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Boas conversas são fundamentais para o cérebro das crianças

Pesquisadora de Harvard diz que o diálogo faz diferença desde os primeiros meses de vida

Redação iBahia • 27/04/2018 às 23:02 • Atualizada em 28/08/2022 às 13:40 - há XX semanas

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A professora Meredith Rowe, da Escola de Educação da Universidade Harvard, quer estimular os pais a conversar mais – e melhor – com seus filhos. Meredith estuda como crianças desenvolvem a habilidade de trabalhar com a linguagem – como aprendem a falar, ler, escrever e compreender números. Segundo sua pesquisa mais recente, ter "boas conversas" desde os primeiros meses de vida é fundamental para o desenvolvimento do cérebro infantil e tem impacto importante no futuro dos pequenos.
Foto: Reprodução
Meredith e seu time gravaram, por dois dias, as interações que 36 crianças, entre 4 e 6 anos, tinham com seus pais e cuidadores. A qualidade desses diálogos foi medida de acordo com o número de "idas e vindas" da conversa: o número de vezes em que a criança perguntava e o adulto respondia — e vice-versa. As mesmas crianças passaram por exames de ressonância magnética. O resultado foi que a área do cérebro responsável pelo processamento da linguagem era mais ativa naquelas que tinham experimentado diálogos mais significativos. Segundo Rowe, as conversas ajudaram a moldar o desenvolvimento do cérebro infantil.
Suas conclusões se unem as de outros estudos que, desde os anos 1990, apontam que crianças que escutam mais palavras dirigidas a elas, nos primeiros anos de vida, tem maior facilidade na alfabetização e melhor desempenho escolar. Ela também ressalta a importância de se investir na primeira infância, um período crucial para o desenvolvimento do cérebro.
De que forma boas conversas alteram o cérebro da criança?
A conversa muda a forma como o cérebro infantil processa a linguagem. Exames de ressonância magnética nos mostraram que, naquelas crianças que se expressavam mais em casa, as áreas do cérebro responsáveis pela linguagem eram mais ativas. E, na verdade, não dá pra dizer que essa conclusão seja surpreendente. Crianças que têm maior exposição à linguagem aprendem a utilizá-la melhor. Seus cérebros estão mais aptos a isso.
Quais os efeitos desses estímulos durante a primeira infância?
Ele traz vantagens cognitivas. As crianças que têm melhores conversas tendem a ter um vocabulário maior. Crianças que falam sobre o que pretendem fazer no dia seguinte desenvolvem habilidades de planejamento. E, ao falar sobre o que fizeram no dia anterior, estimulam a memória. Mais tarde, essas crianças aprendem a ler e escrever com mais facilidade. Essa base é importante porque as habilidades linguísticas desenvolvidas nos primeiros anos de vida estão diretamente relacionadas com o desempenho escolar mais tarde.
Seu estudo se dedicou a crianças com até seis anos. Anos mais tarde, boas conversas não trarão os mesmos benefícios?
Nessa fase da vida, o cérebro tem maior plasticidade — ele se adapta, muda e se desenvolve mais rapidamente. Conforme envelhecemos, criamos novas conexões entre os neurônios e toda essa plasticidade diminui. A mera exposição à linguagem já não faz tanta diferença no desenvolvimento cerebral a partir daí.
Você diz que falar muito com as crianças não basta. O importante é que as crianças tenham "boas conversas". O que isso significa?
Significa permitir que a criança se envolva no diálogo. Diversos trabalhos, a partir dos anos 1990, mostraram que as crianças que ouviam maior número de palavras, nesse primeiros anos de vida, adquiriam maior vocabulário e tinham habilidades linguísticas melhores. Essa conclusão não está de todo errada. O que descobrimos é que o número de palavras não importa tanto quanto a qualidade dessas interações. Às vezes, quando as pessoas escutam que é importante falar com suas crianças, pensam que basta falar na presença delas. E não com elas. São as idas e vinda da conversa, em que a criança fala e o adulto responde, e vice-versa, que fazem a diferença.
A lição disso tudo talvez seja: "Deixe as crianças falarem".
Isso. É importante desafiá-las. E a maneira de fazer isso varia conforme a idade. Com crianças de 2 anos, você pode fazer perguntas sobre um objeto que está diante delas. Crianças mais velhas são capazes de manter conversas mais complexas, de falar sobre planos. Uma dica que dou aos pais é que eles demonstrem interesse pelo que os filhos estão fazendo. Façam comentários sobre a brincadeira da vez – e deixem que a criança tome a iniciativa de falar a respeito.
Isso vale também para bebês?
O bebê começa a aprender desde o momento em que nasce. Ele se comunica sorrindo, ou tentando alcançar algo. E vai se desenvolver melhor se puder interagir com os pais. A comunicação não precisa envolver palavras. Pode ser feita com gestos ou gorgolejos.
Você aponta que habilidades linguísticas são influenciadas por status socioeconômico. Como funciona essa relação?
Um estudo importante de 1995 mostrou que, quando chegam à escola, as crianças de famílias mais pobres tiveram contato com 30 milhões de palavras a menos que seus colegas de famílias mais ricas. Mas o que nosso trabalho sugere é que a situação econômica importa menos que as experiências a que essa criança é exposta. Se ela puder interagir com pais ou cuidadores e for estimulada nesses primeiros anos, o peso da situação econômica diminui. Isso é animador. Uma criança não está fadada a ter habilidades linguísticas piores só porque nasceu em uma família de baixa renda.
Ter acesso à pré-escola ajuda a compensar um ambiente familiar pobre em estímulos?
A pré-escola é importante - sobretudo para essas crianças vindas de famílias mais pobres. Mas, obviamente, a qualidade do ambiente escolar faz muita diferença. E é fundamental que se invista na formação dos profissionais que trabalham nesses ambientes.
Você tem projetos focados em alunos de escolas em vizinhanças de baixa renda. Que tipo de intervenções são essas?
Trabalhamos com os pais dos alunos, de modo a dar-lhes informações sobre como se comunicar com seus filhos em diferentes idades. Sobre como tornar o ambiente doméstico um ambiente de aprendizado. Não é preciso fazer mudanças complexas. Estimulamos os pais a conversar com os filhos durante o jantar, por exemplo, a respeito do que a criança fez durante o dia, ou o que planeja fazer no dia seguinte. Também estimulamos os pais a conversar com seus filhos — ainda que as crianças não sejam capazes de responder com palavras — por meio de gestos, gorgolejos, apontando para objetos. É assim que as crianças aprendem. Muitas vezes, basta dar aos pais pequenas dicas que podem ser úteis, e não ditar uma receita de como educar uma criança. E os pais acham essas dicas úteis.
Como o poder público pode atuar nessa área?
Talvez a chave seja incentivar programas que preparem os pais para prover seus filhos com esses estímulos. Dicas de como criar diálogos estimulantes, de como desafiá-los. E é importante criar espaços de aprendizagem nas cidades, lugares onde as crianças possam brincar, interagir umas com as outras, onde haja informações que as mais velhas consultem. E políticas que ensinem ao público a importância de se investir na primeira infância, ensinem como são valiosas as experiências das crianças nessa fase para o seu desenvolvimento futuro.

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