A paleta de cores, o banco de madeira onde o artista se sentava, o cavalete que ele usava, quadros inacabados... Tudo isso está preservado até hoje, na casa onde Carybé (1911- 1997) morou desde 1961, em Brotas, montou seu espaçoso ateliê e onde atualmente funciona a sede do Instituto Carybé.Aquela foi sua primeira casa própria, comprada aos 50 anos, depois de concluir um trabalho encomendado pela companhia americana American Airlines. Enquanto reformava o imóvel para se instalar com a mulher, Nancy, e os filhos Solange e Ramiro, tratou logo do seu ateliê.
Carybé, em agosto de 1997, na casa em Brotas, dois meses antes de morrer. Foi no espaço, para onde se mudou em 1961, com a mulher e os filhos, que ele criou boa parte de sua obra. |
No ateliê, construído no fundo da casa, estão também os livros que Carybé gostava de ler, incluindo, claro, os do amigo Jorge Amado (1912- 2001), como Os Pastores da Noite, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá e Gabriela. Há também livros do peruano Mario Vargas Llosa, um dos favoritos de Carybé, assim como o colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), autor da obra-prima Cem Anos de Solidão, que teve algumas edições brasileiras ilustradas pelo ilustre morador de Brotas.
Solange Bernabó, 60, lembra-se bem quando García Márquez esteve no ateliê do pai, em 1976. Não poderia se esquecer do dia em que conheceu o autor, de quem se assume fã: “Eu tinha lido Cem Anos de Solidão aos 13 ou 14 anos e adorava García Márquez. Já tinha lido muita coisa dele”, lembra-se.
Estantes
Na mesma estante, uma preciosidade: um exemplar especial de Macunaíma, de capa dura, vermelha, medindo mais de 40 cm de altura. A edição, numerada, foi feita com exclusividade para uma confraria de leitores.
Na casa de Brotas estão reproduções de esculturas que Carybé criou para o Aeroporto do Galeão, do Rio. |
Penico
Mas não era só a paleta de cores que Carybé usava para pintar. Para misturar as tintas, usava qualquer objeto, até um penico rosa, que parece um intruso naquela mesa. “Esse penico foi objeto de uma briga entre meu filho, Gabriel, e Juliana, prima dele. Os dois o queriam e Gabriel acabou ganhando. Mais tarde, foi o avô que o usou no ateliê”, diverte-se Solange.
Embaixo do ateliê ficam dois galpões onde Carybé trabalhava na criação de seus murais e entalhes de madeira. Mas o maior deles, antes de se transformar em uma oficina, era usado para uma outra atividade de interesse dele: a criação de galinhas.
Quase todos os dias, ele entrava ali para recolher os ovos, que eram usados na cozinha. Algumas galinhas davam menos sorte e acabavam virando um bom ensopado nas mãos de dona Nancy.
Além de material de trabalho, a casa preserva objetos pessoais do artista, como esta cadeira de balanço. |
Seu interesse pelo lugar chegou a render diversos desenhos, muitos dos quais estavam no fascículo A Feira de Água de Meninos, que abriu a coleção As Sete Portas da Bahia, encartada no CORREIO. Hoje, o leitor recebe o volume A Conceição da Praia, o terceiro dos dez cadernos que serão distribuídos com o jornal até o dia 21 de setembro, às quintas e domingos.
Era o próprio Carybé que fazia questão de plantar as frutas da casa: banana, araçá, limão, pitanga e até jaca tem ali. Uma das mangueiras é originária da Indonésia. Numa viagem ao país, o artista se deliciou com uma manga e trouxe de lá a semente. Mas só teve o prazer de comer um fruto dali. Até hoje, só deu três mangas.
Churrasco
A mangueira fica perto da churrasqueira, decorada com azulejos brancos ilustrados por Carybé. Se não se arriscava na cozinha, no churrasco se saía bem. Principalmente na casa em Arembepe, onde reunia a família para saborear uma picanha.
Para misturar as tintas, Carybé usava pratos e até um inesperado penico, que fora usado pelo neto Gabriel |
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