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Nada de cumprimentos ou apertos de mão. Abraços, nem de jacaré. Adversários na disputa em Salvador, ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT) escolheram a Igreja do Bonfim como pontos de partida e chegada da campanha. Mas, ao contrário da primeira sexta-feira de julho, quando dividiram em harmonia a joia de fé da Colina Sagrada, na última sexta de outubro não houve Senhor do Bonfim que amenizasse o clima de rivalidade entre os dois. Ontem, em vez de se abraçarem, como no começo, permaneceram distantes um do outro, assistiram a missas em horários diferentes e, enquanto um entrava, o outro já estava de saída. Vestidos de branco, os deputados desconversaram sobre o desencontro. “Hoje, foi porque cada um marcou um horário diferente, apenas isso”, explicou Pelegrino, que esperou o fim da missa das 9h em frente à igreja, cercado de militantes. “Eu não tenho absolutamente nada pessoal contra o candidato Pelegrino, se (a missa que ele participou) fosse no mesmo horário, estaríamos juntos sem nenhum problema, teria apertado a mão dele de maneira muito civilizada”, disse Neto. O primeiro a subir a Colina Sagrada foi o democrata, que estava acompanhado de familiares e políticos, pouco antes das 9h. Ao chegar, cumprimentou e recebeu presentes de eleitores. “Amarre essa fitinha do Senhor do Bonfim no seu braço e só tire quando for eleito”, disse uma mulher, ao entregar a lembrança ao candidato. Neto participou da missa ao lado da candidata a vice Célia Sacramento (PV), orou de braços erguidos, ajoelhou-se, cantou as músicas católicas e chorou. “Estamos chegando à reta final. Evidentemente, ficamos muito emocionados”, disse. Ao sair da igreja, foi aplaudido e carregado por militantes. De lá, seguiu em carreata rumo ao Retiro. Por sua vez, Pelegrino chegou à Igreja do Bonfim às 9h20, após caminhada no Largo de Roma. Ao lado da candidata a vice Olívia Santana (PCdoB), da mulher, Fabiana Pelegrino, e de políticos aliados, posou para fotos com eleitores aos pés da escadaria. “Hoje foi dia de agradecer ao Senhor do Bonfim, que tem sido muito bondoso na minha vida. Me deu uma esposa maravilhosa, uma família maravilhosa, tem sido meu guia”, comentou. O petista só entrou mesmo na igreja quando o adversário estava saindo por um dos corredores laterais. Pouco antes de deixar o templo, 11h, Pelegrino também foi carregado por partidários. Como evitaram se encontrar, o embate ficou por conta de eleitores, que disputaram espaço em frente à igreja, carregando bandeiras e disparando gritos de guerra. A distância entre os candidatos e o atrito entre militantes ilustraram as desavenças crescentes ao longo do segundo turno de campanha eleitoral.
PolêmicasA discórdia crescente entre os dois foi baseada em polêmicas acirradas na campanha. A principal foi o apoio ao prefeito João Henrique (PP) e a participação de ambos nas suas duas gestões. A proximidade com o prefeito, que amarga alta rejeição, foi objeto de intensa troca de ataques entre ambos. Assim como as acusações de Neto de que coube à campanha do PT espalhar boatos colocando o democrata contra as cotas e o Bolsa Família, benefício que o democrata atribui ao Fundo de Combate à Pobreza, viabilizado por seu avô, o senador ACM. Coisa que o petista passou a ironizar na TV, dizendo que o rival queria a fama por uma obra de Lula. Também entraram no bolo comparações entre os governos do PT e do DEM/PFL, e acusações de plágio em propostas. Na TV, assim como na igreja, também não teve cessar-fogo no último dia de propaganda. Pelegrino e Neto fizeram um apanhado das polêmicas e entoaram seus “cânticos de batalha”. Neto: “No próximo domingo deixe a esperança falar mais alto e vencer o medo”. Pelegrino: “Vamos fazer a grande onda vermelha até domingo”. O democrata voltou a atacar Wagner e a gestão de Pelegrino como secretário de Justiça. Já o petista manteve a aposta de aliar Neto a João Henrique. Na noite de domingo, os dois saberão quem levou a melhor, com a manha na TV ou a fé no Senhor do Bonfim. Colaborou Renato Alban
Matéria original: jornal Correio Pelegrino e Neto voltam ao Bonfim, agora em clima de total rivalidade