Menu Lateral Buscar no iBahia Menu Lateral
iBahia > brasil
Whatsapp Whatsapp
BRASIL

Para burlar polícia, drogas são escondidas em locais inusitados

O CORREIO teve acesso à lista dos meios mais inusitados usados nos últimos 12 meses por traficantes no aeroporto de Salvador

Redação iBahia • 05/06/2016 às 13:29 • Atualizada em 26/08/2022 às 23:39 - há XX semanas

Google News siga o iBahia no Google News!
Aparentemente eram apenas sacos de feijão preto. A olho nu, os grãos, ensacados e empilhados numa bagagem no saguão do Aeroporto de Internacional de Salvador, serviriam para uma feijoada. Só que as sementes, embora tivessem formato e cor de feijão, eram cápsulas recheadas de cocaína. A artimanha foi descoberta pelos policiais federais quando um passageiro tentava embarcar levando o “ingrediente” para Portugal.
Para driblar mecanismos de segurança da Polícia Federal, responsável pelo policiamento nos aeroportos, os traficantes internacionais tentam de tudo. O caso mais recente foi da turista romena de 22 anos que tentou embarcar no último dia 27 para Lisboa com cocaína diluída em duas garrafas de vinho.

“Tudo indica que a quadrilha contou com um químico para diluir a cocaína no vinho. Depois, através de um processo, fariam a separação”, explicou o delegado André Rocha, coordenador da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Federal. Os policiais do Grupo de Combate ao Tráfico de Drogas do Aeroporto suspeitaram que alguma substância poderia estar sendo transportada nas garrafas. O feijão e o vinho “batizados” são apenas alguns dos artifícios já flagrados pela Polícia Federal para barrar a atuação das quadrilhas internacionais que usam o Brasil como rota para transportar entorpecentes para a Europa.
O CORREIO teve acesso à lista dos meios mais inusitados usados nos últimos 12 meses por traficantes no aeroporto de Salvador para embarcar com as drogas e despistar abordagens, cães farejadores e raios-x.
Desde maio de 2015 no aeroporto de Salvador, foram apreendidos 40 quilos de cocaína. Os policiais federais também realizaram apreensões de entorpecentes que seriam consumidos aqui. No mesmo período, foram retirados de circulação 38 kg de skunk (maconha turbinada), 14kg de haxixe e 50 mil comprimidos de ecstasy. Rota da drogaA cocaína que chega em Salvador rumo à Europa vem dos principais produtores do mundo: Bolívia, Peru e Colômbia. “O Peru hoje é quem produz mais, porém, a Colômbia mantem o status da cocaína mais pura”, explicou o delegado André Rocha. Depois, a droga sai de Salvador para Europa no voo da TAP para Lisboa ou Madri. De lá, chega em Bruxelas e Amsterdã. Já as drogas sintéticas consumidas no Brasil saem do Marrocos e da Argélia e entram pelos voos de Lisboa. Feijoada diferente A apreensão dos feijões, um dos disfarces mais “criativos”, ocorreu no segundo semestre do ano passado. Os falsos feijões tinham as cascas de resina, pintas nas cores preto e branco, que escondiam pequenas embalagens plásticas recheadas de cocaína.
Os “feijões fakes”, como foi chamado pelos agentes federais, estavam muito bem ensacados, como se tivessem saído de uma produção industrial e os pacotes misturados a outras embalagens com feijões verdadeiros, para despistar os policiais.

“Pra gente foi uma surpresa. Essa é mais umaprova de que as quadrilhas internacionais vêm buscando novos métodos para burlar o trabalho da Polícia Federal”, explicou um dos agentes do Grupo de Combate do Tráfico de Entorpecentes no Aeroporto (GCTEA), unidade da DRE.
O dono da mala, um brasileiro, pretendia chegar em Lisboa. De lá, a droga seguira para Alemanha e Bélgica.
“Grande parte, 99% da droga que sai daqui é cocaína, mas a produção não é daqui. A produção é centralizada na Colômbia, Peru e Bolívia”, afirmou Rocha. Salvador está na rota do tráfico internacional de drogas: passagem entre os centros de produção e o mercado europeu.
Em outra tentativa, em maio de 2015, traficantes encobriram tabletes de cocaína com chocolate. Nove barras de chocolates da marca suiça Lindt escondiam a carga da droga.
Xampu e bijusAlém de bebidas e alimentos, os traficantes também escondem a droga em embalagens de cosméticos. Dentro de frascos de xampu, os investigadores da Polícia Federal encontraram a cocaína num aspecto pastoso, como um mingau. Na tentativa de despistar a fiscalização, bandidos ainda inseriram sacos plásticos com uma pequena quantidade de xampu, caso a polícia abrisse para despejar o produto.
Os investigadores ficam atentos também a pequenos objetos como brincos e botões – e observam se o peso condiz com a estrutura. Uma passageira tentou embarcar brincos ocos, que guardavam cocaína.
Ao passar uma mala no raio-X, os agentes perceberam uma grande quantidade de brincos. Então, a bagagem foi aberta e os agentes estranharam o peso fora do normal de um dos acessórios. Dividido ao meio, o brinco escondia uma certa quantidade de maconha. Já numa maleta, que parecia ser de uma costureira, a traficante forrou pequenas quantidades de cocaína com capas de botões.
O equipamento de raio-X combinado a um programa de computador, colore os objetos das malas de acordo com sua densidade. Outro aliado dos investigadores é o tiocianato de cobalto, usado como reagente. “É uma substância que ao ser adicionada à cocaína ou crack, dá uma coloração azul turquesa. Isso é uma análise preliminar. É necessário que o material seja encaminhado para exames para ter 100% de certeza”, explica o perito criminal Augusto Sérgio Costa Souza, coordenador de química do Departamento de Polícia Técnica (DPT).
Mas, às vezes, a cocaína pode não estar no objeto em si, e ao invés de estar embalada, vai camuflada nas paredes de uma caixa de papelão. A surpresa foi encontrar a droga na estrutura de uma caixa de papelão, usada para proteger produtos frágeis.
Mudança de perfil Se em 2006, a maioria das apreensões ocorria com passageiros africanos, que engoliam cápsulas da droga, em 2014, o perfil mudou.
Agora, são brasileiros os cooptados pelas quadrilhas internacionais de tráfico para atuarem como “mulas”, que representam a maioria dos presos no aeroporto.

Em 2007, malaios eram os mais presos no aeroporto, trazendo a droga nas malas. Em 2008, passageiros do leste europeu, em especial Romênia, representava a maioria dos presos. Já, entre 2011 e 2012, os marroquinos lideravam as ocorrências. Polícia Federal faz análise do perfil de passageirosDe 2006 a 2016, foram 150 flagrantes de tráfico internacional de drogas no aeroporto de Salvador. A Polícia Federal (PF) prefere não divulgar detalhes dos métodos usados na identificação dos entorpecentes. “Algumas técnicas são sigilosas e em algumas situações, compartilhadas com policiais de outros países”, declarou o delegado André Rocha, coordenador da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Mas dados do perfil do passageiro – como origem e tempo de intervalo entre a passagem de ida e volta – são analisados pelos policiais. “Por exemplo, se um boliviano chega um dia e vai embora no outro. Temos como saber no aeroporto, soa bastante estranho e logo abordamos. Outro fator é o passageiro que demonstra nervosismo diante dos agentes ou dos cães farejadores”, disse o delegado. “Já aconteceu de a gente prender 23 nigerianos que não se conheciam no mesmo voo. Todos engoliram cápsulas de cocaína e foram presos”, explicou. No aeroporto, a PF não tem cães farejadores, mas conta com os “focinhos de ouro” da Receita Federal e da Polícia Civil, usados em operações para descobrir carregamentos de drogas em bagagens.

Leia mais:

Venha para a comunidade IBahia
Venha para a comunidade IBahia

TAGS:

RELACIONADAS:

MAIS EM BRASIL :

Ver mais em Brasil