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TEATRO

Novo espetáculo do BTCA entrelaça corpo, memória e tecnologia

'Gretas do Tempo', apresentado no Palácio Rio Branco, e é um mergulho nas memórias da companhia, dos bailarinos e de Salvador

• 16/08/2014 às 19:26 • Atualizada em 01/09/2022 às 16:43 - há XX semanas

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O Balé Teatro Castro Alves apresenta ao público um novo e inovador projeto de dança, concebido pela artista e pesquisadora Ivani Santana em parceria com o também pesquisador Sandro Canavezzi. A dança e vídeoinstalação 'Gretas do Tempo' é um mergulho nas memórias da companhia, criada em 1981, dos seus bailarinos e na própria cartografia afetiva da cidade de Salvador. Reunindo vídeodança, soundwalk e instalação interativa, o espetáculo é construído a partir da intersecção com a tecnologia, que aparece como mediação da produção artística contemporânea. A apresentação pode ser vista neste domingo, às 10h e às 19h, saindo da Praça da Sé em direção ao Palácio Rio Branco, na praça Tomé de Souza. Desde o convite feito pelo BTCA até o projeto ser colocado em prática se passaram dois anos. Ivani Santana estava no seu período de pós doutoramento no Sonic Arts Research Center (SARC), em Belfast, na Irlanda do Norte, quando o Núcleo de Estudos, Pesquisas e Ações Coreográficas manifestou interesse em tê-la realizando um trabalho cênico com seu elenco cuja prioridade fosse o processo investigativo do bailarino, não a obra cênica em si mesma. Segundo a artista, o projeto já nasceu com o interesse de atuar no campo da dança com mediação tecnológica, linha de pesquisa que segue desde a década de 1990. "Desde o início, percebi a proposta de forma entusiasmada uma vez que me parecia fascinante trabalhar com bailarinos que participam há tanto tempo de uma companhia estável da magnitude do BTCA que conta com uma trajetória longeva na qual vários e distintos coreógrafos já haviam atuado", conta a artista no site do projeto. Ivani revela também que a curiosidade de descobrir como seria "trabalhar com corpos marcados por experiências tão diversas, corpos maturados pelo tempo e pelas diversas proposições estéticas a que foram expostos" foi um estímulo para a nova criação.
Idealizado pela artista e pesquisadora Ivani Santana em parceria com o também pesquisador Sandro Canavezzi, "Gretas do Tempo" estreia neste mês no Palácio Rio Branco, em Salvador
As atividades de 'Gretas' começaram no final de maio. O cenário do projeto é o histórico Palácio Rio Branco, localizado na Praça da Sé, próximo ao Elevador Lacerda e à prefeitura. Devido à importância do espaço físico nos espetáculos de Ivani, sempre aproveitado ao máximo independente do tipo de tecnologia que utilize, tanto o Salão Nobre quanto a varanda do Palácio serão ocupados. Na entrada, as vídeodanças estarão como um portal para a entrada do público. Na varanda, haverá espelhos e tablets com as imagens do trabalho. No espetáculo de dança telemática, ou arte em rede como prefere-se chamá-la atualmente, Ivani trabalha o conceito de "corpo-sonoro", ou seja, o som construído a partir do próprio corpo. Em 'Gretas do Tempo', a trilha sonora se construiu através das vozes e das sonoridades produzidas pelos corpos dos bailarinos, sejam elas orgânicas, acústicas ou simbólicas. A instalação é dividida em três nichos, interconectados em rede, que filmam continuamente e captam o som dos visitantes, o que possibilita a interação entre eles. No projeto, esses nichos são transformados em uma performance pelos bailarinos do BTCA. Segundo Ivani, 'Gretas do Tempo' brinca com a noção de tempo, de modo que as temporalidades são trocadas e, a cada momento, estão enviezadas. "A interferência de um nicho em relação ao outro se dá por meio de geração de gretas, fendas no tempo e no espaço, que conectam passado e presente, local e remoto". Ou seja, se o espectador presente na instalação chegar na frente de uma das câmeras instaladas no espaço e ficar se mexendo, produzindo movimento, o que ele vai ver é quem esteve no passado naquele mesmo lugar. A todo momento, o público é estimulado a imergir em suas próprias memórias através das imagens de geração simultânea.
"A performance é feita pensando na instalação, ou seja, a gente não transformou a instalação no nosso cenário no sentido de ter um operador de luz, como em teatro, por exemplo. Nós, literalmente, chegamos na instalação e a usamos do jeito que está. Ninguém vai mudar o computador ou o dispositivo. Isso importa para dizer que qualquer um faria o que a gente está fazendo. Qualquer um se instala nesta instalação e cria poéticas desta natureza", explica a artista. Com duração aproximada de 40 minutos, a performance inclui também o soundwalk, ou caminhada sonora, ação rara no Brasil e nunca realizada na Bahia. O soundwalk é composto por cinco áudios gravados, cada um produzido por um dos bailarinos do espetáculo, que devem ser baixados gratuitamente para serem ouvidos durante a caminhada da Praça da Sé ao Palácio Rio Branco. De acordo com a narrativa escolhida, o trajeto poderá ocorrer pela Rua da Misericórdia ou pela Rua José Gonçalves, virando à direita na Ladeira da Praça em direção ao Palácio. O ponto de encontro será na Sé, próximo ao Cine Excelsior, às 18h, na frente do busto de Dom Pero Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do Brasil, colocado para nos lembrar da Igreja da Sé destruída em 1933. Na caminhada da dança, os elementos visuais não são condições prioritárias. A proposta é aguçar percepção do público para que ele priorize imaginação e audição em seu processo de apreciação e fruição dos áudios. A ideia é possibilitar uma outra forma de intimidade entre espectador e bailarino, de maneira que este espectador consiga imergir na narrativa que entrelaça as paisagens da cidade ao corpo do dançarino, escutando a dança desse corpo. Por este motivo, recomenda-se para quem vai participar que baixe antes os áudios das narrativas e utilize fone de ouvido para melhor compreensão das nuances sonoras.
'Gretas do Tempo' será o primeiro trabalho de visibilidade, totalmente mediado pelo Núcleo de Pesquisa, Memória e Documentação, embora ao longo de sua existência ele venha colaborando com todos os trabalhos do BTCA. "Esse convite de Ivani faz parte da nossa proposta de convidar pesquisadores e artistas, que possam trazer sua pesquisa para o núcleo. E aí o bailarino, nesse lugar, descobrir como ele pode através da pesquisa, da sua arte e do seu tempo de repertório adquirido, pode contribuir verdadeiramente para a dança", explicou Lícia Morais, coordenadora do núcleo e uma das bailarinas do espetáculo. Com mais de 50 anos na dança, Lícia diz que não poderia passar esse tempo fazendo as mesmas coisas, por isso a necessidade de renovar. A ideia é articular a longevidade à contemporaneidade. Existem trabalhos com tecnologia, mas com essa característica de pesquisa, de ir para o laboratório vivo, no corpo do bailarino... é a primeira vez. A função do núcleo de pesquisa é justamente trazer esse acompanhamento da contemporaneidade, quebrar paradigmas de companhia oficial, trazer a pesquisa, a inovação, acompanhar a contemporaneidade. E essa pesquisa de Ivani Santana é uma pesquisa de poéticas tecnológicas de ponta", enfatiza. A bailarina acredita que o bailarino é naturalmente um pesquisador. No momento em que ele entra em uma sala de aula ele se coloca, se examina, sente seu corpo. Mas quando une essa naturalidade à uma pesquisa sistematizada o resultado é surpreendente. Além disso, também defende que a função de uma companhia não é somente mostrar ao público os espetáculos, mas propor diálogos que contribuam para a dança. "O núcleo de pesquisa é justamente essa proposta de mobilizar o bailarino para ele se reconheça também com interprete, criador e pesquisador naturalmente", ressalta Lícia. "O núcleo de pesquisa está muito feliz, e eu acredito que o BTCA também está por trazer esse trabalho para a cidade, com essa participação do público e essa intervenção urbana. O público vai estar corpo a corpo com o bailarino, ouvindo e sentindo, construindo o espetáculo junto. No sentido de uma companhia oficial, essa é uma proposta nova, que antes de ser um trabalho de pesquisa, é um trabalho artístico", finaliza a bailarina. Segundo Ivani Santana, o desafio dos bailarinos Aguinaldo Fonseca, Lícia Morais, Lila Martins, Paullo Fonseca e Rosa Barreto, de resgatar suas memórias através da exploração e exposição do "corpo-sonoro" não só foi atingido, como o fizeram com êxito tanto no que diz respeito à investigação corporal quanto à estética. Além de Canavezzi e dos bailarinos, também integram a equipe da artista o músico Felipe André Florentino e o cenógrafo Joaquim Viana.
"Memórias de uma memória: videodanças" O quebra-mar da marinha, o Forte São Marcelo, o subsolo do Mercado Modelo, os jardins do próprio Palácio, o mar e a Praça da Sé são os cenários escolhidos para entrelaçar as memórias corporais dos bailarinos e as memórias de Salvador no conjunto de vídeodanças criado para o projeto artístico "Gretas do Tempo". Não somente a linguagem da vídeodança foi utilizada como também foi explorado o corpo-sonoro de cada bailarino para construir a trilha de cada vídeo que deve ser escutado com fone de ouvido e, de preferência, aqueles que cobrem a orelha isolando parcialmente a audição dos ruídos ambientes. [youtube dbJK-2BkXFE] [youtube 8atseNcuzWQ] [youtube cybnd8_H_UM] Radicada em Salvador há 11 anos, Ivani Santana é natural de São Paulo e sempre trabalhou com novas mídias. Atualmente é professora do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia. *Com orientação e supervisão de Márcia Luz

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