Como explicar Gaby Amarantos? Talvez com uma hipotética escala de extravagância, colocando em uma ponta o minimalismo em sua máxima expressão – um quarto todo branco é uma boa medida. Na outra extremidade, imagine um trono de cetim roxo e luzes piscantes com a cantora paraense de 33 anos.
Bem-vindo ao mundo do tecnobrega, que já bombava no estado nortista há uma década, e agora aporta – cheio de glamour genuíno e popular – no resto do Brasil. E engana-se quem acha que a galhofa é sinal de falta de profissionalismo ou apuro estético. Gaby leva a música bastante a sério. Prova disso é o primeiro disco da carreira solo da paraense, Treme (Som Livre), produzido por Luiz Félix Robatto, com direção artística de Carlos Eduardo Miranda. Destaque para Ex Mai Love, música de abertura da novela Cheias de Charme, sucesso atualmente exibido pela Globo/TV Bahia. Tem ainda Pimenta com Sal, gravada com Fernanda Takai, do Pato Fu, e Chuva, de Thalma de Freitas e Iara Rennó. AparelhagemGaby Amarantos nasceu na periferia de Belém e cedo começou a cantar em uma paróquia da região. O sucesso a nível estadual veio quando entrou para a banda Tecno Show. “Éramos os Beatles do tecnobrega”, compara, aos risos. Já corria na cantora o gosto pelo estilo que mistura a música brega com batidas eletrônicas e tem influência de ritmos paraenses, como o carimbó. Em destaque no palco, o DJ promove as fusões, comandando as picapes em uma estrutura no estilo nave espacial. É a aparelhagem. Mas a coisa passou a ficar séria de verdade, como ela mesma diz, em março deste ano, quando Gaby soube que Ex Mai Love tinha sido escolhida para a abertura de Cheias de Charme. “Pensei: caramba, agora vai”. Aos poucos, o Brasil passou a conhecer a artista, que quer se firmar como dona de uma identidade própria. Ficou para trás a fase Beyoncé do Pará, como foi apelidada em 2010, após gravar Tô Solteira, versão em português de Single Ladies, da cantora americana. Apesar de nunca ter se incomodado com o apelido, a paraense não gosta quando insinuam ser tudo uma estratégia para pongar no sucesso alheio.
Rádio da Guiana Mesmo com toda a badalação em torno de seu trabalho, no Rio e em São Paulo, Gaby Amarantos continua morando em Belém. “Com muito orgulho, no mesmo bairro de Jurunas, onde nasci, apenas atravessamos a rua para uma casa maior”, conta. O verbo ‘mudamos’, no plural, engloba também os pais, o filho de 3 anos, o irmão, a irmã, o cunhado e a sobrinha, que vão onde Gaby for. A infância foi bem humilde, “mas com dignidade”. Neste período, gostava de sintonizar no rádio estações AM da Guiana, país vizinho ao Brasil. Das ondas distantes chegavam ritmos caribenhos, como cumbia e merengue. Tudo isso formou seu caldo primordial de referências. ‘Conheceu’ também as divas americanas Ella Fitzgerald (1917–1996) e Billie Holiday (1915–1959), mas isso só veio mais tarde, junto com a MPB. Na sarjetaA loucura visual de Gaby Amarantos é ainda mais evidente no clipe da música Xirley, um plano-sequência feito em estúdio e rico em elementos, personagens e cores. Tem até vendedor ambulante comercializando discos e DVDs piratas. Uma irônica autorreferência - os artistas do tecnobrega fizeram fama assim, para horror das grandes gravadoras. Gaby jura de pés juntos – calçados em poderosos sapatos de salto altíssimo – que essa coisa de personagem não existe. “Sou dessa forma, não tenho medo de ousar, de exagerar, não me importo se fulano ou sicrano não gostar”. Suas músicas versam sobre as dores do coração, com direito a muito álcool para afogar as mágoas. Como em Ela Tá Bêba Doida (“Ela chegou, ela é um perigo. Só sai da mesa quando seca um litro”). A inspiração vem dos bairros populares de Belém. “Lá, não importa se a mulher está com raiz do cabelo preta. Se ela perdeu o homem ou levou chifre, vai beber, se jogar na sarjeta”, conta. “É essa alegria que o Pará está ensinando. Quem sai na coluna social não aparece de pileque na foto”. PatolinoO nome do álbum, Treme, mostra que a intenção é botar o povo pra quebrar tudo na pista. A moça garante que o paraense não deixa barato. “Tanto é que acabou surgindo o tecnomelody, versão mais lenta do tecnobrega, porque os DJs nas aparelhagens começaram a acelerar tanto a música que o povo às vezes nem conseguia dançar direito, a voz ficava igual a do Patolino”, se diverte. Tecnomelody, tecnobrega, é tudo a mesma coisa para a artista. O importante é o resultado. Ela jura amor às 14 faixas, mas fala com carinho de algumas, como Mestiça. Ou Pimenta com Sal, “com Fernanda Takai, aquele jeitinho comedido, meu oposto”. Gaby Amarantos está mesmo com a corda toda – apesar de, nas últimas semanas, ter dado uma freada nas apresentações, por conta de uma estafa. Ainda não tem previsão de show na Bahia. Agora, os olhos estão mirados no exterior. A turnê internacional começa em setembro na Europa. Se o Pará é meio Caribe, como acredita Gaby, é natural que saiam furacões de lá. Confira o clipe da música Xirley:[youtube niGt6fhwMtA] * Reportagem extraída do Jornal CORREIO*
Gaby Amarantos não tem medo de usar o que é comumente associado a um estilo brega, como nesta foto: uma espécie de rainha Elizabeth I (1533–1603) do tecnobrega paraense |
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