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A primeira palestra da segunda edição do Agenda Bahia, promovido pelo Jornal Correio* e a Rádio CBN – que aconteceu na manhã desta quinta-feira (4), na Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), no Stiep –, ficou a cargo do presidente da Fieb, José de Freitas Mascarenhas. Ele discorreu sobre a “situação da infraestrutura e os portos da Bahia, e a mobilidade urbana na Região Metropolitana de Salvador”. Primeiro, o palestrante abordou a questão da infraestrutura energética no Estado em relação à oferta, qualidade, e matriz elétrica no Brasil. “Está se evoluindo para uma maior participação das fontes energéticas pela impossibilidade de otimizar a capacidade de armazenar água por questões ambientais”. Segundo ele, as deficiências de energia no interior do Estado tem prejudicado empresários baianos. “A qualidade ainda é baixa e temos reclamações constantes de empresários que vêem tendo prejuízos no interior baiano, como no Litoral Sul, Extremos Sul, Baixo Sul e Bacia do Rio Correntes”. Além dos desvios constatados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), o custo da energia também tem sido um verdadeiro ‘calcanhar de aquiles’ ao empresariado baiano. “Historicamente, o Brasil dispõe de energia barata, de origem hidráulica, mas em relação ao custo é a maior do mundo, perdendo apenas par a Itália e Eslováquia. Os tributos e encargos representam 45% do custo da energia, sendo o maior componente tributário o ICMS”, afirmou Mascarenhas.Em relação às estradas baianas – apesar do governo do Estado afirmar que já foram realizadas a restauração de 4 mil km de estrada e a recuperação de mais de 6 mil km –, o presidente da Fieb apresentou uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em que apenas 39,2% dos empresários classificam a malha rodoviária baiana como ótimo/bom. Outros 60,8% dizem que as estradas são regulares/ruins/péssimas. Entre as principais reivindicações está o fato do traçado das rodovias serem antigos. Quanto às ferrovias, Mascarenhas afirma que a indústria baiana não vem utilizando a linha férrea para a transferência de cargas, mas a implantação do sistema de escoamento no Oeste do Estado (Porto Sul e Ferrovia Oeste Leste) pode representar um grande desenvolvimento para o sistema portuário brasileiro, pois ligará a qualquer porto do Brasil e do Pacífico. Já os portos, o presidente da Fieb ressalta a defasagem em relação aos portos mais modernos do mundo, devido à baixa eficiência e à grande burocracia. Segundo ele, a saída seria a revisão do decreto 6.620/2008, que regula a construção de novos terminais privados de carga própria – ideia esta também defendida pelo governador Jaques Wagner. Entretanto, Mascarenhas faz uma comparação entre os portos da Bahia e de Pernambuco e Ceará. “Ao todo, 58% das exportações no Nordeste e os bens intermediários representam mais de 70% das vendas baianas para o mercado internacional. Mas os investimentos (na Bahia) têm sido sistematicamente inferiores ao de Suape e Pecém, do Ceará”. Conforme o palestrante, enquanto, Pernambuco já planeja construir novo complexo portuário no litoral, o porto de Aratu ainda usa equipamentos obsoletos, de mais de 30 anos, quando foi construído. “A Bahia está perdendo com o contínuo envio de cargos (cerca de 26,2% só no primeiro trimestre deste ano) para outros estados”, explicou Mascarenhas, ressaltando que há uma proposta, desde 2010, para investimento no porto de um grupo privado, mas a legislação impede a continuidade da negociação.
Salvador e RMS Sobre a mobilidade urbana em Salvador e Região Metropolitana, o presidente da Fieb compartilha com a mesma opinião do governador: é preciso discutir a longo prazo um transporte público eficiente e integrado entre os modais. Para exemplificar, como Wagner, Mascarenhas citou Londres e Rio de Janeiro que possuem um sistema de modal interligado entre metrô, ônibus e BRT, e defende o gerenciamento de todos os modais de maneira unificada, como acontece em Londres.Ainda pela manhã, os cerca de 300 participantes da segunda edição do Agenda Bahia tiveram a oportunidade de participar de outras duas palestras sobre “Choque da realidade: comparação da operação de portos eficazes no país” e “Escoamento da produção: viabilidade econômica”, apresentados pelo presidentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, e da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), Marcelo Spinelli, que também é diretor de Logística da Vale. Como Mascarenhas e o governador Jaques Wagner, Pchmann e Spinelli também defenderam como principal propulsor para o desenvolvimento econômico da Bahia mais investimentos na infraestrutura do Estado e a abertura dos portos à iniciativa privada.Além disso, Spinelli anunciou, durante sua palestra, que a FCA – empresa controlada pela Vale – e Arc Alfa assinaram ontem um contrato para o transporte de minério de ferro entre a região de Iaçu (Oeste baiano) para o Porto de Aratu. O acordo prevê o transporte de cerca de R$ 4 milhões de toneladas. Para transportar o minério, segundo Spinelli, serão investidos R$ 30 milhões para a recomposição dos 300 quilômetros da linha férrea do Porto de Aratu.
DebateApós as três palestras, foi realizado o debate “Como melhorar a logística do Estado”. Com mediação do editor-executivo do Correio*, Oscar Valporto, participaram da mesa os três palestrantes, além do secretário estadual de Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, e do ex-presidente do Porto de Santos, Wady Jasmim, presidente da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público.Durante o debate mediado o secretário James Correia afirmou que a Bahia está vivendo “um apagão no setor portuário, só que ninguém sente no interruptor de casa”, se referindo aos apagões elétricos que ocorreram no país. “Não vejo como acompanhar o desenvolvimento da Bahia se não entendermos que temos que abrir para iniciativa privada, como já acontece na rede elétrica. Muitos grupos não vêm para cá devido à deficiência portuária”.Para Wady Jasmim, é necessária uma malha intermodal integrada. “Quando se fala em porto deve-se pensar mais abrangente, ou seja, o porto deve se integrar com os outros sistemas de infraestrutura, como ferrovias e rodovias. É necessário em se pensar na malha intermodal, olhar a logística com mais abrangência. Não devemos pensar em apenas um elo, mas em toda a cadeia logística, que deve ser integrada”.
Mobilidade urbana O período da tarde foi reservado para a palestra “Mobilidade urbana: transporte público, modelo a ser seguido por Salvador”, ministrado pelo presidente da Transmilenio, Fernando Paez. Durante sua palestra, ele apresentou o sistema de transporte público (BRT) instalado pela empresa em Bogotá, capital da Colômbia. Segundo ele, o sistema é planejado há 10 anos, possuem 84 quilômetros de extensão e já foram feitas intervenções urbanas em 2 milhões de metros quadrados. Paez afirma ainda que o tempo de viagem com o BRT foi reduzido para 20 minutos e cerca de 500 mil pessoas deixaram de sair de carro e passaram a utilizar o transporte público. Ao final do evento, ainda teve o debate sobre as “Soluções de mobilidade urbana para a RMS e seu impacto positivo no Estado”, com a participação dos secretários Zezéu Ribeiro (Planejamento estadual) e José Mattos (Transportes e Infraestrutura municipal), além da professora da Escola Politécnica da Ufba, Ilse Marília de Freitas, especialista em transporte e mobilidade.O debate foi acalorado e, mais uma vez, deixou claro que o governo do Estado e a prefeitura de Salvador ainda não se entenderam. Zezéu culpou a prefeitura pelo atraso na escolha do modal do transporte e afirmou que “a indefinição da prefeitura cria uma instabilidade”. “No plano técnico, a questão está definida, mas a questão também é política”. Já Mattos ressaltou que, desde 2005, a prefeitura vem elaborando um projeto de mobilidade que prevê a implantação de BRT na Paralela, mas, mesmo assim, o governo do Estado resolveu fazer novos estudos. A definição de qual modal a ser realmente instalado sairá de uma reunião entre os governos estadual e municipal. Além do BRT, também foram discutidos a ponte que vai Salvador a Ilha de Itaparica, o metrô, e a implantação de novas ciclovias na cidade.
Próximo seminárioO segundo seminário do Agenda Bahia acontece no próximo dia 24, no auditório da Fieb, e terá como tema a Sustentabilidade, com foco na inovação. Entre os palestrantes estão os presidentes José Sergio Gabrielli, da Petrobras; Carlos Fadigas, da Braskem; Jorge Abrahão, do Instituto Ethos; Sergio Amado, da Ogilvy Group Brazil; Carlos Eduardo Calmanovici, da Ampei; e o diretor do Sebrae, Carlos Alberto Santos.