Primeiro se foi a Fonte Nova. Junto com ela, acabou a torcida mista. De lambuja, preço de ingresso agora é R$ 40, quando não R$ 50. E se pode piorar, por que não? Importamos mais uma: rival agora só tem direito à gorjeta. Cota de apenas 10% do cimento vermelho e preto destinada aos tricolores neste domingo e revide anunciado do Bahia no clássico de Pituaçu, exatas duas semanas depois. Nesse regresso “explicado” pela tal setorização das arquibancadas de Barradão e Pituaçu, a tradição baiana da boa convivência e da sonora competição pra ver quemfaz a melhor festa entre as torcidas é ferida de maneira brutal.
Como bem escreveu Angelo Paz na edição de ontem, nem parece Ba-Vi. Pergunto aos envolvidos no nosso futebol: quem ganha com isso? Bahia e Vitória? Não. Federação? Não. Jogadores? Nada. Juro que fiz um esforço. Ok, vá lá, torcedores? Também não - pelo menos a maioria que vai na paz e tem espírito esportivo para aguentar gozação. Mas deixa quieto. Afinal, tem solução. Se os 3.500 ingressos para a torcida tricolor acabarem, basta o sujeito ir sem a camisa do Bahia que, aí sim, poderá sentar tranquilo em qualquer parte do Barradão. Parece brincadeira, mas tem respaldo de promotor de Justiça, como o leitor pode ver na página 34. Novos tempos.
No dia 20, os rubro-negros farão o mesmo após comprarem toda a gorjeta. A conta fica paga, mas uma geração de torcedores crescerá cultivando princípios de separação e hostilidade, sem falar que não sentirá o doce sabor de ir ao estádio acompanhado dos amigos que vibram pelas outras cores do clássico.
Como se fosse natural e perfeitamente aceitável receber mal os visitantes em nossas casas. Não é. Ou pelo menos não deveria ser. Mas tudo na vida geralmente temum lado positivo e, depois de tanto castigo, se a próxima geração torcer por Bahia ou Vitória já será uma boa. Rodei na Rua Corpo Santo, aquela no Comércio, cheia de loja onde se acha tudo de material esportivo, e vi que já não é bem assim. Time de botão pra uma criança de 6 anos se iniciar na arte de ser craque da bola preta, daquele levezinho, sem ser de acrílico, não tem do Bahia nem do Vitória.
Qual será o destino clubístico do filho de Andreza sempoder dar vários dribles imaginários com Ávine e Bida ao toque de uma unha ou palheta? A resposta pode estar ao alcance das mãos, na prateleira do supermercado. Lá, tricolor é o São Paulo de Rivaldo e rubro-negro, só o Flamengo de Ronaldinho mesmo.
*Herbem Gramacho é sub-editor de Esporte e escreve durante as férias do editor Eduardo Rocha. Coluna publicada na edição imprensa do Correio* do dia 4 de fevereiro de 2011
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