Foi com o refrão “Sonhar, nunca desistir. Ter fé, pois fácil não é, nem vai ser”, que a dupla baiana Lucas e Orelha fez uma das apresentações mais emocionantes da segunda temporada do SuperStar. Não foi a melhor performance. Tão pouco foi a que os levou à grande final, disputada hoje, logo após o Fantástico, da Globo/TV Bahia. Mas, definitivamente, foi a mais marcante deles."Essa música lembrou muito a nossa realidade em Salvador. Foi a nossa pior apresentação, mas foi a melhor pra gente", diz Lucas. No meio da performance, no dia 21 de junho, Orelha começou a chorar e não conseguiu cantar. Lucas seguiu com a música, abraçado ao amigo.
"A gente já estava chorando nos ensaios. Nos seguramos para não passar a imagem de chorões. Mas, quando abracei Orelha, ele já estava tremendo e pensei que ele fosse cair no chão. Ele não conseguiu segurar a emoção", recorda.O resultado, 73% da escala de votação, não abalou a ascensão da dupla que segue hoje como um dos favoritos para levar o prêmio de R$ 500 mil, além de um contrato com a gravadora Som Livre. Além deles, a dupla Dois Africanos e as bandas Scalene e Versalle também estão no páreo.InternetAssim como boa parte da nova geração, Lucas Almeida Arcanjo, 19 anos, e João Henrique da Silva Santana, 17 anos, usaram a internet como ferramenta para expor sua arte. Começaram a gravar vídeos cantando algumas das suas composições e divulgaram em uma rede social.Nesse momento, viraram Lucas e Orelha e chamaram a atenção do produtor musical Guga Fernandes, irmão do cantor Tuca Fernandes. "Guga me chamou e eu levei Orelha. Nesse dia, Tuca estava lá e nos ouviu cantar. Na mesma hora, ele disse que tínhamos que cantar juntos", lembra Lucas, que agradece a Guga por tê-los inscritos no programa.Colegas de escola, os dois tiveram uma trajetória semelhante: começaram a cantar aos 9 anos em igrejas que frequentavam. Quando se encontraram na sala de aula, perceberam o interesse em comum pela música e passaram a cantar juntos.
Dos primeiros uploads à final do SuperStar, foi um piscar de olhos. "A gente postava os vídeos, mas nunca imaginamos que íamos chegar tão longe. De repente as pessoas cantavam nossas músicas, falavam que gostavam da gente. Foi muito rápido", avalia.A fama repentina trouxe com ela muito trabalho. Nos dias que antecederam a grande final, Lucas e Orelha não tiveram descanso. Entre uma gravação e outra, os dois tentavam poupar energia. “É cansativo, a gente dorme três ou quatro horas por dia. Mas é legal pra caramba. É o que a gente sonhou, víamos as pessoas na TV e agora nós estamos lá”, comemora.
Não só estão na telinha como, também, estão ao lado de alguns dos seus ídolos. O cantor Thiaguinho, que apadrinhou a dupla no reality show, é um dos artistas que eles gostam de ouvir. Passar de fã à colega de profissão está sendo uma experiência incrível, assume Lucas. "Ele é um cara do bem que passa muitos conselhos, dicas, nos abraça de verdade", elogia.
ReferênciasPorém, o encontro mais emocionante para os dois, com certeza, foi com o funkeiro MC Gui. Autor da música Sonhar, aquela que levou Orelha aos prantos, Gui é uma das maiores influências musicais dos jovens baianos. “Curtimos o estilo dele. E agora ele virou nosso amigo, estamos até acertando uma parceria em uma música”, adianta.
Representantes soteropolitanos do funk melody, subgênero predominantemente carioca, Lucas e Orelha se inspiram em artistas contemporâneos como Ludmilla, Anitta e Naldo. Tem ainda os internacionais Justin Bieber, Justin Timbelake e Chris Brown. "Misturamos tudo isso para compor o nosso som", conta.
Frequentemente comparados à mais famosa dupla de funk carioca do país, Claudinho (1975-2002) e Buchecha, os meninos garantem que não se incomodam: "A gente escutava bastante Claudinho e Buchecha. E achamos legal quando comparam".
Para Lucas, o fato de formarem um duo de garotos negros, da periferia e que cantam variações do funk melody aumenta as conexões com a outra dupla que fez sucesso no final dos anos 90. "Acho que pode ser por isso, mas a gente curte e até brinca com isso".PreconceitoComparações positivas não incomodam os dois que já tiveram que lidar com relações racistas. “Quando fomos backing vocals de algumas bandas, enfrentamos pessoas preconceituosas. Já chamaram a gente de macaco e nos disseram que negros não iam para lugar nenhum”, recorda.
Não à toa, os dois se sensibilizaram com a jornalista Maria Júlia Coutinho, a Maju do Jornal Nacional, que foi alvo de ofensas racistas nas redes sociais no início do mês.
Para apoiar a campanha #somostodosmaju, os meninos fizeram um vídeo em homenagem à jornalista ao som da música Preta Perfeita, de autoria própria e uma das mais aplaudidas durante as apresentações no programa: “Ela viu o vídeo e comentou. Ficamos muito felizes. Acho que a melhor resposta é deixar o tempo responder, afinal somos todos iguais”.Confiantes no próprio talento, os dois afirmam que vão dar o melhor em cima do palco do SuperStar. “Vamos cantar três músicas autorais e mostrar nossa verdade. Mas se não vencermos, já valeu a pena isso tudo”, pondera.
Mas, se tiverem uma porcentagem de votos maior que seus concorrentes e se sagrarem campeões, os jovens já sabem quais os próximos planos: “Queremos fazer tudo que um cantor tem direito, gravar clipe, CD, DVD. E, consequentemente, poder melhorar a vida das nossas famílias. Esse é o nosso sonho”, dispara.
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