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Travestis podem participar da Olimpíada 2016 como voluntárias

Ideia é escolher 12 mil voluntários para as quatro cerimônias que ocorrerão no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã

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20/02/2016 às 14:09 • Atualizada em 01/09/2022 às 10:43 - há XX semanas
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A carioca Esther Morgannah está animada com a possibilidade de ser escolhida como uma das 12 mil pessoas que atuarão como voluntárias nas cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada e Paralimpíada Rio 2016.
Ex-aluna do Projeto Damas, de capacitação de travestis e transexuais do Rio de Janeiro, ela espera ansiosa pela seleção que fará no próximo sábado (27). “Nós vamos apresentar o nosso trabalho e mostrar que nós existimos como transexuais e que estamos participando das cerimônias como mulheres trans para sermos aceitas, independentemente da nossa condição.”
Assim como ela, todas as 30 alunas da última turma do curso de capacitação se inscreveram para participar das audições propostas pelo Comitê Organizador dos Jogos.
Esther acredita que esse tipo de oportunidade pode dar mais visibilidade às transexuais e ajudar a acabar com o preconceito. “As travestis e transexuais podem trabalhar, estudar, ter alguém, podem apresentar shows e dar o melhor de si”, afirma. Ela faz trabalhos freelancer como cabeleireira, mas pretende terminar a faculdade de direito e a licenciatura em geografia para poder lecionar.
Foto: Divulgação
Também aluna do projeto, Alessandra Lira define a oportunidade de participar como voluntária na Olimpíada deste ano como algo “muito especial, maravilhoso”. Ela aguarda o contato da organização dos Jogos para saber quando participará da seleção, mas diz estar confiante. “As pessoas da comissão que fizeram as nossas inscrições deram uma confiança tão grande para a gente. Estou confiante, sim, que vai dar tudo certo”.
Cabeleireira profissional, Alessandra tece elogios ao projeto de capacitação da prefeitura do Rio e destaca a importância das noções de empreendedorismo que recebeu durante o curso. Para o futuro, ela diz que pretende se inscrever como microempreendedora individual e abrir um salão de beleza no bairro de Pilares, na zona norte, onde mora. Ela quer também terminar o ensino supletivo no qual está matriculada.
Seleção
A primeira rodada de audições para seleção de voluntários para as cerimônias de abertura e encerramento da Olimpíada e Paralimpíada de 2016 foi feita em novembro do ano passado.
A ideia é escolher 12 mil voluntários para as quatro cerimônias que ocorrerão no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. Não é preciso ter habilidade específica para se inscrever. A única exigência é que o candidato seja maior de 16 anos. Segundo a equipe de elenco das cerimônias, a ideia é mostrar a diversidade brasileira. A pedido do Comitê Organizador dos Jogos, o coordenador do Projeto Damas, Carlos Alexandre Neves Lima, organizou um encontro com a última turma do curso, em janeiro passado. Durante a reunião, a comissão apresentou o planejamento e várias alunas fizeram inscrições para serem voluntárias. Lima disse que as alunas ficaram “bastante entusiasmadas” com a possibilidade de se apresentarem. “Foi além das expectativas. Teve fila para as inscrições”.
Projeto Damas
Mais do que capacitar travestis e transexuais para o mercado de trabalho, o Projeto Damas se destina a recuperar a autoestima e a ajudar na inserção social dessas pessoas. De acordo com o coordenador do projeto, elas costumam ser excluídas da sociedade muito cedo, a maioria ainda na época da escola, onde sofrem constante bullying.
“Essa inserção social é um mecanismo para aproximá-las da escola, de prepará-las, de alguma forma, para o mercado de trabalho para estarem aptas a concorrer com os demais cidadãos e terem os mesmos direitos”, afirmou Lima.
No curso, elas podem participar de oficinas de informática, educação, empreendedorismo, orientação vocacional, fonoaudiologia, prevenção e redução de danos à saúde, noções de direitos humanos, cidadania, entre outras.
Ainda segundo Lima, mais de 90% das alunas estão na prostituição e querem sair desse ambiente. “Elas são obrigadas a se prostituir porque ninguém dá trabalho”, disse.
Apesar de o projeto não garantir vagas no mercado de trabalho, Lima afirma que são criados meios para que elas tenham autoestima, condições de segurança e mecanismos de informação para poderem entrar no mercado.
O coordenador destaca que, de forma geral, as travestis e transexuais não contam com estrutura socioeconômica. “A família não acolhe, trabalho é difícil. Elas têm muita dificuldade de ter uma estabilidade, seja econômica ou social”.
Para ajudá-las a sair desse ciclo, o projeto criou um grupo fechado na internet no qual as ex-alunas mantém contato e são divulgadas oportunidades de emprego e estudo.
Cada turma reúne 30 alunas que frequentam seis meses de aulas teóricas e três meses de vivência profissional. Elas fazem estágio em órgãos municipais conveniados, onde há hierarquia e horário, e a maioria dos funcionários é heterossexual.
Desde que a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, ligada à prefeitura do Rio de Janeiro, foi criada, em 2011, já foram organizadas seis turmas do projeto. Para este ano, a expectativa é abrir mais uma turma.

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