À noite, o lanche preferido de Vampeta no alojamento da base era manga verde com sal. Funcionava quase como um ritual de amizade formar o círculo para cortar a fruta com canivete e comer.
Os moleques sentavam pelo caminho entre o alojamento e o Perônio, campo de terra batida muito usado pelo Vitória entre as décadas de 1980 e 90. Ali surgiu uma geração maravilhosa: Alex Alves, Bebeto Campos, Dida, Júnior e Paulo Isidoro, este o mais acostumado com o apetite do colega, pois dividiram quarto muitas vezes desde o juvenil.
Marcos André Batista Santos nasceu dia 13/3/1974, em Nazaré das Farinhas, Recôncavo baiano. O apelido veio na infância ao começar a tirar os dentes. Uns diziam que parecia um vampiro. Outros, feio como o capeta. A soma: Vampeta.
Sempre foi extrovertido. No final da década de 80, o Banco Econômico pagou o transporte para Bahia e Vitória disputarem competição amadora. Viajaram no mesmo ônibus. "Tinha aquela rivalidade e estava um silêncio até ele ir de um lado pro outro. Puxava conversa mesmo sem intimidade", recorda, aos risos, Newton Mota, então diretor tricolor.
Àquela época, Vampeta era ponta-direita. O médio-volante do time foi Jair até o diagnóstico de leve problema cardíaco. "A gente já era muito cuidadoso e, em decisão com Ivan (Carilo, médico do clube), dispensamos Jair que, anos depois, virou atacante como Jajá", lembra o ex-presidente Paulo Carneiro. Jajá, três gols em Bahia 4x1 Flamengo, na Copa João Havelange.
Trocou a ponta-direita pelo meio. Em 1992, quando começou a conviver com o profissional, um ídolo rubro-negro virou seu padrinho. Fim dos treinos, Arturzinho cruzava bola na área para o garoto da base melhorar a finalização. "Se você tivesse meu tamanho, ia ser um jogador retado", dizia Vampeta, lembra Carneiro.
Embora brincalhão, mantinha a linha nos treinos. Uniforme dentro do calção e bigode ralo bem cuidado. Assim, mesmo reserva de Gil Sergipano e Roberto Cavalo na campanha do vice-campeonato Brasileiro de 1993, foi quem se deu melhor. O holandês PSV seguia Alex Alves há meses e enviou técnico para vê-lo e fechar a contratação. Em uma semana na Toca, achou Alex desleixado demais, e se encantou por Vampeta. Aliás, Van Peta, como escreveram alguns jornais europeus.
Entre 1996 e 2002, título Holandês e duas copas pelo PSV, dois Brasileiros, uma Copa e um Interclubes pelo Corinthians, uma Copa América e o penta pelo Brasil.
O sucesso potencializou o lado provocador. No Flamengo: "Eles fingem que me pagam; e eu finjo que jogo". Sobre o São Paulo: "Já ganhamos de todo mundo. Agora só falta passar por cima dos bambis" – esta após ver Kaká e Júlio Baptista em sorveteria.
Em Nazaré, bancou a restauração de cinema, doou ambulância e foi padrinho da parada Gay, meses após posar nu em revista para o público gay. Estimulado pelo amigo inseparável Edilson, foi empresário de bandas de pagode. Com o Capetinha, também se envolveu com boiada. Ou roubada. Perdeu R$150 mil em golpe do grupo Fazendas Reunidas Boi Gordo, descoberto em 2004 após lesar jogadores, artistas e empresários. O baque não fez Vampeta perder o riso. Foi como disse após dar cambalhota na rampa do Palácio do Planalto, em visita ao presidente Fernando Henrique: "Sou campeão do mundo. Entrei pra história".
VOTO A VOTO
Vampeta (4)
Alvinho Barriga Mole, Paulo Leandro, Paulo Carneiro e Luciano Santos
Bigu (3)
Alexi Portela Filho, Beto Silveira e Mário Silva
Juarez (2)
André Catimba e Vovô do Ilê
Pinguela (2)
Carlos Libório e Bougê
Gago (1)
João Ubaldo Ribeiro
Edmundo (1)
Sinval Vieira
Bebeto Gama (1)
*Rodrigo Vasco da Gama não escalou volante no Time dos Sonhos
*Matéria publicada na edição impressa do jornal Correio do dia 30 de janeiro de 2011
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