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Viva Moraes Moreira, a figura que moldou o Carnaval de Salvador

Músico baiano morreu há exatos 2 anos, no Rio de Janeiro, mas é lembrado por contribuição indispensável para a nossa festa: o cantor de trio elétrico

Redação iBahia • 13/04/2022 às 18:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 17:03 - há XX semanas

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Moraes Moreira no palco que melhor lhe cabia: o trio elétrico (Foto: Amanda Oliveira/GOVBA)

Uma das maiores alegrias que a profissão de jornalista me deu foi ter conhecido, mesmo que rapidamente, o cantor e o compositor Moraes Moreira. Foi um encontro rápido, no camarim montado para o seu show no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), apenas para passar a agenda de entrevistas antes da apresentação. Rápido, mas marcante. Ele demonstrava estar um tanto quanto contrariado com a necessidade de receber aqueles jornalistas, falou burocraticamente com as equipes de reportagem e subiu no palco para cantar.

Aprendi a admirar Moraes ainda criança, ouvindo os discos de meus pais em casa. Depois, fiz parte da geração de jovens dos anos 2010 que redescobriu os 'Novos Baianos' e deu novo fôlego para a carreira do grupo, que não se reunia desde meados da década de 1990. Também estive entre os foliões que foram atrás do trio de Moraes nos seus últimos carnavais. Nesta quarta, 13 de abril, completamos 2 anos sem ele. O artista morreu no Rio de Janeiro após sofrer um infarto agudo no miocárdio. Até mesmo sem contar os hits que ele emplacou na carreira, a lista de feitos de Moraes é extensa e o torna um dos principais nomes da música popular brasileira:

  • Como um dos fundadores dos 'Novos Baianos', ele ajudou a construir os rumos estéticos da música brasileira;
  • Foi o primeiro cantor de trio elétrico, o que abriu espaço para o Carnaval de Salvador se tornar o que é hoje;
  • Tem um estilo de tocar violão bastante peculiar, que mistura a técnica da bossa nova com outras levadas importadas das percussões dos blocos afros.

A Praça Castro Alves talvez tenha sido o lugar mais emblemático para Moraes em sua carreira. Foi lá, em 1975, que ele burlou a regra do trio 'Armandinho, Dodô e Osmar' e pegou o microfone para animar a multidão. Com isso, se tornou o primeiro cantor de trio elétrico e rompeu a característica essencialmente instrumental que marcava as formações desde 1950. Em 22 de fevereiro de 2020, também na praça do poeta, Moraes Moreira fez a sua última apresentação no Carnaval de Salvador.

A relação do artista com a folia soteropolitana nesses quase 50 anos de cantoria nem sempre foi amigável. A explosão do Axé Music, que trouxe consigo um processo predatório de exploração comercial da festa, afastou o cantor do trio elétrico durante os anos 1990. Ele sempre marcou posição contrária à venda de abadás, as cordas e toda a estrutura montada pelos blocos. Foi apenas em 2000, que o músico se reconciliou com o Carnaval de Salvador e voltou a desfilar, mas sempre sem cordas.

Contudo, houve alguns momentos em que a sua importância não foi devidamente respeitada. Seus desfiles aconteciam em estruturas montadas pela Prefeitura de Salvador ou pelo Governo da Bahia e, em 2017, recebeu um trio elétrico precário para desfilar. Era um ano especial, quando Moraes comemorava seus 70 anos e estava programado para participar do Carnaval no domingo e terça da folia, no Circuito Barra-Ondina. Contudo, em nenhum dos dois dias ele conseguiu concluir a apresentação, porque o trio elétrico quebrou no meio do caminho. Ficamos aqui com essa dívida, que não conseguimos pagar em tempo.

O consolo é que, salvo os episódios de desfeitas ou descasos, Moraes Moreira morreu sabendo que havia um grande reconhecimento por todo o seu trabalho e dedicação, que deixou contribuições para o Carnaval, para a música do trio elétrico e a música brasileira como um todo. Ele já não estava mais no auge, não recebia convites para os melhores espaços ou casas de show, mas também não estava no ostracismo e nem vivia publicamente com dificuldades financeiras. Por aqui, nos cabe continuar a falar da sua importância e reverenciar seu legado.

Marcelo Argôlo*
Jornalista e pesquisador musical que acompanha o cenário musical baiano desde 2012. Mestre em Comunicação pela UFRB, ele é autor do livro Pop Negro SSA e mantém ainda o Instagram @popnegroba sobre a música pop negra da Bahia.



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