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Luiz Caldas |
Quando Luiz Caldas - 50 anos completados ontem - se apresentou no palco do Clube Fantoches pela última vez, ele ainda não havia inventado os primeiros acordes da axé music - gênero que fundou em 1984, com a música Fricote (Nega do Cabelo Duro). “O Fantoches é um espaço importante na história baiana. Lá participei de um show da banda Eva, há muitos anos. Agora vou voltar com um show meu”, entusiasma-se. O Projeto Verão Luiz Caldas terá duas edições antes do Carnaval, começando nesta quinta-feira, às 21h, quando o anfitrião chega ao palco para interpretar sucessos e receber os convidados Carlinhos Brown e Armandinho Macêdo. A segunda edição do evento acontece no dia 5 de fevereiro (as atrações ainda não foram confirmadas). É certo que a seleção musical vai contar com clássicos do artista, como Magia, Flor Cigana e Tieta. “Obra para o repertório é o que não falta”, diz Luiz, rindo. Quem fala é um sujeito que vem cumprindo a difícil proposta de colocar gratuitamente na internet o conteúdo de um álbum diferente a cada mês. Luiz tem feito música com compositores como Gero Camilo, Chico César, Lenine e André Abujamra. Involuntariamente, ele também fez “parceria” com Jay-Z quando sua Fricote foi mesclada a What More Can I Say, do marido de Beyoncé, numa mash-up que caiu na rede. “A internet possibilita este tipo de coisa”, ri. 50 anos No palco, ele fala que é puro transe. “Não sou eu quem está agindo. Sou tímido, falo pouquíssimo com o público”, conta. Mas Luiz Caldas canta, apresenta solos instrumentais (que vão de Pinduca, Slash a Guns n’ Roses) e dança sem esquecer a influência de Michael Jackson, no começo da carreira. Luiz completou meio século de vida neste dia 19 de janeiro e celebrou do jeito que gosta: trabalhando, fazendo show. Ele explica que considera muito importante chegar aos 50 anos, cultivando a saúde com pedaladas, comida vegetariana e a prática de ioga - ele diz que atinge grau máximo de meditação: “Vamos dizer que, com a ajuda da ciência e da tecnologia, não é difícil alcançar os 100 anos. Então, eu estou na metade da vida. É como se fosse uma oitava musical”. Para o artista é importante estar com lucidez, tocando melhor, praticando a música todos os dias. Ele revela que acorda animado e que faz show pulando: “Costumo dizer que quero chegar lá na frente como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mick Jagger”.
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Ao lado do instrumentista e amigo Armandinho Macêdo, Luiz celebra a guitarra baiana, no Clube Fantoches |
Pai do axé Luiz Caldas nasceu em Feira de Santana e desde muito cedo, ainda menino, revelou gosto pela música. Aos 7 anos, já fazia parte de bandas de bailes e foi aprendendo ao vivo e em cores - e de forma autodidata - a tocar os estilos mais variados, do jazz ao samba, de Glenn Miller a Martinho da Vila. Seguiu nesta linha até os 16 anos, quando se encantou pelo trio elétrico e pela possibilidade de se apresentar para multidões. Luiz subiu ao carro de som do Tapajós já mostrando o gênio criativo. E quando juntou em uma música suas diversas influências (ijexá na percussão; funk na levada de bumbo; new wave no teclado) criou o primeiro sucesso da axé music. “Axé é um ritmo, uma democracia musical. É calcado em cima de ritmos, de nuances musicais fortíssimas e superdançantes”, considera ele, que é chamado de Pai da Axé Music. Passadas quase três décadas da origem da axé music, Luiz Caldas acredita que abriu caminho para muitos artistas conquistarem espaço. Mas também enxerga o mau uso do gênero. “Se o cara quer ficar rico, jogue na loteria, mas não prostitua sua obra”, argumenta, reclamando que “a axé music ficou desacreditada por falta de ousadia”. “Tem quem faça música com 100% de refrão. E isso fugiu do que eu imaginava, pois nunca pensei na música para gerar grana”, analisa.
GuitarrinhaCara que se diz sem preconceito quando se trata de música, Luiz Caldas só garante que não faria, neste momento, uma composição de arrocha, pelo fato de o ritmo “estar em evidência e com muita gente fazendo ao mesmo tempo”. E se grupos de destaque, hoje, no mainstream já aderiram à mania arrocheira, Luiz volta-se, neste Carnaval, para as origens da folia de Salvador: a guitarra baiana. Será destrinchando nas cordas o tema do Carnaval 2013 que ele fará shows em Salvador e em outras cidades (ainda não revela sua programação). Para este ano, o artista aguarda definições sobre a produção do documentário sobre sua vida, que vai combinar fatos reais com ficção e terá à frente André Abujamra e Ninho de Moraes. O livro A História de Vida de Luiz Caldas, do jornalista César Rasec, deve, finalmente, ser lançado em 2013. Enquanto isso, ele segue com sua música, “com quem já passei fome e comi caviar”.
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Caetano Veloso, Carlinhos Brown, Fafá de Belém e Luiz, no Candyall Ghetto Square, 1999 |
Apopod’Lé é o primeiro álbum que o artista lança em 2013Este domingo amanhece com novidades virtuais de Luiz Caldas. Dando sequência ao projeto de produzir e lançar um disco a cada mês do ano, o artista disponibilizou, ontem, no seu site (www.luizcaldas.com.br), o primeiro álbum de uma nova série com 120 músicas inéditas. “Apopod’Lé tem clima intimista, usamos cavaquinho, bandolim, violacho, violão. É um disco bem baiano, sincero. É um nego lindo”, apresenta o artista, salientando a baianidade da produção. Luiz explica que a palavra apopod’lé significa, para ele, um som de algo que chegou e se concretizou, mesmo não sendo algo material. Dez canções priorizam a batida percussiva do disco. A faixa homônima é uma composição do artista com Durval Caldas. Luiz também compôs com César Rasec, Paulinho Caldas, J. Velloso e Claudinho Guimarães. Depois deste primeiro álbum de 2013, Luiz Caldas lança um novo disco a cada mês do ano. Em fevereiro, um pouquinho antes do Carnaval, ele apresenta um disco com músicas inspiradas no som da guitarra baiana (tema da folia soteropolitana). Depois segue com o disco de heavy metal, Antídoto. As músicas, inéditas, lançadas este ano seguem gêneros tão diversos quanto samba, rock e forró.
PROJETO VERÃO LUIZ CALDAS AtraçõesArmandinho Macêdo e Carlinhos Brown (dia 24)
QuandoQuinta-feira (24) e 5 de fevereiro, às 21h. Clube Fantoches da Euterpe (2 de Julho)
IngressoR$ 40/R$ 20 - por noite de festa. R$ 60 / R$ 30 - para os cem primeiros passaportes para os dois dias de show
Matéria original: Correio 24h Luiz Caldas ocupa o Clube Fantoches, lança álbum e inspira filme e livro