a perceber que teria que estabelecer prioridades?
CP: Ah, sim! O circulo de amizade, por exemplo, acaba se fortalecendo ali. A vida social anterior acaba sendo mais sacrificada. É por isso que depois de formados, você vê muitos médicos andando com outros médicos (risos). Mas foi onde foquei e estava determinada em seguir em frente. E já naquele início, percebi que a mulher médica tem certa consciência que vai ter filhos mais tarde. Estava focada na construção da minha carreira e abdicar não me incomodava tanto. Não foi surpresa que teria esse caminho um pouco mais longo.
CS: Então você se dedicou aos estudos e à construção da sua carreira. E quando foi que você sentiu que havia chegado a hora de ser mãe?
CP: Cristiano, eu conheci meu marido no final da faculdade. Namoramos uns cinco anos e só fui casar no final da minha residência em Dermatologia. A minha prioridade era minha vida profissional. E meu marido sabia disso. Claro que fiz um planejamento para o momento de ser mãe. Me estruturei profissionalmente e financeiramente para ter filhos. E lá pelos 33 anos comecei a tentar engravidar. Mas a vida me pregou uma peça. Tive muita dificuldade. Eu amava ser médica, mas, também, queira muito ser mãe. Muita gente falava pra eu desistir. Imagine aí: eu fiz 07 fertilizações, fui insistente e até que na 8ª tentativa, vingou. Aí eu já estava com 38 anos e pari aos 39. Na minha época fui considerada uma “mãe tardia”. Risos
CS: Imagino que aí começaram os desafios de equilibrar a vida profissional e a maternidade. Como foi experienciar isso aos 40 anos. ?
CP: Foi bem difícil porque meu primeiro filho nasceu prematuro. E lembre que sou médica e tenho minha clínica. Então, não tive licença maternidade. Foi nessa hora que despertou a necessidade de gerir o tempo. A minha dedicação à medicina e também ao meu filho. Minha rede de apoio, naquele momento, foi importante. Lembro que naquela época o instinto maternal era tão forte que até pensei em deixar a medicina.
CS: Essa necessidade da gestão de tempo sempre entra em nossas vidas, para conciliar nossas atividades. Como é que você organizou sua vida naquele momento?
CP: Eu entendi que tinha gerenciar carreira e maternidade. Na verdade, Cristiano, os 10 congressos no ano que tinham na minha área, eu ia em todos. Cresci profissionalmente e a minha clínica também. Toda essa dedicação à carreira me trouxe retorno e benefício. Mas depois da maternidade tudo mudou. E a gestão de tempo me fez entender que teria que abrir mão de algumas coisas. E, sinceramente, a maternidade acabou trazendo mais metas, foco e objetivo. Achei que iria ter dificuldade, mas acabou ampliando. Entendi que teria que abrir mão de algumas coisas.
No momento que a gente tem filho, entende que queremos continuar profissionalmente ativas também. Para meus filhos estarem bem eu também tenho que estar bem. Depois que a gente é mãe, descobre que é capaz de gerenciar o tempo, sim. (risos)
CS: Filhos? Então são dois? Como foi a chegada do segundo e esse novo gerenciamento?
CP: Aos 41 anos tive uma supresa. Engravidei de novo! Só que dessa vez espontaneamente, sem a expectativa anterior. Mas já estava num momento profissional melhor. Estava tudo mais estruturado. Dessa vez, como já havia entendido a importância da gestão do tempo, reduzi minha carga de trabalho. Naquela época era um de 03 anos em casa e um recém nascido. No início até achei que teria que trabalhar mais, mas acabei reduzindo o tempo de clinica mesmo.Pensei além da gestão do tempo, planejei a qualidade do tempo.
Quando tive meu segundo filho percebi que a qualidade do tempo é também importante. Aí mudei minha vida profissional pra melhor. No início foi difícil. Pensei que não conseguiria pagar os boletos e que os pacientes iriam me deixar. Mas com o passar do tempo percebi que continuava produzindo bem e com qualidade. A gente quando é mãe tem que ter cuidado para não ser sequestrada pelo sentimento de culpa.
CS: Você pode compartilhar as vantagens e desvantagens de ser mãe aos 40?
CP: A vantagem é o aspecto profissional. A gente se sente mais segura para essas mudanças. Justamente por causa da estrutura já criada anteriormente. A desvantagem é o risco de não engravidar, medo do futuro, medo da saúde, os medos da maternidade e o medo de adoecer. Ser mãe aos 40 é diferente de ser mãe aos 30.
CS: Você se dedica ao trabalho e aos filhos. Normalmente escuto que médicos cuidam dos outros e acabam esquecendo de cuidar de si mesmos. (risos)
CP: Eu falando aqui da qualidade do tempo e deixei de lado a atividade física. Foi uma coisa que inconscientemente abri mão. Mas me dei conta que queria acompanhar a vida dos meus filhos e para isso precisava me cuidar. Como médica eu sei que um dos pilares da saúde é a atividade física, então uma nova reorganização na rotina. (risos). Além da gestão da qualidade de tempo veio, também, a gestão da qualidade de vida.
Tenho que lembrar que a maternidade, também, aprimora habilidades profissionais: ouvir o outro, a compreensão e o tempo de cada um. Hoje na medicina isso faz diferença no profissional. O atendimento mais humanizado.
CS: Do jeito que você está falando foi um desafio, mas parece que agora está tudo bem estruturado. É isso mesmo?
CP: Equilibrar maternidade e carreira foi um grande desafio no início, mas com o passar do tempo a gente vai pegando o jeito. Acordo 05 da manha. Faço o meu café o café do meus filhos, deixo eles na escola e depois vou pro trabalho. Só saio na hora de pegá-los. Aí passo lá e voltamos pra casa. Quando chego é hora de cuidar da minha saúde e das crianças.
Eu ainda tenho muito gás de trabalho. Pra estudar mais, me aprimorar mais e empreender mais. Agora mesmo estou investindo em novos equipamentos da minha clínica. Dá trabalho? Dá trabalho! Mas me dá prazer também. E esse prazer me alimenta com energia pra ser mãe. Agora mesmo são nove horas da noite e depois que finalizar essa entrevista vou ver se o meu mais velho terminou de fazer o dever de matemática. Meu marido acabou de chegar do futebol com o mais novo.
Hoje enxergo e sinto que essa rotina me mantém ativa e alerta com mais disposição para o trabalho e qualidade de vida para gerenciar o tempo e acompanhar o desenvolvimento dos meus filhos
Cristiano Saback
Cristiano Saback
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