O telespectador do Big Brother Brasil 17 teve o desprazer de assistir cenas de terror na noite deste domingo. O relacionamento de Emilly e Marcos atingiu seu ponto mais baixo, com o médico se comportando de maneira truculenta com a namorada. Incapaz de manter uma conversa (especialmente com mulheres) sem intimidar fisicamente, Marcos colocou o dedo na cara de Emilly, a encurralou em um canto da sala, abraçou à força, segurou com ignorância. O tempo todo ela pedia para ele parar, reclamou que estava machucando, pediu para sair de perto. No jardim, para onde a briga se arrastou, foi agonizante ver Emilly deslizando para o chão em fuga de um abraço de Marcos só para ver o médico deitar por cima dela e ainda bater com a cabeça dela no gramado. Marcos chorou depois, os dois fizeram as pazes, ele disse que ela provocou a briga – nada diferente do que acontece em muitas relações abusivas.
Ao longo do dia, campanhas nas redes sociais pediam expulsão de Marcos, enquanto enquetes de intenção de voto mostravam que pelas mãos do público ele não deveria sair. A expectativa crescia antes do programa – desnecessariamente. A Globo já expulsou dois participantes da casa ao longo da história do BBB, nunca ao vivo. O fato de chegar ao momento da edição sem nenhuma indicação da emissora já era sinal de que Marcos seguiria na casa.
Coube ao apresentador Tiago Leifert, meio prostrado, a missão de falar com o público para explicar o que estava acontecendo a e posição da Globo. E não foi legal. De cara, Leifert afirmou que o “comportamento do casal nos preocupa e preocupa vocês”. Do casal? Sério? Depois anunciou que os dois foram chamados ao confessionário para conversas, separadamente. Marcos foi alertado sobre seu comportamento e Emilly teve reforçada a ideia de que “deve e pode procurar a produção quando quiser”. Ou seja: colocou na mão da garota que está em meio a um relacionamento abusivo a responsabilidade de, na reta final do reality show, denunciar o namorado e causar sua expulsão. O apresentador disse ainda que o BBB está “preparado para intervir” caso algo aconteça, deixando claro que para a Globo não houve agressões até o momento. No popular: estão deixando rolar, esperando para ver se algo mais explicitamente físico vai acontecer. A emissora não é polícia, mas deve se responsabilizar pelo que exibe e pelo bem-estar dos participantes de suas atrações.
Na edição do ano passado, houve uma expulsão. Ana Paula foi retirada do jogo após dar tapas no rosto do rival Renan, que imediatamente reclamou no confessionário. Sem querer defender a agressão física, e Ana Paula foi corretamente expulsa, para mim as cenas exibidas de Marcos e Emilly são muito mais violentas e dolorosas. Foi difícil “desligar” do programa ao final da exibição, difícil tirar o gosto ruim que deixou na boca.
É desanimador ver tudo isso acontecendo, especialmente em um momento que tivemos muitas mulheres e homens se unindo em uma campanha contra assédio após o caso do ator José Mayer. A atriz Luana Piovani inclusive falou sobre esse caso em seu canal no Youtube, citando outro famoso reality show e sua experiência com o ex-namorado Dado Dolabella. “Dado Dolabella enfiou a mão na minha cara, eu fui para o mundo contar e seis meses depois ele ganhou R$ 2 milhões na Fazenda, votados pelo telefone. Pelas pessoas. Vocês imaginam como eu me senti quando Dado Dolabella ganhou R$ 2 milhões depois de ter enfiado a mão na minha cara?”. A sensação deve ter sido amarga, como foi ver Marcos voltando do paredão aos gritos de “é campeão” de sua torcida. Não deu tempo para o público absorver a edição de ontem a tempo para este paredão, mas será que vai? A quatro dias da final, a torcida não parece disposta a abandonar o médico, que ao lado de Emilly é um dos favoritos desta edição.
Para muitos o que aconteceu na casa entre Emilly e Marcos foi um desentendimento normal. Para outros, Emilly “provoca”, “merece”, é “briguenta”. Segue a linha de pensamento de gente que não conhece – ou prefere ignorar – os padrões desse tipo de relação: “E foi agressão mesmo? E por que ela ainda está com ele?”. O que vimos na noite deste domingo só contribui para normalizar esse tipo de cena agressiva, para validar comportamentos como o de Marcos. Vivemos em um país em que a violência de gênero é gravíssima, com casos diários de mulheres mortas e agredidas por companheiros, ex-maridos e quetais. Em briga de casal se mete a colher, sim, mas a Rede Globo preferiu se isentar de alguma medida mais drástica que um puxão de orelhas nos bastidores.
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Redação iBahia
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