Campeão brasileiro com o Corinthians, o zagueiro Wallace está curtindo as férias em Salvador. O jornal Correio* foi até a sua casa em Villas do Atlântico para conversar com o zagueiro revelado pelo Vitória. E, antes mesmo de se acomodar na cadeira, Wallace fez questão de mostrar que não se desliga do rubro-negro. "E o Vitória né, rapaz? Deu bobeira!", falou. Durante mais de uma hora de papo, o jogador, que deixou o Leão após o rebaixamento do ano passado, falou sobre a adaptação em São Paulo, da torcida do Corinthians, do convívio com Ronaldo e até de Neymar.
O que você acha que deu errado no Vitória?Alexi (Portela Júnior, presidente) precisa de um cara. Ele é excelente administrador, mas precisa de alguém que entenda de futebol. Muitas pessoas falam em planejamento, mas não sabem bem o que é. Contratou muito, tinham 42 jogadores no elenco. E tem que mudar a mentalidade de achar que você tem que gastar pouco no Baiano e apostar tudo no Brasileiro. É apostar desde o início. O Vitória parece que não se impõe em certos momentos...O que mais me chateia é que o Vitória não encarou a mentalidade que ele é time grande. O clube tem que começar a se portar como time grande e pensar a longo prazo. Tem que montar um time para dois ou três anos. E a mudança para São Paulo. Se adaptou fácil à cidade? Os três primeiros meses foram insuportáveis, duro. Mas quando você começa a conhecer a cidade percebe que é extremamente cultural. Boas livrarias, restaurantes, shows. Tem muita variedade. Depois que eu aprendi os lugares, comecei a gostar.
E a torcida do Corinthians. São um bando de loucos mesmo?É impressionante. É relação de amor e ódio mesmo. Uma vitória não vale nada, mas uma derrota equivale a dez. Às vezes é uma pressão insuportável. No jogo, eles não param um minuto. A gente toma um gol e parece que é combustível para eles. Aquela música do Tim Maia que eles fizerama versão é de arrepiar. "A semana inteira, fiquei esperando pra te ver Corinthians, pra te ver jogando. Quando a gente ama, não mede esforço pra te ver jogar, te ver jogar". Comove o cara. Libertadores é obsessão?Para o torcedor, é. E por isso pra gente acaba se tornando também. Eu acho que esse ano vai ser melhor. Não tô dizendo que vai ser mais fácil,só que o Corinthians está começando a se familiarizar com a competição. Pra você ganhar, você tem que disputar com frequência. Tem uma hora que acerta. Com que jogadores você tem mais contato no clube?Graças a Deus lá eu sou querido. Quem eu ando é Paulo André, Fábio Santos, William e Ramirez. Tem os meninos mais novos que é o Nenê e o Eldinho que andam lá em casa direto. Minha mulher praticamente adotou eles. Teve a oportunidade de conviver com Ronaldo e Roberto Carlos. Como são no dia-a-dia?Gente boa. Ronaldo é um dos caras mais simples que eu já conheci. Foi um prazer poder participar desse tempo final dele e de jogar como Roberto. Quando a gente joga com eles a gente começa a entender porque foram vitoriosos. Eles cobram muito, exigem muito um do outro. Isso que faz o diferencial deles, de pessoas que ganharam tudo no futebol. Roberto Carlos tem cara de resenheiro.Pertubava todo mundo. Quando ele falava alguma coisa que eu não entendia e falava: Oi? Ele respondia: "Oi, prazer, Roberto Carlos, pentacampeão Mundial". Repetia isso o dia inteiro, era muito chato (risos). Conta uma boa história dessa dupla aí!A gente estava sentado na sala de espera, antes do treino começar no Parque Ecológico. O preparador físico apitou e chamou a galera. Aí aparece o Ronaldo de chinelinho, o Roberto Carlos vem lentamente, pega a chave e tranca a porta... Todo mundo levantou e ele falou: "Quem sair é traíra, quem sair cai". Todo mundo sentou de novo. Era o Ronaldo, né? O preparador físico ficou bem esperando uns 30 minutos. Foi logo na minha primeira semana, não conhecia ninguém ainda direito. Fiquei todo sem graça.
E Adriano? Está encaixado no Corinthians?Ele é diferente. Adriano não está na melhor forma porque a lesão dele no tendão foi séria. Batendo na bola é impressionante. O que diga as duas canetas que tomei dele no último treino do ano. Fui naquela vontade, tentei fechar as pernas, mas não deu tempo. Bati joelho com joelho e dei aquele migué, pra dizer que está sentindo.Ter um jogador desse nível no campo é bom. Você impõe respeito. Você teve a oportunidade de marcar Neymar? Ele é mesmo diferenciado?Já passei mal com ele. Contra o Santos, joguei de lateral-direito. Ele não fez gol, mas quando deu 15 minutos do segundo tempo eu estava com a língua no chão já... E ele correndo o tempo inteiro. É impressionante. Quando você pensa que ele vai cortar pra dentro, ele corta pra fora... Tem uma mobilidade incrível. Nunca marquei ninguém tão difícil. Pensa em seguir no futebol de que forma depois que encerrar a carreira?Quero ser um manager de futebol e dominar todas as áreas do clube. Tenho intenção de ser treinador, mas quero não ser só um treinador de campo. Quero dominar todas as áreas do clube. Tô estudando pra isso.
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