Saulo Fernandes, 34 anos, foi o cara do Carnaval baiano 2012: liderou o processo de revitalização do circuito Campo Grande, com grandes artistas se apresentando sem cordas para a multidão, e a banda Eva emplacou a música de maior sucesso da folia: Circulou (Magary Lord, Fábio Alcântara e Leonardo Reis). Fechando o Verão, o Eva lança CNRT – Conexão Nagô Rede Tambor (Som Livre, R$ 19,90), um álbum duplo com 30 canções. Uma ousadia, pois não, e o segundo disco duplo da história da axé music, sendo que o primeiro (e fracassado) Corpo Cabeça (2000), de Netinho, tinha 14 canções no total. A boa fase de Saulo é consequência de um processo de amadurecimento que deu seu primeiro bom fruto em 2007, com o DVD/CD Veja Alto, Ouça Colorido. Naquele ano, seis após Saulo assumir o vocal do Eva, ele conseguiu imprimir sua personalidade ao grupo. Em 2009, o Eva deu um passo à frente com o DVD/CD Lugar da Alegria. Num processo de criação coletiva e com participação especial de Mr. Brown e Margareth Menezes, entre outros, o vocalista – que adora black music – aumentou a aproximação com a estética afro-baiana. Não satisfeito, na hora de gravar CNRT – Conexão Nagô Rede Tambor, Saulo incorporou os fãs no processo de desenvolvimento do álbum, com o público podendo acompanhar e opinar sobre as canções no site www.cnrt.com.br. Curiosamente, a ousadia do número de faixas de CNRT resulta na diminuição do seu brilho. Afinal, manter a unidade e a bola alta em 30 canções inéditas seria uma missão impossível até mesmo se Saulo fosse um gênio pop como o americano Prince.
O poeta inglês William Blake (1757-1827) escreveu que “O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria”. Sim, mas também pode levar o viajante à autoindulgência. Uma produção mais rigorosa, por exemplo, perceberia a fragilidade de boa parte das 15 canções do disco 2, o Rede Tambor, quando “o lado mais lúdico e romântico” da banda apresenta músicas repetitivas e menos inspiradas como Que Viagem, Fica na Luz, Dar Risada e Parceria, além da medíocre Sobre o Amor (com participação de Adelmo Casé), balada pop brega com sabor anos 80. Balanço Rede Mar, com groove afro axé; a abolerada Oração do Terço (com participação do arrocheiro Pablo); o samba Além de Todo Mal; e a delicadeza sofisticada de Lá do Alto Céu e Carrossel são as canções que não deixam o CD 2 se perder 100%, mas que não o salvam da irregularidade. Já o disco 1, Conexão Nagô, com “sotaque” mais baiano, é muito bom. Nele, Saulo Fernandes, um artista que contraria os clichês da axé music, une com prazer e naturalidade todas as pontas do que o faz feliz na música baiana de ontem e de hoje, do frevo ao pagode do Psirico, da chula de Santo Amaro ao axé, do samba-reggae ao afro pop. De Bom Te Ver a Dia de Frevo, tudo seduz. Z de Zazá, com participação de Dan Miranda ( Filhos de Jorge), é capaz de provocar inveja criativa en Carlinhos Brown pela pulsação rítmica, originalidade da ideia e linha contagiante de baixo by Gigi. No resumo, a banda Eva de Saulo Fernandes, o maior nome da axé music neste momento, expande os limites do enfraquecido segmento e aponta novos caminhos para o mesmo. E isso não é pouca coisa.
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