Matar o cachorro do vizinho que atacou seu filho é justo? E planejar a morte do assassino de sua filha? É justo matar a namorada que te traiu? E deixar que outra pessoa vá presa no seu lugar, por um erro seu? Vale agir com as próprias mãos quando a lei não parece suficiente? Afinal, o que é justo?
A reflexão, no mínimo polêmica, está na nova minissérie da Globo/TV Bahia, Justiça, que estreia amanhã, às 22h15, logo após a novela Velho Chico. Para provocar o debate e mostrar que o “ser justo” depende do ponto de vista de quem fala, a trama gira em torno de quatro histórias de pessoas expostas a situações-limite e presas em uma única noite de 2009, em Recife.
Uma coincidência une as quatro histórias simultâneas e independentes, nas quais o protagonista de um capítulo é o coadjuvante do outro. E tudo começa sete anos após a fatídica noite da prisão, quando essas quatro personagens cruzam os portões da penitenciária após saldarem suas dívidas com a Justiça.
"Justiça aborda vários temas acerca do justo sem levantar nenhuma bandeira. É importante preservar essa liberdade da dramaturgia: falar sobre um tema não quer dizer defendê- lo. Quando Shakespeare escreve Otelo, não está fazendo apologia ao ciúme; quando o Zé Padilha faz Tropa de Elite, não está defendendo o Bope ou a atitude daqueles personagens", esclarece a roteirista baiana Manuela Dias, 39 anos, autora da minissérie.
Assassinato e eutanásia são só dois dos temas abordados no texto que tem colaboração de Mariana Mesquita, Lucas Paraizo e Roberto Vitorino. “Não é uma discussão forense. É uma provocação para o público. Saber que o justo é uma questão particular”, reforça o diretor artístico José Luiz Villamarim, sobre a trama dirigida por Luisa Lima, Walter Carvalho e Isabella Teixeira.
Assassinos?Exibida de segunda a sexta-feira, com exceção de quarta, a minissérie inspirada em um drama real reúne 20 capítulos. Às segundas, o público conhece a história de Vicente (Jesuíta Barbosa), que comete um crime passional ao ver a noiva Isabela (Marina Ruy Barbosa) traindo ele com o ex.
“Tudo muda na vida do Vicente a partir do momento que mata Isabela”, comenta o ator pernambucano Jesuíta Barbosa, 25, sobre seu personagem. “Um ponto importante é que ele paga pelo crime, mas não se perdoa. Ele diz que é mais difícil sair da cadeia do que sobreviver na prisão”, completa o ator que depois de Justiça vai participar da minissérie Nada Será Como Antes, também dirigida por Villamarim.
Às terças, o telespectador conhece a história da doméstica Fátima (Adriana Esteves), que vê sua paz acabar com os novos vizinhos: o policial Douglas (Enrique Diaz) e a perua Kellen (Leandra Leal). O estopim acontece quando o cachorro do casal morde o filho mais novo de Fátima e ela não hesita em matar o animal.
Às quintas, vai ao ar o drama de Rose (Jéssica Ellen), jovem que busca se reerguer após ver seu sonho de entrar na faculdade ser destruído. O motivo? Em uma revista da polícia na festa de comemoração da sua aprovação no vestibular, a garota é levada presa por engano, vítima de racismo.
Drama real“É claro que não defendo que pessoas tetraplégicas devam cometer eutanásia. Apesar de acreditar que esse direito deva ser discutido de forma consistente”, diz a autora da minissérie. Para ela, as boas histórias executam a difícil tarefa de tirar alguém de seu lugar e colocar no lugar do personagem.
“Dessa transferência pode brotar até um mundo mais tolerante, porque quando nos colocamos no lugar do outro e experimentamos suas dificuldades, podemos compreender mais suas reações e diminuir nosso julgamento”, acredita Manuela, que se inspirou na história de sua empregada para escrever Justiça.
“Ela me pediu ajuda para tirar o marido dela da cadeia. Ele estava preso por matar o cachorro do vizinho”, conta. “Na hora me deu um estalo sobre a dimensão pessoal das leis, elas atuam na nossa intimidade”, completa, ao reforçar que pessoas comuns têm grandes dramas.
“Sou a favor da lei sempre. Mas acho que o mais importante de Justiça é a reflexão sobre liberdade e sobre o que é justo”, pontua Jesuíta Barbosa. “E o que é justo pra mim, pode não ser pra você. Isso vai dar muito pano pra manga”, completa o ator.
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