As batalhas de um lutador de vale tudo não acontecem apenas dentro de um ringue de MMA (Mixed Martial Arts - Artes Marciais Mistas). O dia a dia é o lugar onde a vitória exige mais suor do atleta. A grande luta de Cléber Samurai é encontrar tempo para viver o esporte que ama enquanto presta serviço à sociedade como Policial Militar. Esse ex-sparring de Popó tem é história para contar.
Aos 33 anos, George Cléber Moraes Lima divide a carreira policial com os treinamentos. Manter-se em forma para disputar competições é um desafio maior do que para maioria dos desportistas. Quando não está de uniforme, não há folga. É ir para academia tirar o atraso. "Eu consigo, hoje, conciliar. É difícil, mas eu consigo sem trazer transtorno para o meu serviço na polícia e também aqui na minha vida profissional no esporte", garante Cléber, que treina pelo menos três vezes por semana, seis horas por dia.
Cléber traz consigo um semblante de tranquilidade. Por permanecer sereno até durante as lutas, ganhou o apelido de Samurai. Policial Militar desde junho de 1997, ele ingressou na corporação quando já competia no boxe, primeira arte marcial que aprendeu quando ainda tinha 11 anos. "Eu comecei como refúgio para infância pobre, quando ficava à toa na maior parte do tempo. Também precisava me defender. A galera brigava muito na rua", explica.
Competir mesmo só a partir dos 15 anos, mas aí, Cléber, que ainda não era Samurai, já vivia o boxe de outra maneira. "Percebi que minha vida é isso, me sinto bem". Com apenas 20, o filho de Nilda Moraes Lima e João Bosco Moraes Lima, que abandonou a família, vestiu o uniforme da PM pela primeira vez. "Eu sempre achei que o esporte me ajudaria dentro da minha vida profissional na polícia", relembra.
Apesar de lutar desde a adolescência, o Samurai soteropolitano nunca contou com a torcida da mãe ao lado do ringue. "Minha mãe não gosta e nunca viu uma luta", conta Cléber, que tem o apoio necessário dentro de casa: a esposa Ana Claudia e o filho Ryan Santos, de quatro anos. No esporte, a inspiração também está por perto. O triatleta Fred Moraes Lima é irmão e grande incentivador. Parceria que se estende a outro irmão, o Fabrício Moraes, que ajuda Cléber nos treinos.
Vida dupla... e dura
A última luta do Samurai está perto de fazer aniversário de um ano. Ele não compete desde maio do ano passado, pois a agenda nem sempre favorece. "Tenho que me organizar para as previsões de luta, saber se estarei trabalhando ou não. O que é que eu faço? Combino com os colegas de trabalho para a gente permutar. Os colegas sempre me ajudam", diz Cléber.
Mas e aí, quando será a próxima chance de subir em um ringue? "Tem o WFE em maio e eu vou lutar", revela o atleta, que é treinado por Leônidas Gondim. "Ele é uma grande pessoa, nunca teve problema nenhum e é um ótimo lutador", elogia o mestre, que é dono da academia onde Cléber Samurai pratica golpes de boxe, jiu-jitsu e muay thai juntamente com outros atletas e o personal Rhobson Paixão, mais conhecido como Jacaré. Samurai adianta que ainda tem confronto marcado para abril, em São Paulo.
Popó "apanhou" dele
O lutador baiano Acelino "Popó" Freitas, campeão mundial nas categorias super-pena e peso-leve, já foi vítima dos golpes de Cléber Samurai. Na verdade, não é para tanto. É que o agora lutador de MMA foi sparring de Popó na academia onde o ex-pugilista "mão de pedra" treinava na Baixa de Quintas.
Sparring é o pugilista que auxilia no treinamento de um outro pugilista. Geralmente, os lutadores começam a carreira sofrendo com os golpes do veteranos, mas Cléber garante que não foi bem assim. "Bati e apanhei. "Apanhei dele, mas bati muito".
VEJA VÍDEO DA VITÓRIA DE CLÉBER SAMURAI SOBRE ANDERSON DEDO
Histórias de um lutador
A vida dividida de Cléber Samurai guarda momentos curiosos, que ele mesmo conta para gente:
"Um rapaz saiu de um bar na Avenida Pinto de Aguiar dizendo que não ia pagar a conta. Um colega e eu passávamos na frente do local na ronda e o dono nos chamou. Abordamos o rapaz exaltado com as armas em punho e tentamos conversar. Quando eu guardei a arma, ele partiu para cima de mim e eu o imobilizei. A vontade comum das pessoas em um momento como esse é de agredir o outro, mas a disciplina das artes marciais me ensinou a me controlar e apenas o segurei até a chegada de um parente dele. Depois, descobri que ele era filho de um juiz. Se eu tivesse agredido, poderia me dar mal".
"Uma vez eu fui disputar um Grand Prix de até 65kg. No GP, a gente luta mais de uma vez caso avance. Ganhei a primeira luta e perdi a segunda. Só que eu apanhei muito e precisava ir trabalhar após o torneio. Eu fui, mas estava todo acabado. Cheguei no trabalho mal e deixei o comandante irritado. Ele viu que eu não tinha condições de ficar lá e me liberou".
Tá na pele
Cléber Samurai vive uma luta diária para continuar competindo. São 22 anos dedicados ao esporte e dez de MMA, sendo que ele disputa torneios profissionais há oito anos. Já lutou no WFE, Minotauro Fight, Prime, entre outros. Na soma, foi campeão de vale tudo cinco vezes. Só que o sustento vem do trabalho como policial e a história de George Cléber Moraes Lima na corporação tem 14 anos. Esforço a todo momento. Policial, lutador, pai, esposo, irmão, filho... Ele segue à risca aquilo que tatuou no corpo. "Até a morte. Desistir nunca".
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