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ENTRETENIMENTO

Casa onde Carybé morou e trabalhou mantém muitas de suas criações

Depois de ter vários endereços, Carybé encontrou porto seguro num agradável casarão em Brotas, onde viveu e trabalhou por décadas

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28/08/2014 às 8:00 • Atualizada em 01/09/2022 às 18:12 - há XX semanas
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A paleta de cores, o banco de madeira onde o artista se sentava, o cavalete que ele usava, quadros inacabados... Tudo isso está preservado até hoje, na casa onde Carybé (1911- 1997) morou desde 1961, em Brotas, montou seu espaçoso ateliê e onde atualmente funciona a sede do Instituto Carybé.Aquela foi sua primeira casa própria, comprada aos 50 anos, depois de concluir um trabalho encomendado pela companhia americana American Airlines. Enquanto reformava o imóvel para se instalar com a mulher, Nancy, e os filhos Solange e Ramiro, tratou logo do seu ateliê.
Carybé, em agosto de 1997, na casa em Brotas, dois meses antes de morrer. Foi no espaço, para onde se mudou em 1961, com a mulher e os filhos, que ele criou boa parte de sua obra.
Era no espaço que Carybé começava a trabalhar logo cedo, por volta das cinco da manhã. A esposa despertava um pouco depois e tomava café com ele, por volta das 7h30. Os filhos, adolescentes, dormiam até tarde.
No ateliê, construído no fundo da casa, estão também os livros que Carybé gostava de ler, incluindo, claro, os do amigo Jorge Amado (1912- 2001), como Os Pastores da Noite, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá e Gabriela. Há também livros do peruano Mario Vargas Llosa, um dos favoritos de Carybé, assim como o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), autor da obra-prima Cem Anos de Solidão, que teve algumas edições brasileiras ilustradas pelo ilustre morador de Brotas.
Solange Bernabó, 60, lembra-se bem quando García Márquez esteve no ateliê do pai, em 1976. Não poderia se esquecer do dia em que conheceu o autor, de quem se assume fã: “Eu tinha lido Cem Anos de Solidão aos 13 ou 14 anos e adorava García Márquez. Já tinha lido muita coisa dele”, lembra-se.
Estantes
Na mesma estante, uma preciosidade: um exemplar especial de Macunaíma, de capa dura, vermelha, medindo mais de 40 cm de altura. A edição, numerada, foi feita com exclusividade para uma confraria de leitores.
Na casa de Brotas estão reproduções de esculturas que Carybé criou para o Aeroporto do Galeão, do Rio.
O livro, um dos favoritos de Carybé, além de ter sido ilustrado por ele, foi traduzido para o espanhol pelo artista plástico. A tradução ganhou a aprovação do autor, o modernista Mário de Andrade (1893-1945). Há ainda outras três prateleiras com livros em que Carybé, de alguma forma, estava envolvido: alguns são sobre o artista ou têm ilustrações dele. Outros têm textos seus.Sobre uma grande mesa de madeira permanece uma paleta de cores. Ao lado, uma pilha de seis ou sete telas inacabadas, sobre as quais ele já havia desenhado e começado a colorir, mas não teve tempo para concluir.
Penico
Mas não era só a paleta de cores que Carybé usava para pintar. Para misturar as tintas, usava qualquer objeto, até um penico rosa, que parece um intruso naquela mesa. “Esse penico foi objeto de uma briga entre meu filho, Gabriel, e Juliana, prima dele. Os dois o queriam e Gabriel acabou ganhando. Mais tarde, foi o avô que o usou no ateliê”, diverte-se Solange.
Embaixo do ateliê ficam dois galpões onde Carybé trabalhava na criação de seus murais e entalhes de madeira. Mas o maior deles, antes de se transformar em uma oficina, era usado para uma outra atividade de interesse dele: a criação de galinhas.
Quase todos os dias, ele entrava ali para recolher os ovos, que eram usados na cozinha. Algumas galinhas davam menos sorte e acabavam virando um bom ensopado nas mãos de dona Nancy.
Além de material de trabalho, a casa preserva objetos pessoais do artista, como esta cadeira de balanço.
O tempero, muitas vezes, era plantado e colhido pelo próprio Carybé, que adorava labutar com a natureza. Na horta, cultivava aquilo que não encontrava com facilidade nas feiras de Salvador: orégano, sálvia e rúcula, muito usada na culinária da Itália, terra de Enea, pai de Carybé.Ele gostava tanto de plantar, que Gabriel, o neto, quando pequeno, não sabia se o avô era pintor ou “plantor”. As frutas também eram uma paixão. Carybé ia sempre à feira de Água de Meninos, um de seus locais preferidos na cidade.
Seu interesse pelo lugar chegou a render diversos desenhos, muitos dos quais estavam no fascículo A Feira de Água de Meninos, que abriu a coleção As Sete Portas da Bahia, encartada no CORREIO. Hoje, o leitor recebe o volume A Conceição da Praia, o terceiro dos dez cadernos que serão distribuídos com o jornal até o dia 21 de setembro, às quintas e domingos.
Era o próprio Carybé que fazia questão de plantar as frutas da casa: banana, araçá, limão, pitanga e até jaca tem ali. Uma das mangueiras é originária da Indonésia. Numa viagem ao país, o artista se deliciou com uma manga e trouxe de lá a semente. Mas só teve o prazer de comer um fruto dali. Até hoje, só deu três mangas.
Churrasco
A mangueira fica perto da churrasqueira, decorada com azulejos brancos ilustrados por Carybé. Se não se arriscava na cozinha, no churrasco se saía bem. Principalmente na casa em Arembepe, onde reunia a família para saborear uma picanha.
Para misturar as tintas, Carybé usava pratos e até um inesperado penico, que fora usado pelo neto Gabriel
Perto da churrasqueira, há um outro lugar onde Carybé costumava passar um tempo diariamente, muito mais por recomendação médica que por gosto próprio: a piscina. O equipamento foi construído para auxiliar no tratamento do enfisema pulmonar e de uma silicose, outra doença nos pulmões que ele desenvolveu após inspirar substâncias tóxicas em meio às obras do Memorial da América Latina, em São Paulo, enquanto fazia um painel que permanece instalado ali até hoje. “Meu pai tinha uma caixinha cheia de búzios e ele os colocava nas bordas da piscina. Só parava de nadar depois de recolher todos eles”, lembra Solange.Reportagem Original Correio 24h Casa onde Carybé morou e trabalhou mantém muitas de suas criaçõesVeja também Ilustrador italiano desenha princesas da Disney com piercings e tatuagens

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