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Morosini: morte aos 25 anos em partida na Série B da Itália |
Em 2004, a morte do zagueiro Serginho, do São Caetano, num jogo contra o São Paulo, chocou o país. No ano anterior, o camaronês Foe também morrera num jogo de sua seleção contra a Colômbia, na Copa das Confederações. A última vítima nos gramados foi o italiano Morosini, que morreu no dia 14 quando jogava pelo Livorno contra o Pescara, pela série B italiana. O jogador, de 25 anos, tinha passagens pela seleção sub-21.Nos três casos, um infarto fulminante determinou a morte. Desde então, inúmeros casos semelhantes fazem pensar sobre o que poderia levar um atleta, sinônimo de pessoa saudável, à morte repentina. Especialistas concordam que as mortes sempre foram rotineiras, a divulgação é que teria aumentado. Faltam dados precisos para quantificar o avanço das vítimas de mal súbito no esporte, mas é possível afirmar que a exigência física dos atletas de hoje contribui para aumentar a estatística.O cardiologista Nivaldo Filgueiras explica que, abaixo dos 35 anos, se não há uma anomalia congênita, a causa mais plausível da morte súbita é a cardiomiopatia hipertrófica. O fenômeno, também chamado de ‘coração do atleta’, pode ser resumido como a hipertrofia do septo ventricular, que provoca o crescimento do músculo cardíaco ao ponto de provocar um colapso.A outra explicação para um infarto num organismo de atleta seria a doença coronariana, mais comum em indivíduos acima dos 30 anos, provocada pelo acúmulo de gordura nas artérias. Um exemplo de quem teve cardiomiopatia hipertrófica foi o atacante Washington, que passou por uma cirurgia cardíaca e, mesmo com diabetes, voltou a jogar. “Ele assumiu o risco de morrer em campo”, afirma Nivaldo Filgueiras. O médico atenta ainda para as causas que levam à elevação do colesterol ruim, o LDL.“A alimentação responde por apenas 30% do colesterol; 70% é o próprio organismo que produz”, esclarece. O caminho para prevenir episódios extremos é a avaliação médica mais completa.“Os atletas estão mais próximos do limite, por isso precisam ser melhor avaliados”, diz Filgueiras. O também cardiologista Raimundo Hespanha realiza testes ergo-espirométricos - com avaliação do coração e do consumo de oxigênio - e percebe um aumento na procura pelo exame toda vez que há um caso novo de morte súbita. Mas nem toda anomalia pode ser detectada. “Algumas alterações só aparecem no cateterismo. Cinco por cento todas mortes súbitas não têm a causa detectada nem na necrópsia”, pondera, citando o caso de Morosini, que foi enterrado sem que se soubesse o que provocou a parada cardíaca.
Natureza - Hespanha também adverte sobre o risco de atletas que se submetem a cirurgia e voltam a competir.“O risco do atleta operado é maior. Nada que a gente faz é igual à natureza”. O cardiologista destaca que, além da estrutura do clube para a avaliação mais completa possível, é preciso uma responsabilidade maior do próprio atleta.“Muitas vezes, o atleta negligencia os sinais, não conta para a família nem para o treinador, com medo de ser afastado”, destaca. Hespanha cita tontura, falta de ar e palpitação entre os principais avisos de problema. E acredita que a carga de treinamento não pode ser apontada como motivo pro desenvolvimento de alterações no funcionamento do coração.
Miocardiopatia abreviou a carreira de Bebeto CamposPoucos meses depois do zagueiro Serginho, do São Caetano, sofrer um infarto em campo, em outubro de 2004, o meio-campista Bebeto Campos, com passagens por Bahia e Vitória, teve uma miocardiopatia hipertrófica diagnosticada no Paysandu e teve que encerrar a carreira aos 30 anos. Hoje, aposentado, ele joga apenas por lazer.
Vôlei também tem casos de morte; brasileiro assustouNa quarta-feira passada, o oposto da seleção brasileira de vôlei Leandro Vissotto se sentiu mal durante um jogo do Cuneo, da Itália, com arritmia. Duas mortes foram registradas no vôlei este ano. O italiano Bovolenta, 37 anos, morreu na quadra em março e, na última semana, a venezuelana Verónica Gómez, 26, sofreu parada respiratória.
Renato, do Flamengo, operou e já jogouNo dia 5 de março, uma bateria de exames para renovação do seguro-saúde do meia Renato Abreu, do Flamengo, acendeu o sinal vermelho para o jogador. O teste ergométrico apontou uma arritmia mais grave, que necessitava de correção. Renato foi, então, submetido a cirurgia e voltou a jogar no dia 15. No domingo passado, entrou também no segundo tempo, durante a derrota pro Vasco. Para o jogador, o período parado foi de muita incerteza. “Foi um momento que realmente me fez pensar em parar de jogar”, disse Renato.