Impossível dizer que a diretoria do Bahia errou ao dispensar Jael. Dá sim pra questionar por que o clube é profissional só quando convém. Ou será que o caso Jael mostra uma linha de amadurecimento? O atacante foi mandado embora após dar um soco - pelas costas - no gerente de futebol, André Araújo, que pediu demissão. Mas já não interessava desde a Série B.
O Bahia nunca tentou renovar o contrato que terminaria em maio, mesmo após os assédios de Grêmio e Vasco, pois o via como um vaga-lume: brilho e escuridão. Eram muitas juras de amor, envoltas por infidelidade. Começar a relação já foi difícil e aconteceu após foras de Cruzeiro, Atlético-MG e Goiás. Dar um tempo foi fácil, com esticada pra Suécia. E o clube cansou de ser mulher de malandro. Ao menos com Jael.
A repercussão é enorme pelo que Jael representa para a torcida. Quem está na arquibancada se envolveu pelos gols, pela dedicação em campo, pelos elogios nas entrevistas e por uma ou outra provocação do Cruel. Jael nunca se omitiu. E a torcida respeita quem dá a cara. Pelo que representa para quem vai ao estádio, Jael poderia ganhar uma nova chance. Seria como perdoar um filho. Mas um filho que não é você quem cria, que você só vê duas vezes na semana.
Seria um estrago para a gestão. Talvez desse certo a médio prazo, com Jael fazendo gols e sendo acompanhado em paralelo para crescer como atleta e homem, com títulos. Tudo fortaleceria ainda mais a imagem do ídolo, do cara que dá a volta por cima, do jogador que faz nossos sonhos serem reais.
Jael resgatou na torcida as lembranças de Beijoca. Um atacante que arrumava confusão em velocidade inferior apenas à que tocava os corações tricolores. Beijoca era em estado puro o que o torcedor que se lasca a semana toda no trabalho e sofre para sentar na arquibancada queria ser. Era a antítese do ídolo mocinho.
Os jovens perdoam Jael porque se identificam com ele. Quando jovens, somos revoltados, irriquietos, às vezes transgressores, sonhamos em mudar o mundo. Alguns mais velhos se identificam por recordar época de aventuras, época em que iampra Fonte Nova ver Beijoca. E cantar: "Eu quero ver Beijoca jogando bola, eu quero ver bola Beijoca jogar". A Fonte Nova vinha abaixo. Beijoca levava os tricolores ao céu.
Mas não dá pra apagar que Jael errou e que o Bahia não tinha obrigação alguma de passar a mão na cabeça. Beijoca é um caso de sucesso, é onde a emoção deu certo. Mas nos últimos anos, o Bahia teve justamente os irresponsáveis que não resolvem. A diretoria entendeu que não conseguiria conter Cruel, o rompedor de defesas e regras. Admitir as próprias fraquezas também é forma de evoluir. O Bahia ainda não está preparado para ter ídolos. Pelo menos daqueles que nos fazem perder o chão.
*Marcelo Sant´Ana é repórter especial e escreve às quintas e
domingos. Coluna publicada na edição do Correio* do dia 3 de fevereiro
de 2011
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