Sabe aquele filme que dá gosto de assistir? Assim é ‘Jojo Rabbit’. As seis indicações ao Oscar deste ano, incluindo a de Melhor Filme, não são à toa. De forma audaciosa, o enredo é conduzido no limite entre o humor e o horror, tornando engraçada, emocionante e profunda uma história sobre as atrocidades do nazismo. O filme transborda genialidade e competência por todos os lados, com atuações memoráveis, roteiro irretocável e uma direção de arte primorosa.
A história se passa na Alemanha nazista, no final da Segunda Guerra Mundial. Jojo é um moleque de 10 anos, apaixonado por Adolf Hitler. Sua adoração é tamanha que o próprio psicopata sanguinário é o amigo imaginário do menino. Juntos, eles protagonizam as cenas mais divertidas do filme e conseguem tocar em assuntos delicados de uma forma leve, jocosa, mas sem deixar de lado a seriedade que o tema merece.
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O filme é uma grande paródia sobre todas as loucuras cometidas na época: a perseguição aos judeus, a lavagem cerebral à qual os alemães foram submetidos e as mazelas da guerra em si. À primeira vista, a trama assusta pelo uso excessivo de referências nazistas em cena, mas isso logo se dissipa com o texto divertido e as atuações geniais do elenco de peso. Para efeitos de comparação, é mais ou menos o que acontece em ‘Bastardos Inglórios’ de Quentin Tarantino.
O ator que dá vida a Jojo, Roman Griffin Davis, é genial. Expressivo, sagaz e com o timing perfeito para a comédia, ele domina a história. Muitos críticos, inclusive, acharam injusta a não indicação dele para o Oscar de Melhor Ator. O mesmo se comenta sobre o diretor Taika Waititi, que ficou de fora dessa disputa, mas está indicado na categoria de Roteiro Adaptado. Além de dirigir e roteirizar, ele também dá vida ao bisonho Hitler, mostrando que domina as três áreas. Para completar o luxuoso elenco, Scarlett Johansson é fenomenal interpretando a mãe do menino e Sam Rockwell brilha, como sempre, no papel de um comandante nazista.
‘Jojo Rabbit’ é um deleite e muito de sua beleza está na ousadia de abordar e criticar temas difíceis através da comédia. A insólita proposta de Taika Waititi merece ser vista e revista por despertar uma reflexão necessária sobre a sociedade. Com muitos imbecis espalhados mundo afora alimentando ideias insanas e absurdas, relembrar episódios como o nazismo é cada vez mais necessário. Sorte nossa quando a arte ajuda nesse trabalho e a necessidade vem embalada de beleza e genialidade.
Heyder Mustafá é jornalista e produtor cultural formado pela UFBA, editor de conteúdo da GFM e Bahia FM, apresentador do Fala Bahia e apaixonado por cinema, literatura e viagens.
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