Vejam como o boxe tem algo a ensinar ao futebol. Não precisava ser de 5x0 a pior derrota de um time da Bahia em 23 edições da Copa do Brasil. Pior que o placar foi beijar a lona tão cedinho. Um clube que tem o nome e as cores do nosso Estado! Inaceitável, Bah ia! Agora, resta descontar no Vitória. Se fosse boxe, bastava o bom prof. René Simões jogar a toalha bi-estrelada ao gramado, quando ficou 3x0. Ali, o Bah ia já estava batido, nocauteado, entregue. Nosso time de elite sangrava, gemia, pedia pra ligar 192.
Um time com falência múltipla não precisa fazer sua torcida sofrer mais, desliguemos aparelhos da UTI já. Nos 4x0, veio a Divina Misericórdia: a liberada eutanásia. E ainda era o primeiro tempo. Bendito espírito da Páscoa: a piedade tocou o coração de Adailton e seus colegas. E olha: agradeça ao Senhor do Bonfim que foi só de cinco. Podia ter sido 6x0: teve bola no travessão. E se é Bayer, é de boa. Cristãos rubro-negros (essas cores...) seguraram a espada justiceira... Podia ter sido 7x0, 8x0, 9x0... 10!?
E ainda querem que o torcedor mande mensagenzinha pra levantar moral? 'Mi-ajudi', o tricolor é algum mané? Cardápio indigesto na Semana Santa, quando o costume é comer peixinho e chocolate. O banquete veio como sinal para lembrar: o bom árbitro não permite benefícios. Preocupante para o futuro na Série A. Mas é preciso entender o Bahia. Há quanto tempo não enfrentava o Atlético, time de elite? Em oito anos, a gente desaprende. É preciso readaptação. Dar tempo ao tempo. Não há motivo para alarme: o Bahia não perde as estrelinhas, nem que tome de 20.
E tem o imponente padrão da Espanha campeã mundial. O foco do Bahia é a Série A, e não o Campeonato Baiano. Uma eliminação agora daria até mais um tempinho para o Bahia treinar forte e se preparar direito a fim de evitar outros atléticos humilhantes quando a bola rolar na elite. O Bah ia tem tanto título estadual que nem precisa mais. Mas o tricolor quer mesmo é cantar: 'Chore na minha!'. O coro é afinado: 'segundá-lalaiá'! Até os subterrâneos do futebol baiano voltaram: já tem torcedor tumultuando treino na Toca. Imagina se o delegado abre o Barradão...
Não importa o martírio de Curitiba, vale o regulamento retrô, como ocorria até 1988: o Bah ia perdeu pro Serrano, Camaçari, Bahia de Feira, Fluminense, Atlético, tomou 3x0 do Vitória, empatou com Feirense e Ipitanga... faltou algum? E ganhou um monte de ponto na manha... Chega à semifinal com 12 pontos a menos que o Vitória e ainda pode decidir. Parece 1975 ou 1961, mas é 2011. Vale tudo pra ser campeão: último título foi em 2002.
Difícil é vencer a Justiça do Deus rubro-negro, que o leitor José dos Santos invoca, adaptando, na fé, nosso poderoso Salmo 91: "Mil cairão ao teu lado, 10 mil à tua direita, mas tu, Leão dos baianos, não serás atingido".
Paulo Leandro é Secretário de Redação e escreve aos sábados. Coluna
publicada na edição impressa do jornal Correio* do dia 23 de abril de
2011
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