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Presidente da FEBAM rebate Projeto que quer proibir MMA na TV

Ricardo Serravalle, presidente da Federação Baiana de Artes Marciais, aprofunda o assunto para defender a prática esportiva

• 20/09/2013 às 14:54 • Atualizada em 27/08/2022 às 15:16 - há XX semanas

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Tramita na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (55.344/09) que quer proibir as emissoras de televisão de transmitirem lutas marciais não olímpicas. A norma inclui o Ultimate Fighting Championship (UFC), principal torneio mundial de MMA, com 1 bilhão de espectadores em todo o mundo, segundo a Comissão Atlética Brasileira de MMA. Caso aprovado, campeonatos de artes marciais mistas (MMA) não poderão ser veiculados no país. O Projeto já foi debatido e aguarda parecer de outras comissões da Câmara dos Deputados.
"É importante tirar essa luta da TV, porque a única lição que ela propagandeia é a violência. São golpes violentos, joelhadas, golpes violentos no rosto e onde o sangue é o suor, como dizem aqueles que gostam do MMA", diz o deputado José Mentor (PT-SP), autor do Projeto. Em defesa das artes marciais mistas, Ricardo Serravalle, presidente da Federação Baiana de Artes Marciais e Esportes de Combate, se aprofundou no tema para explicar as origens do esporte e por que ela é mais do que violência na TV. Leia maisProjeto de lei quer proibir transmissão de lutas de MMA no Brasil"Exmo. Sr. Deputado José Mentor (PT - São Paulo),Percebo que pouco conhece sobre Artes Marciais, e não caberia a mim julgar a vossa atitude no que tange o referido Projeto de Lei (PL) 55.344/09 em trâmite que visa proibir as redes de televisão de transmitir eventos de Artes Marciais ou Esportes de Combate não olímpicos, entre eles a Mistura de Artes Marciais ou MMA, alegando V. Ex.ª. uma violência gratuita e explícita que poderia estar incitando os nossos jovens a cometer atos violentos. De certo para um leigo, as imagens de socos e ponta pés pode, inicialmente, sugerir uma imagem de violência explícita e sem fundamentos, no entanto, permita-me tomar um pouco do teu tempo para discorrer sobre o que está por trás desta gestualidade que parece confusa aos teus sentidos.Primeiramente gostaria de passar o conceito: Artes Marciais, a palavra “Marcial” é referência ao deus grego Marte que significa “Guerra”, portanto, a definição ao pé da letra seria “Arte da Guerra”. É fato que desde os primórdios da vida em nosso planeta já havia a guerra em um aspecto ainda muito rudimentar, também podendo ser chamada de “Lei da Sobrevivência”, onde a defesa pela vida, além de técnicas de caça e ataque para conquistas de territórios já começavam a ser implementadas no instinto e subconsciente dos seres vivos.A Arte Marcial pode ser dividida em dois conceitos básicos, um seria o Bujutsu que, neste caso, é o que parece saltar aos olhos de V. Ex.ª e nos de grande parte de pessoas ainda ignorantes no que diz respeito aos conhecimentos marciais. O Bujutsu seria a parte técnica das Artes Marciais, os golpes, sua execução, assertividade e consequências. Para este aspecto acredito não ser necessário aprofundamento, pois, é mais raso e pode ser notado por qualquer um. O segundo aspecto e o mais importante trata-se do Budo, ou como preferir, “O Caminho das Artes Marciais”, para tanto, irei me aprofundar um pouco mais.Com o passar dos anos o homem foi tomando mais consciência acerca de si mesmo e do mundo que o cerca. O Oriente, grande berço das Artes Marciais, também é um fortíssimo concentrador de diversas religiões e filosofias que a milênios se propagaram pelo mundo pregando principalmente a compaixão, a não violência e o autoconhecimento. Daí vem a história que remonta ao início do século V com a chegada do monge budista indiano Bodhidharma ao Templo Budista Shaolin do Norte, na China, e seus ensinamentos de Artes Marciais ao Monges do Templo que, posteriormente, tiveram um papel decisivo na propagação das Artes Marciais pelo mundo. Desta forma, Artes Marciais e religião, apesar de aparentemente e, em um primeiro momento, parecerem antagônicas no princípio da não violência, se fundiram e assim o homem pôde mergulhar mais profundamente em seu próprio universo.Como dito anteriormente a Arte da Guerra nos primórdios da humanidade foi necessária e primordial para a construção do nosso mundo e evolução das espécies. Posteriormente, os Grandes Mestres Orientais imbuídos de maior consciência percebem que a verdadeira Arte Marcial, não era baseada apenas na Guerra Externa, mas principalmente na Guerra Interna, aquela travada dentro de nós mesmos entre o nosso aspecto, a guerra entre o ego e a ausência, entre a ira e o amor, entre a paz de espírito e a violência interna, entre o bem e o mal que reside em cada um de nós. E essa guerra, definitivamente é a maior e a mais importante de todas. Muitos questionam qual a missão do homem na terra, mas de fato, há muitos e muitos anos, os Grandes Mestres já sabiam a resposta, a grande missão do homem é vencer a sua Guerra Interna, é vencer e domar a sua própria mente. Neste ponto, para maior entendimento da significância atual das artes marciais como aspecto de educação para os jovens, seja através da prática de artes marciais como o tradicionalíssimo Karatê (esporte não olímpico diga-se de passagem) e que o referido projeto visa também vetar, seja do MMA, é necessário explanar sobre mais um conceito.Os Grandes Mestres nos ensinaram que o ser humano é basicamente composto de três aspectos primordiais, quais são: corpo, mente e espírito. Desta forma, para unidade e completude os três devem estar em completa harmonia, com este conceito Bodhidharma convenceu os monges Shaolin a adotar as artes marciais como forma de fortalecer o corpo, adestrar a mente e, finalmente, alcançar o espírito (ou iluminação). “As Artes Marciais são o micro dentro do macro”. Para esta frase, se me permite, peço de V. Ex.ª uma profunda reflexão.O Dojo (local de treinamento) é tido pelos artistas marciais como um ambiente sagrado, neste “Templo” de ambiente controlado aprende-se não só a cair, mas como cair (não sei se entende a profundidade disso), aprendemos a nos reerguer diante de derrotas, a respeitar o adversário que ali está disposto não só a nos vencer, mas principalmente a nos ensinar, afinal, aprendemos que quando nos expomos estamos na verdade compartilhando. No Dojo, aprendemos a vencer nossas dificuldades, a lidar com dor, a engolir a arrogância, a manter a xícara sempre vazia para novos conhecimentos, aprendemos o respeito, a moral e a ética tão em falta no mundo atual e, principalmente nos corredores deste mesmo Congresso tão frequentado por V. Ex.ª.No ambiente em que vivem esses atletas que trocam socos e chutes existe por trás histórias lindíssimas de resgate de vidas que estariam definitivamente perdidas para a real violência fosse o escasso e hilário apoio e programa político do nosso país ao esporte. V. Ex.ª, a maior violência não é aquela provocada pelas lutas no ringue e sim pela corrupção que traz consigo essa desigualdade social que é o principal motivo da Guerra Urbana que vivemos, a falta de esperança e de princípios primordiais de uma sociedade como saneamento básico, moradia, saúde, segurança, trabalho e lazer.A violência está impregnada nas mídias de nosso país e que invadem as casas dos brasileiros onde 95% de sua programação só dão espaço para os aspectos ruins de nossa sociedade. A violência está nas novelas onde o filho mata o pai, onde o erotismo é banalizado em todos os horários, onde os mocinhos das histórias, aos quais nossas crianças criarão referência são promíscuos e gananciosos. A maioria de nós tem o péssimo hábito de julgar as coisas pela forma e não pelo conteúdo, e nos aprofundamos ainda mais no erro quando queremos legislar sobre coisas que não temos o mínimo de domínio ou conhecimento, desta forma, convido a V. Ex.ª a conhecer um dos nossos Dojos e discutirmos um pouco mais sobre os aspectos marciais, de certo haverá um Dogi (Kimono) o aguardando juntamente com uma faixa branca, mas não se preocupe, o tatame é macio e a queda será amortecida.Cordiais saudações. Oss.Ricardo Serravalle Guimarães Presidente da FEBAM - Federação Baiana de Artes Marciais e Esportes de CombateA maior violência é a ignorância"

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