Ivete foi apresentada ao carnaval do Rio bem antes de conhecer a folia de Salvador. Aos 5, 6 anos, a baiana de Juazeiro já acompanhava os desfiles das escolas de samba cariocas pela televisão, com direito a comentários do pai, o músico e joalheiro Alsus Almeida de Sangalo.
"Meu pai tinha paixão pelo Rio e era louco por samba. Enquanto as alas evoluíam, ele discorria sobre o lado lúdico do espetáculo, a criatividade dos carnavalescos, as metáforas dos enredos", lembra Ivete, caçula de seis irmãos. "Já o carnaval de rua de Salvador eu só fui conhecer lá pelos meus 13, 14 anos. Papai demorou a me deixar sair de casa. Mas no dia que deixou... Ele se ferrou ali (gargalhadas)."
A baiana que começou a trabalhar vendendo quentinhas e hoje, aos 44 anos, é considerada uma das maiores cantoras do país terá sua trajetória narrada na passarela que faz parte da memória de sua infância. Segunda escola a entrar na Sapucaí nesta noite, a Grande Rio a reverencia com o enredo “Ivete do rio a Rio!”.
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Sem estrelismo, a homenageada se envolveu à vera em todos os detalhes da preparação do desfile, abrindo brechas na lotada agenda de shows para tentar participar de todos os momentos, da escolha do samba, em setembro, à feijoada de confraternização, no último domingo.
"Queria muito participar de tudo, saborear cada momento. E até sobre o tecido das fantasias eles pediram a minha opinião, acredita?", conta Ivete.
A cantora quase não fez exigências. Um dos únicos pedidos foi para que a infância em Juazeiro tivesse destaque. O enredo foi desenvolvido pelo carnavalesco Fábio Ricardo em parceria com a pesquisadora Helenise Guimarães, professora de História da Arte e Cultura Popular da UFRJ.
"A Ivete vai conduzir a história, a partir da infância e adolescência, quando ganhou o primeiro violão do pai, passando pelo início tocando em bares, estouro na Banda Eva e carreira internacional. Quando chega ao Rio, vai para Caxias, que tem uma ligação com o sertão bem forte, fechando o ciclo. Tudo é pautado pelo espírito dela, alegre e pop", resume Helenise.
A Grande Rio está vivendo um caso de amor com Ivete. Mestre de bateria, Thiago Diogo não esquece do primeiro encontro, em março de 2016:
"Não tinha nada planejado para ela cantar, mas ela chegou, meteu a mão no primeiro microfone que encontrou e começou. E ainda tocou timbau. A quadra foi abaixo, parecia gol do Flamengo."
O intérprete Emerson Dias é outro que está unha e carne com a cantora. "Na escolha do samba, fez questão de cantar os quatro finalistas e teve boa vontade para gravar comigo a letra do vencedor, lá em Salvador", festeja.
Thiago Diogo completa: "Tudo o que a gente posta na internet a Ivete curte, elas nos acompanha de verdade e ainda nos leva aos programas de TV. Em tempos em que o público só consome sertanejo e funk, ganhamos moral. Ela abraçou o samba", diz ele, vestindo uma camiseta estampada com o rosto da cantora, pouco antes do início do ensaio técnico.
Realizado no último sábado de janeiro, o ensaio foi uma prova do furacão que está por vir — caravanas de todo o país lotaram as arquibancadas do Sambódromo, um dos recordes de público deste ano.
"Fiquei em transe quando ouvi aquela Sapucaí lotada gritando o meu nome. Vi torcedores de outras escolas cantando o nosso samba. Essa atitude de respeito me emocionou", conta Ivete.
O namoro da baiana com a Grande Rio é antigo. Em 2008, no Desfile das Campeãs, ela pulou a cerca do camarote de uma cervejaria e se juntou aos integrantes: "Eu já tinha sido convidada para ser rainha de bateria, e ficava lisonjeada. Mas cantando seis dias seguidos em Salvador, era impossível me dedicar ao cargo".
Uma operação de guerra está sendo montada para Ivete estar na Sapucaí na noite deste domingo. O cronograma dos trios elétricos de Salvador, inclusive, precisou ser alterado, uma vez que o bloco que sairia neste domingo mudou para segunda. Após se apresentar no sábado, em Salvador, Ivete descansa e domingo de manhã vem em seu jatinho para o Rio, acompanhada do marido, Daniel, e do filho, Marcelo. A logística deve se repetir sábado que vem, pois a cantora sonha com um título inédito da Grande Rio: "Eu e a Grande Rio voltamos nas campeãs. É mais certo que boca de bode".
JOGO RÁPIDO COM IVETE
Pierre Verger ou Sebastião Salgado?
Que difícil, adoro os dois! Eu tenho livro dos dois fotógrafos em casa. O Salgado é um cara que vai atrás de situações adversas... Mas fico com o Pierre Verger porque ele conta a história da Bahia.
Versace ou Hermès?
Givenchy, prefiro Givenchy... Quer dizer, bota logo Riccardo Tisci, sou louca com ele. O Riccardo subiu no nosso trio em Salvador no carnaval de 2015. Foi massa. Eu vou sempre preferir a marca que o Riccardo assinar.
Roberto Carlos ou João Gilberto?
Que loucura é essa? Os dois. Um completa o outro.
Truffaut ou Coppola?
Coppola, conheço mais a obra dele.
Buenos Aires ou Montevidéu?
Salvador (risos). OK, Buenos Aires…
No quesito “série de TV”, na Netflix, você prefere qual enredo: professor de Filosofia irreverente que dá aula para pré-vestibulandos (“Merlí”) ou médica que é mordida se transforma em zumbi e vira legista e investigadora, porque ao comer o cérebro dos defuntos têm visões do passado da vítima (“I zombie”)?
Nunca vi nenhuma das duas. Mas adoro “Vikings”, sabe? Não, mentira! Coloca “Narcos”. Amei! Vi duas vezes já, muito por causa do Wagner (Moura), claro. Acho que a gente sempre precisa falar mais dos nossos do que dos outros.
Iate ou veleiro?
Vou te falar que, por acaso, outro dia andei num veleiro na Bahia, foi a minha primeira vez. E gostei, foi sem agonia, sem estresse. Mas acho que depende da situação. Frequento mais iates. Veleiro é aquela coisa devagar. Depende da situação.
Calcinha de algodão ou de seda?
Algodão.
Sushi ou ceviche?
Sushi, disparado.
Saquê ou gim?
Suquinho de umbu.
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Redação iBahia
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